A educação da grande maior parte dos jovens está a ser baseada na competição e na ideia errada de que têm que ser os melhores. Tanto no seio familiar como nos meios escolares se observa a falha grave e profunda na educação, e a prova disso é o estado social de todo o nosso planeta!
As sociedades actuais são extremamente competitivas. A competição gera pressão e medo, a pressão de ser o primeiro ou o melhor e o medo de não o conseguir ser.
Educar um ser humano é um processo delicado e de imensa responsabilidade. A educação poderá ser benéfica e produzir seres humanos bons, justos e felizes, ou poderá ser desastrosa e produzir seres humanos errantes e propagadores de infelicidade. O que queremos nós afinal? Um planeta de paz e justiça, ou um planeta de miséria e infelicidade?
Temos que analisar profundamente esta questão no nosso interior, pois ela está na base de todas as nossas acções. Diz a tradição que a melhor forma de educar é dar o exemplo. Se quero o bem e observo em mim esse desejo ardente, então as minhas acções deverão reflectir esse desejo. O pensamento a palavra e a acção deverão ser como uma linha recta e firme, deveriam ser coerentes entre si. Facto é que a maior parte seres humanos, jovens, adultos e idosos vivem divididos interiormente, logo vivem infelizes. Esta divisão vem da falta de coerência entre o que pensam, o que dizem e o que fazem, sendo perfeitamente compreensível e aceitável o comportamento estranho, violento e triste de tantos seres humanos por esse mundo fora. Os seres humanos precisam de orientação e de educação justa e verdadeira para serem felizes e completos, e se o forem as suas acções serão nobres, inspiradoras e repletas de amor.
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Os sistemas educativos e religiosos não estão a ter eficácia no que diz respeito à educação do ser humano e a levar o homem até á realização do divino. O homem carece de sistemas educativos eficazes, ou pelo menos carece da sua utilização. Estas carências provocam o aparecimento de inúmeros sintomas. O aumento da violência e o aumento do medo e da ansiedade são alguns desses sintomas. Por outro lado, mesmo aqueles que se dizem bem sucedidos nesta sociedade sentem uma profunda insatisfação combinada com um desejo de obter mais bens materiais. Vão satisfazendo inúmeros desejos e quantos mais satisfazem mais querem satisfazer, ignorando completamente que este ciclo vicioso não trás felicidade.
O ser humano procura o prazer e a segurança e extrai daqui muitas vezes o sentido de viver. Ora o prazer e a segurança são passageiros e não duram para sempre, e sempre que a sensação de segurança desvanece, o medo, a ansiedade e a infelicidade reaparecem. Sempre que o prazer acaba começa o apego ao prazer, logo mais infelicidade.
Os sábios do período védico sabiam muito bem que a alternância entre o prazer e a dor (sukha e duḥkha) são um ciclo e deixaram-nos um precioso conhecimento para que o homem aprendesse uma forma de fugir a este labirinto cíclico.
Na sociedade védica o ser humano tinha quatro objectivos chamados Puruṣārthas. São eles Artha (segurança), Kāma (satisfação de desejos), Dharma (os códigos de conduta ética e comportamental individual - Svadharma) e Mokṣa (liberdade da ideia de que somos limitados e infelizes).
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Qualquer ser humano deveria cumprir estes quatro objectivos de vida para que pudesse sentir-se útil à sociedade, para que pudesse sentir-se feliz e completo.
Na sociedade actual Dharma e Mokṣa não estão a ser correctamente ensinados, logo a maior parte dos seres humanos sofre esta carência!
O yoga vem colmatar esta falha gravíssima da nossa sociedade dita desenvolvida! Propõe uma mudança benéfica e profunda de valores, restaurando e implementando de novo o equilíbrio, a justiça e a paz, primeiro no coração dos praticantes e mais tarde no seio das famílias e sociedades.
Vislumbro o yoga como um método educativo/cultural, livre de fronteiras e preconceitos, com a capacidade de tocar profundamente os corações dos seres humanos. Aquele que foi verdadeiramente tocado pelo yoga e o dharma, percebe claramente a profundidade destas palavras, e sentir-se-á certamente comovido pela ideia do yoga poder ser possível e acessível para todos os seres humanos.
O yoga está francamente difundido pelo ocidente e está a sofrer os efeitos duma sociedade globalizada que quer tudo para ontem. O yoga não é um produto nem um negócio e muito menos é para ontem, mas está a ser muitas vezes usado como tal.
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Mokṣa ou iluminação, como é mais comumente conhecida, é um processo e como tal demora o seu tempo. A paciência, o estudo, a confiança na tradição e no método de ensino, a humildade e todas as qualidades que enaltecem o homem são requisitos imprescindíveis para um mumukṣu (aquele que tem o desejo de mokṣa) fazendo deste um adhikārin, aquele que reúne todas as condições para realizar o conhecimento de Brahman. Este é o futuro do yoga e da tradição intrínseca a este darśana, continuar a existir, a evoluir e a expandir-se mantendo e preservando todos os valores que lhe são adjacentes e essênciais.
Espero que o yoga resista às influências desta sociedade consumista e que possa continuar a evoluir e a ser preservado como até então tem sido. Para que esta incrível tradição se mantenha, é necessária a participação activa de todos aqueles que a ela pertencem, mestres, professores e alunos, no sentido de reunirem e criarem as condições ideais para que o conhecimento continue a ser passado de geração em geração. Os professores de yoga têm a inevitável e importante missão de preservar e melhorar a tradição. O professor assemelha-se a uma escada que o aluno usa para subir, para evoluir, assim é em muitas áreas. Na área da espiritualidade o professor também sobe pela escada que é, pois também ele beneficia com o bem das suas acções e além disso ainda beneficia a tradição. É um processo maravilhoso, incrível e purificador, que beneficia todos aqueles que nele estão inseridos.
São precisos três factores em perfeita harmonia para que o conhecimento aconteça. É necessária a existência de um professor disposto a ensinar, a existência de um aluno disposto a aprender com esse professor e é necessária a existência de um conhecimento para ser transmitido. Se hoje sou aluno reverencio quem me ensina ao aprender humildemente. Se hoje sou professor reverencio a tradição ao respeitá-la.
Que o yoga possa entrar no coração de todos os seres humanos e que todos os seres possam ser felizes.
por: Paulo Vieira
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