Não será uma relação óbvia, à partida, mas é difícil dissociar a história da Quinta da Marinha da família Champalimaud. É esta a responsável pela inauguração o The Oitavos, em 2001, o hotel de cinco estrelas, localizado precisamente na Quinta da Marinha, uma zona nobre de Cascais, com vista para o Guincho.
Quem frequenta a região sabe que o Guincho não é um lugar fácil, sobretudo nos meses de verão. Os adeptos de desportos como kitesurf, surf ou windsurf apreciam muito a zona, mas o vento pode ser um tormento para aqueles que simplesmente querem apanhar banhos de sol. Mas no inverno tudo tem outro encanto. Sobretudo nos dias de sol, sem a expectativa de não apanhar um excelente dia de praia. Além de ser o momento de procurar sítios aconchegantes.
Inserido no Parque Natural Sintra-Cascais, o hotel apresenta-se como um desses refúgios, rodeado de pinhal e dunas, com a vantagem de usufruirmos de tarifas mais em conta. E é a pensar nesse aconchego que o próprio hotel disponibiliza dois programas com acesso ao spa: o afertnoon tea & spa e o breakfast & spa. Além destes programas, o The Oitavos é também um chamariz para os praticantes de golf uma vez que o Oitavos Dunes foi considerado um dos 100 melhores do mundo, em 2023, pela revista especializada Golf Magazine.
Quartos
O hotel tem 142 quartos, todos com varandas privativas, que podem ter vista ou para o oceano Atlântico ou para o campo de golfe. No total são várias as tipologias distribuídas entre 14 quartos, 126 lofts, duas suites e uma vila privada com uma suite.
Os quartos começam na tipologia superior, com 40 m2, com as varandas viradas a Nascente, o que são uma boa opção para os hóspedes que apreciem o nascer do sol. Já a tipologia seguinte, premium, também tem 40 m2, mas aqui os quartos tanto estão virados a Oeste como a Sudeste, dependendo do piso, onde tanto pode ter uma vista para o pinhal e as dunas, como ter uma vista parcial para o mar. Independentemente da localização, há algo em comum: o contacto com a natureza é algo a que não conseguimos fugir.
Spa
Algo que caracteriza o spa do The Oitavos é o facto de este ser banhado a luz natural. Se quiser usufruir da piscina interior, há um custo associado por pessoa (25€ por quarto ou 40€ para não hóspedes) que dá acesso ao circuito de balneoterapia, a maiores de 16 anos, com piscina de jatos interior com água do mar aquecida, uma das saunas mais bonitas, com vista para o Parque Natural, banho turco, jacuzzi, fonte de gelo, chuveiro e sala de repouso.
O spa dispõe de oito salas de tratamento, seis delas com luz natural. Há vários tipos de tratamento de rosto e corpo, sendo um dos best-sellers o Facial Boost, um tratamento facial hidratante e iluminador de 30 minutos, que é possível usufruir individualmente (85€) ou em dupla (160€).
A marca associada ao spa do The Oitavos é a Carol Joy London, conhecida por ter como componentes folhas de ouro de 24 quilates, colagénio puro, ou caviar e algas.
Associado ao spa há dois programas desenhados para quem quiser aproveitar um pouco outros serviços do hotel. O Breakfast & Spa está disponível de terça a sábado, com o pequeno-almoço a ser servido entre as 7h e as 10h30m, e a massagem de relaxamento de 50 minutos prevista para as 11h ou 12h, com circuito de balneoterapia a partir das 11h (110€ por pessoa). E o Afternoon Tea & Spa, que começa com uma massagem relaxante de corpo inteiro, de 50 minutos, seguida do acesso ao circuito de balneoterapia. Depois deste momento é servido o Afternoon Tea, da autoria do chef pasteleiro Joaquim de Sousa, composto por chá acompanhado de scones com compota e manteiga, pastéis de nata, mini tartelettes, choux à la crème, macarons e mini sandwiches. Este programa também está disponível de terça a sábado, entre as 15h e as 19h.
Verbasco e Ipsylon
O Verbasco funciona também como uma espécie de clube e acaba por ser o restaurante de apoio aos golfistas, sendo o almoço a refeição de eleição por aqui. O grande destaque deste espaço é a vista para o oceano e um agradável terraço, que sairá valorizado nos momentos em que o sol aquecer os dias de inverno. A envolvente continua a ser o pinhal, que nos coloca em contacto com a natureza, num espaço descontraído, e que parece ter um candidato a vizinho bastante famoso. Adiantamos apenas que é do mundo do futebol.
O menu é desenvolvido pelo chef executivo do The Oitavos, Cyril Devilliers, onde se destacam os petiscos e, pela proximidade do mar, os pratos de peixe. Uma tempura de bacalhau com aioli (16€), pica-pau de lombo (24€) ou umas patatas bravas (8€), são algumas das opções de entradas, assim como o incontornável bacalhau à Brás (18€), filete de pescada meunière, tomate seco, alcaparras e puré de batata (20€) ou polvo grelhado, batatas bravas, aioli e molho brava (26€), são algumas das sugestões na secção de peixes. Um bife do lombo à Marrare (32€), promete satisfazer os apreciadores de carne e não deixe de provar o crème brûlée de baunilha com gelado de caramelo salgado (9€). Peça duas colheres porque a porção generosa. Há ainda opções de pratos do dia, assim como pratos mais leves, como massas, sopas e saladas, até aos simples hambúrguer no pão (22€) ou no prato (16€).
O Ipsylon é o restaurante que se encontra no hotel e mais propício para o jantar – e onde também é servido o afternoon tea.
“A mesa portuguesa tem como particularidade a partilha das entradas na mesa, ou seja, ‘o petiscar’, uma forma leve e informal de saborear uma refeição”. É desta forma que começa o menu do Ipsylon, também desenhado pelo chef Cyril Devilliers na companhia do chef de pastelaria Joaquim de Sousa.
Há muito por onde escolher: seja pela vontade de petiscar mais, por fazer uma refeição de partilha ou por seguir os seus preferidos. Na dúvida peça ajuda ao chefe de sala que o vai orientar pelo menu, que ainda tem alguma escolha. Destaque para alguns pratos como os croquetes de presunto (duas unidades, 4€), polvo na plancha, batata saloia e manteiga de alho (16€), mexilhão de caldeirada à fragateira (15€) - receituário da Vila de Cascais, massa cavatelli, lulas, pesto de salsa com anchova, pistachio e alcaparras, molho de tomate (26€), filete de peixe do dia, legumes da época e arroz de coentros (28€), pá de cordeiro confitada, mironton de cebola e puré de batata (33€) e para encerrar com chave de ouro, tarte fina de maçã, speculoos e gelado de nougat (6€).
Mas, não desfazendo a qualidade dos pratos, o que pode ditar o sucesso ou o fracasso de uma refeição? O serviço. E isso detalhamos no ponto seguinte.
“Vamos falar de vinho?”
O chefe de sala Ricardo Silva já nos espera quando nos aproximamos do Ipsylon à hora marcada, 20h. É ele que nos encaminha para a mesa, nos explica o menu e nos faz as sugestões de pratos. Não são muitas as mesas ocupadas, pelo que podemos escolher entre duas opções: se mais no centro da sala, se mais resguardados. Optamos pela primeira e deixamo-nos guiar pelas sugestões que nos vão sendo apresentadas, de acordo com as nossas preferências. À nossa volta casais a aproveitar o fim de semana e uma família, cuja criança pode correr livremente pelo agora amplo restaurante, sem correr o risco de incomodar uma sala cheia, compõem o ambiente deste jantar, enquanto uma música de Norah Jones ecoa pela sala.
Pelo facto de não haver lotação esgotada, há forma de melhor acompanhar aqueles que escolheram jantar no Ipsylon esta noite. “É a vantagem desta época do ano, conseguimos dar mais atenção aos clientes, um serviço mais personalizado e que faz toda a diferença”, confidencia-nos Ricardo Silva, que vai-se aproximando das mesas para recolher pedidos, impressões ou falar um pouco de coisas do dia a dia, como se de um bailado se tratasse.
A acompanhar o chefe de sala está Luís Ribeiro, sommelier do The Oitavos, que nos é apresentado por Ricardo Silva. O que poderia ser à partida uma mesa desastrosa, por alguma limitação no consumo de álcool, transforma-se numa conversa para o resto da noite, graças à simples questão “vamos falar de vinho?”. A pergunta parece soar música para os ouvidos do sommelier que começa por apresentar uma série de harmonizações possíveis, de acordo com os pratos e os gostos dos clientes em questão.
Fica uma nota: se é apreciador de vinhos, deixe-se conduzir pelas sugestões de Luís Ribeiro. Se não é algo que não valorize assim tanto, deixe-se surpreender pelo conhecimento de quem descobriu uma paixão, depois de cerca de 20 anos em restauração, mas na cozinha. A mudança para a sala, e os vinhos em particular, deu-se com a pandemia. A prova de que “quando se fecha uma porta, abre-se uma janela” funcionou mesmo para algumas pessoas.
“A carta [de vinhos] é muito complexa. Temos vinhos com preço-qualidade excecionais, de baixas gamas a gamas altíssimas, só que são vinhos muito gastronómicos. Para qualquer prato conseguimos fazer um bom pairing de vinho”, explica, acrescentando que muitas vezes, esta falta de harmonização pode ditar ao fracasso o potencial de uma refeição.
O pairing de vinhos pode ser feito de acordo com as escolhas do sommelier, com preço sob consulta, ou pode-se simplesmente seguir as opções tradicionais de vinho a copo ou garrafa, se for partilhar.
No final, reza a história de uma refeição agradável, com muitos dedos de conversa à mistura, tanto com o chefe de sala, com o sommelier e com os restantes empregados que se aproximavam da mesa. A grande vantagem de visitar o hotel nesta época do ano é mesmo essa: sentimo-nos protagonistas de uma história e dessa forma, clientes especiais. A vantagem de serem poucos clientes, mas bons (momentos).
Considerações finais
A sensação com que se sai, depois de duas noites no The Oitavos, é de que os empregados são uma grande família, daquelas que gosta de receber. O tratamento não é de todo forçado, mas fruto do facto de não haver a pressão de uma casa cheia. A simpatia estende-se a todos os turnos, que perdem o seu tempo a explicar, seja o funcionamento do hotel, seja alguma dúvida mais particular, da sala do pequeno-almoço ao spa.
Outro ponto a favor é a envolvente do The Oitavos, especialmente para aqueles que apreciem o contacto com a natureza. Aqui, esquecemo-nos por momentos que estamos perto de uma metrópole, com os encantos que o Guincho consegue ter.
Antes de sairmos, fica o convite de Ricardo Silva: “Para a próxima, venham experimentar o afternoon tea. É uma experiência muito interessante”.
Os preços para janeiro, em quarto com ocupação dupla começam nos 187€ por noite. Nota para o facto de The Oitavos apenas aceitar reservas a partir de 12 deste mês, uma vez que antes dessa data se encontra fechado, cumprindo o seu calendário de descanso anual.
O SAPO Lifestyle esteve no The Oitavos a convite do hotel.
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