"Estamos todos a lidar com uma situação imprevisível, que ninguém esperava, com uma quebra de visitantes e de receitas muito significativa, mas, neste momento temos melhores condições para o reencontro do público com o seu património, menos pressão, e um protocolo de segurança contra a pandemia", disse o diretor-geral, entrevistado pela Lusa.

0s 25 museus, monumentos e palácios tutelados pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) registaram uma quebra global de cerca de 70% de visitantes no primeiro semestre de 2020, comparando com o mesmo período de 2019, de acordo com os números da entidade, que contabilizou um total de 701.047 entradas no primeiro semestre de 2020 face aos 2.308.430 visitantes no mesmo período de 2019.

Museus e monumentos - tal como todos os espaços culturais do país - estiveram encerrados entre 14 de março e 17 de maio deste ano, na sequência do confinamento decretado pelo Governo para travar a propagação do vírus covid-19.

"Fomos confrontados com uma situação inédita, e tivemos de pensar, desde o primeiro momento, em garantir a segurança e conservação do património à nossa responsabilidade", recordou o diretor-geral, sobre o início do confinamento.

Nessa altura, que ditou dois meses de encerramento total, "a opção foi produzir conteúdos digitais para manter a relação com o público, que continua a ser feita, como complemento, mas nada pode substituir a visita física, pessoal, para usufruir do património".

Para a reabertura, em maio, o diretor-geral do Património Cultural, que iniciou funções em fevereiro deste ano, disse que "os equipamentos foram devidamente preparados para receber os visitantes, com instalação de barreiras físicas, higienização dos pontos de maior risco, e conferindo aos diretores a possibilidade de ajustar percursos expositivos e regular horários".

À pergunta sobre se é seguro, neste momento, visitar museus e monumentos nacionais, Bernardo Alabaça respondeu: "De uma forma geral, é seguro visitar estes equipamentos culturais. O público pode regressar e ter uma experiência direta com o património porque foram criadas as condições para conferir essa segurança".

"A retoma das visitas tem sido gradual porque, naturalmente, as pessoas, depois do confinamento, preferiram os parques, a praia, zonas ao ar livre. Mas os visitantes estão a regressar aos museus lentamente, essencialmente mais portugueses, e já com um regresso claro dos estrangeiros", revelou o responsável.

A preferência por sair das grandes cidades e ir para espaços abertos, ou inseridos em zonas verdes, levou a que a quebra tenha sido mais acentuada nos equipamentos em Lisboa (53%) do que fora da capital (43%), e mais em museus (50%) do que em palácios (28%), segundo os dados da DGPC.

Exemplo disso foram as fortes quebras de visitantes no Museu dos Coches, Museu do Azulejo e o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, enquanto o Convento de Cristo, o Palácio Nacional de Mafra e Conímbriga sofreram um menor impacto.

Globalmente, o impacto da quebra de visitantes "foi brutal", porque "faltaram os estrangeiros, o público escolar e os seniores, que contribuem em grande parte para as visitas dos museus e monumentos", e, por outro lado, "foram cancelados todos os eventos culturais, e outros, que muitos destes espaços acolhem".

A juntar a estas quebras, pelo encerramento ou inatividade forçada, o período de confinamento cobriu justamente as datas em que a afluência de visitantes é maior, nomeadamente a Páscoa, com grande tradição de visita aos museus e monumentos.

Ligada à perda de visitantes vem a consequente perda de receitas que as entradas proporcionam. Questionado pela Lusa sobre a forma como estão a afetar a DGPC e os seus serviços, o diretor-geral respondeu que não dispunha de um número preciso, mas "seguramente está acima da quebra dos visitantes", que foi de 70% no primeiro semestre deste ano.

"Estamos a falar de uma quebra muito significativa de receitas. Além disso, a resposta ao vírus obrigou a mais despesas. O cenário não podia ser mais difícil", lamentou Bernardo Alabaça.

Mesmo assim, a DGPC "não parou de fazer investimentos e lançar empreitadas, com recurso ao Orçamento de Estado", acrescentou.

"Estamos a gerir a situação com a tutela [Ministério da Cultura] e com o Ministério das Finanças para acorrer às despesas. É um exercício diário que temos de resolver da melhor forma, porque uma parte relevante da DGPC é suportada por receitas próprias", apontou.

Sobre o risco de museus ou monumentos encerrarem devido à falta de receitas, Bernardo Alabaça disse que não faz "futurologia".

"Este é um cenário que nunca foi previsto, não há memória dele. À partida não há o risco de museus fecharem, mas não sabemos o que vai suceder no futuro. Estamos a viver momentos de grande incerteza, mas eu tenho esperança que, nas condições atuais de segurança, os portugueses regressem, com confiança, para voltar a ver um património que é de todos", apelou.