Quem é que não se deliciou já com o canto primaveril de um melro-preto, de um chamariz ou até de uma toutinegra-de-barrete-preto? Todas estas aves, comuns nos nossos jardins, precisam de insetos na primavera para alimentarem as suas crias, mesmo aquelas que são granívoras e que apenas comem sementes nas restantes épocas do ano. Insetos que vivem nessas árvores moribundas ou nos montes de madeira em decomposição, que podem perfeitamente existir num jardim, mesmo moderno e arejado.

E, se tiver a sorte de ter um jardim grande num ambiente rural, pode ser que consiga atrair um ouriço-cacheiro. A existência de árvores velhas e mortas providencia também, para além dos insetos, buracos e cavidades, frequentemente resultantes da caída de troncos podres, que servem de ninho a aves e mesmo a morcegos. O mocho-galego, pequena ave de rapina noturna comum em todo o nosso país, sobretudo no sul, aproveita frequentemente buracos em velhas oliveiras para construir o ninho.

Os chapins, tanto o chapin-real como o chapin-azul e o chapin-carvoeiro, todas elas espécies comuns, chamam casa a qualquer cavidade, já que constroem os seus ninhos apenas em buracos. Os ramos proeminentes de árvores mortas são frequentemente os poisos preferidos dos machos das aves canoras para cantarem nas manhãs soalheiras da primavera e do verão. Por isso, se uma árvore cair, tente deixá-la onde está, se puder. Desde que isso não cause problemas de segurança para as pessoas, claro.

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Tendo essa possibilidade, deixe algumas árvores ou arbustos mortos ou moribundos em pé, desde que estejam em locais seguros para as pessoas e restante propriedade. Não os corte, nem os limpe. Deixe a natureza fazer o seu trabalho. Se não tiver nenhuma árvore velha no seu jardim, mas tiver problemas com algumas espécies indesejáveis ou invasoras, em vez de as arrancar, pode matá-las lentamente e deixá-las em pé, fazendo dois cortes incisivos e relativamente profundos na base do tronco.

Retire, depois, a casca entre os cortes. A árvore indesejável vai, assim, apodrecendo aos poucos, servindo de abrigo para os insetos e atraindo os pássaros. Num canto do jardim, amontoe ramos, toros e restos de madeira. Assim, de uma vez, resolve um problema comum e cria um microhabitat para insetos, fundamental para atrair biodiversidade. Os ramos e troncos devem ser colocados diretamente sobre o chão, num local que não pode ser demasiado exposto ao sol para não secar a madeira.

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Também não pode ser demasiado sombrio, uma vez que se torna muito frio para os insetos, embora isso seja bom para os cogumelos. Uma solução é construir a base de um pequeno triângulo com toros de madeira e pôr no interior terra de boa qualidade e pequenos ramos. Ao fazê-lo, não corte a madeira em pedaços muito pequenos. Quanto maiores forem os toros, melhor para os insetos. Não retire a casca e amontoe os ramos numa pilha compacta, para manter a humidade, nos meses de verão. Se não tiver árvores mortas, pode sempre enterrar vários troncos de dimensão média na terra, para recriar esse efeito.

Outra das formas de atrair as aves para o seu jardim é através da disponibilização de casas de madeira para abrigo e/ou de recipientes com comida e bebida. Encontra no mercado alimentadores e bebedouros que pode pendurar ou dispôr em locais estratégicos, idealmente mais reservados, para despertar a atenção dos pássaros. Também pode plantar variedades botânicas que os atraem naturalmente, como é o caso do tomilho, do rosmaninho, do espinheiro-marítimo, do cotoneaster e do girassol.

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Texto: José Pedro Tavares (membro da Royal Society for the Protection of Birds)