A bomba de sementes, conhecida lá fora como seed bomb, é uma técnica ancestral japonesa que promove o cultivo de plantas pelo arremesso de bolas compostas por argila, substrato vegetal e sementes. Carregadas de sentido poético na jardinagem de guerrilha, estas bombas podem ser arremessadas em terrenos baldios, em parques urbanos ou em jardins abandonados, em espaços verdes, na paisagem despida ou até no nosso jardim, num momento de descontração.
Todo e qualquer terreno pode ser cultivado com estas granadas e são raras as crianças que não alinham numa boa batalha campal com uma vertente ecológica. Protegidas dos insetos, dos pássaros, da temperatura e da luz, estas bolas de sementes serão ativadas pela chuva ou pela rega manual. Apesar de esta já ser uma técnica muito antiga, foi, contudo, com o agricultor e microbiólogo Masanobu Fukuoka que ganharam uma maior expressão nos últimos anos.
O japonês, uma figura incontornável na história da jardinagem e da produção agrícola, pioneiro do cultivo sustentável, desenvolveu várias técnicas naturais de otimização de recursos e de energia. A agricultura selvagem que defende, na génese do Método Fukuoka, é um dos exemplos do trabalho desenvolvido, baseado nas premissas de não cultivar, de não lavrar e de não revolver a terra. Não utilizar fertilizantes químicos e não mondar com qualquer método são outras das propostas que sugere em "A revolução de uma palha - Uma Introdução à Agricultura Selvagem", um livro publicado pela editora Via Óptima.
Deixando a sua carreira promissora de laboratório, Masanobu Fukuoka procurou encontrar novos modelos de vida baseados numa observação atenta da natureza. O seu trabalho teve muito impacto a nível global, chegando a influenciar, nos anos da década de 1970, vários ativistas americanos, que utilizaram bombas de sementes como estratégia de reflorestação. Entre várias conquistas, o japonês recebeu ainda, em 1988, o reputado Prémio Magsaysay.
Como fazer e como utilizar bombas de sementes
As bombas de sementes podem ser usadas em grupo, fomentando a jardinagem coletiva, que estimula a criação de redes, de ideias e de modelos de transformação social. Estas bolas, que pode aprender a confecionar na galeria de imagens que se segue, são uma forma de transformar o mundo recuperando áreas degradadas. É possível, com este método, semear centenas de árvores num só dia, com poucos recursos, esperando que a natureza cumpra a sua função.
As bombas de sementes, como pôde comprovar anteriormente, são simples de fazer e não precisam de ser enterradas nem regadas, uma vez que, se tiver sorte, germinarão quando as condições propícias ocorrerem. Para as executar, podem ser utilizadas sementes de plantas medicinais, de aromáticas ou de hortícolas, flores espontâneas ou sementes de árvores de fruto. Dê preferência a plantas que sejam da sua região, pela sua maior adaptabilidade e resistência.
Procure, no entanto, não utilizar espécies botânicas que possam ter impactos negativos para os ecossistemas envolventes da zona onde as lança. Para a construção de uma bomba de sementes, não necessitará de muito. Apenas de uma taça, de um tabuleiro, de argila, de substrato vegetal e de sementes. Na taça, junte a argila, o substrato vegetal, as sementes e a água, lentamente. Vá ajustando as quantidades até obter uma mistura com a textura semelhante à da plasticina. Molde, de seguida, pequenas bolas com as mãos. Disponha, depois, as bombas num tabuleiro e deixe que sequem durante, pelo menos, 24 horas.
A melhor altura para atirar estas bombas ecológicas é o período mais chuvoso, sobretudo na primavera ou no outono. A chegada das chuvas desperta as sementes que começam a germinar a partir da pequena reserva de nutrientes que as envolve. Nem todas conseguirão desenvolver-se, algumas delas encontrarão as condições adequadas. Se preferir guardar as bombas por um tempo, mantenha-as num lugar escuro e seco, mas não por mais do que algumas semanas.
Texto: Tomás Tojo (jardineiro e ativista)
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