Podia ser um piano bar, afinal, é moderno e elegante, porém, é o cabaret mais antigo de Lisboa cujo início remonta aos loucos anos 20, altura em que surgiram, na capital, os primeiros clubes noturnos, entre os quais, o Maxime com o nome Club Maxim’s.

Deste modo, encontramo-nos, no Maxime Restaurante, num lugar histórico, mas renovado. Num espaço que impulsionou a noite da capital e que quase desapareceu.

Olhando para trás, o Maxime teve vários altos e baixos. De Maxim’s passou a Maxime Dancing que, com o passar dos anos, caiu em decadência. Terá fechado portas no fim da década de 60 e ganho nova vida entre 2006 e 2011 pelas mãos de Manuel João Vieira dos Ena Pá 2000 e dos Irmãos Catita (e professor na Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha).

Edifio Maxime
Edifio Maxime O Maxime Dancing foi inaugurado em 1949, aquando do apogeu das casas de cabaret um pouco por toda a Europa, tendo sido fortemente inspirado pelo Maxims-de-Paris - icónica casa de cabaret parisiense que é, até hoje, uma das principais referências do género. créditos: Arquivo

O atual Maxime da Praça da Alegria surge em 2018 como unidade hoteleira e com vontade de fazer jus às suas raízes. É por isso que no seu restaurante não faltam “variedades” e a decoração dos 75 quartos explora a temática do mundo do cabaret e do burlesco.

O espetáculo a que fomos assistir, o Amusing Bouche, acontece entre os vários momentos do jantar que é composto por bebida de boas-vindas, entrada, prato principal e sobremesa. Todos as propostas que compõem o menu são únicas e inspiram-se em clássicos portugueses e do mundo.

Começamos por saborear o pão que nos chega à mesa com as deliciosas manteigas artesanais aromatizadas e quase que não conseguimos parar de comer, não fosse o Nasty Sexy Salmon (Tártaro de salmão, ovo BT e abacate, 11€) aterrar na mesa e chamar a nossa atenção.

Entre um aperitivo e outro, surge no palco a carismática e talentosa Vanity Redfire (aka Jaya Girão), que é também a curadora e produtora artística dos espetáculos da casa. Apesar do ambiente nos remeter para a era dourada, Vanity interpreta com alguma "marotice" músicas recentes como Unholy de Sam Smith e Kim Petras.

Vanity Redfire
Vanity Redfire Vanity Redfire créditos: Ana Oliveira

E nada soa estranho. Parece que a música nasceu para o cabaret e que o cabaret é um lugar-comum dos nossos dias. Depois, Vanity explica-nos (e ao resto do público) que existem três níveis de aplauso neste tipo de show. Fique a conhecer:

Os aplausos dos sóbrios

É o primeiro nível e é o género dominante no início da noite, altura em que o público ainda está tímido.  Vanity, que não deixa de lado o humor na sua apresentação, descreve este estágio como o momento em que o público ainda está “sem álcool”. Para a artista brincalhona é sinal “que a vida não está a sorrir”.

Mais palmas, menos roupa

No segundo nível de aplausos, as temperaturas já estão a aumentar e já se batem palmas de forma mais efusiva. Segundo Jaya, nesta fase, quanto mais palmas o público bater, mais roupa é despida em cima do palco.

Será que viram a diva mais incrível de sempre?

No terceiro nível, a euforia já está mais do que instalada e tornou-se na norma. Vanity Redfire explica que, no último grau, "é como se cada um tivesse bebido uma garrafa de vinho e como se tivessem visto a diva mais incrível de sempre".

Quando se atinge o último nível, transformamo-nos, de acordo com esta artista, "pessoas de cabaret".

Por ser burlesco, há um twist com humor. Vale lembrar que nada é para levar a sério e sim na diversão. O álcool deve ser bebido de forma moderada e serve de matéria para partes das piadas do espetáculo. Afinal, estamos num cabaret e, nos tempos de decadência do Maxime (anos 60), muitas artistas de variedades acumulavam a sua performance de dança ou canto com funções de alterne.

Nessa década, era comum as artistas sentarem-se nas mesas dos clientes com o intuito de os levar a beber. Na maioria das ocasiões, as artistas só simulavam beber. Assim, não estranhamos esta brincadeira com o consumo de álcool, visto que a vida do cabaret é inerente à de um bar.

Continuamos a jantar e a assistir às atuações da noite. Para além de Vanity, vemos a apresentação da única Fraulein Margret que consegue juntar sensualidade e comédia em palco e da incrível Patty Lime que é capaz de deixar qualquer pessoa de queixo caído com a sua flexibilidade.

Maxime club
Maxime club Patty Lime, Vanity Redfire, Fraulein Margret e a assistente de palco no final do Amusing Bouche créditos: Ana Oliveira

Mente aberta, boa disposição e capacidade de rir de nós mesmos também são importantes para desfrutar de uma noite inesquecível de cabaret. É que, sabe, pode acabar em cima do palco. A vantagem?  Poderá, por exemplo, aprender a fazer o movimento de dança oriental shimmy, que é como quem diz "a mexer o peito vigorosamente".

E se for para o palco, retenha: não pode tocar nas artistas nem lhes dizer coisas "nastys". Como explica Jaya a brincar, esse é o trabalho delas (artistas de cabaret).

Maxime Restaurante

Morada: Praça da Alegria, n58
1250-004 Lisboa, Portugal

Reservas:

(+351) 218 716 600

esperoporti@maximerestaurante.com

Entre os pratos principais, existem opções de mar como o Lavish Lobster (Lagosta, ravioli fresco de ricota e pesto, espinafres salteados, 27€) e o Got A Black Magic Risotto (Risoto de choco, tempura e coentros, 18€). Em relação aos de carne, salta à vista o I don’t give a duck (Magret de pato, laranja, puré de cherovia, tempura enoki, molho madeira e rebentos da época, 22€).

Quem não come carne, peixe ou marisco, tem opções da terra como o Italian Flirt (Gnocchi artesanal, pêra, molho cremoso de gorgonzola, rúcula e nozes caramelizadas, 15 €) e o Funky Funghi (risoto de cogumelos silvestres, sementes de abóbora, azeite trufado e folhas da época, 15 €).

O último "pecado" da noite serve-se frio e é doce. Pode escolher entre o Melting Pleasure (gelado e topping artisanal, 3€), o Go Hazelnuts (mousse de avelã, ginja, crumble de cookie e marshmallow, 7,50€), o That Classic (Paris brest, mascarpone, framboesa e crumble de café, 8,5€) e o Wicked Queen Apple (Maçã, parfait de caramelo salgado e crumble de aveia, 6,5€).

O show tem de continuar

Apesar de agosto ser sinónimo de férias para muitos lisboetas, o Maxime obedece à velha máxima das artes performativas e, por isso,  o espetáculo não para.

No próximo mês, o Maxime vai continuar com os It’s Teaser Time, que têm sido protagonizados por artistas residentes que trazem a palco canónicos shows de burlesco. Ou seja, atuações que combinam performances musicais, dança, comédia e figurinos provocatórios, numa autêntica ode ao espírito Vaudeville. It’s Teaser Time é um ciclo de espetáculos de vários artistas, que conta com o apoio institucional do Ministério da Cultura, que celebra assim a diversidade artística que o histórico espaço acrescenta à paisagem cultural portuguesa.

Calor em palco, frescos na mesa

Durante a hora e meia dos escaldantes jantares-espetáculo do Maxime serão servidos três pratos que pretendem aconchegar o estômago e amenizar a temperatura na sala. A refeição terá início no campo, com um Carpaccio de pato, citrinos, romã, brioche e folhas da época e seguirá para alto-mar, navegando os sabores do Atlântico com um Espadarte, que acompanha aveludado de espargos, cherovia crocante e compota de tomate. Para terminar, será feita uma paragem no pomar para saborear uma Tarte de limão yuzu merengada, creme de matcha e gelado de chocolate branco, equilibrado entre a acidez e a doçura, tal como o que se sente quando se chega ao fim de uma noite bem passada.

Os espetáculos It’s Teaser Time realizar-se-ão a 9 e a 30 de agosto.