Malaios, chineses e indianos fazem da Malásia um país rico culturalmente, efervescente e de um colorido único. Essa é a primeira imagem que se retém, mal se põe um pé em Kuala Lumpur, um dos destinos mais vibrantes de toda a região do sudeste asiático. A capital do país é uma metrópole que alia povos e gastronomias diferentes e uma arquitetura díspar, feita de arranha-céus, mas também de edifícios tradicionais.
Menos caótica do que Banguecoque na Tailância ou Hanói no Vietname, Kuala Lumpur não deixa de ter aquele encanto asiático, onde prevalece um aroma constante a comida, um vaivém incessante de indivíduos, um ruído contínuo, vindo das pessoas e do trânsito que apenas é silenciado pelo chamamento das mesquitas à hora certa. Na margem oeste do rio Klang, não perca o distrito colonial, cujo centro é a praça Merdeka.
O nome significa independência, pois foi ali que foi declarada a da Malásia. Este é um bom ponto de partida para desbravar a cidade. Ali sobressai o edifício do sultão Abdul Samad, de estilo mourisco, semelhante à antiga estação ferroviária e à mesquita Jamek, a mais antiga de Kuala Lumpur, todos no mesmo lado da cidade. Ainda nesta mesma zona, situa-se a mesquita nacional, chamada de mesquita Negar, cujos exteriores podem ser visitados fora das horas das orações. Atrás desta, encontra-se o melhor museu da cidade, o museu de Arte Islâmica.
Este espaço museológico alberga uma fantástica coleção de têxteis, cerâmicas e peças de metal, bem como de livros antigos e várias réplicas de algumas das maiores mesquitas do mundo. Além do interesse cultural e histórico, a arquitetura também é uma referência deste edifício, onde não falta uma cúpula de azulejos verdes e azuis e pátios árabes com vista para o jardim botânico de Perdana, uma das principais áreas verdes da cidade.
Em Chinatown, ao lado do mercado central da cidade, entra-se noutro mundo, o da azáfama e das compras. Todos os dias, o cenário repete-se. Logo de manhã, os vendedores montam bancas de tudo e mais alguma coisa e à noite voltam a desmontá-las numa coreografia de movimentos, sons e cor. Cansa só de os ver… Curiosamente, é no bairro chinês que se situa o maior templo hindu da cidade, o templo Sri Maha Mariamman.
A Little India fica algumas ruas acima e ali perto não falta sequer um cinema onde é possível ver filmes de Bollywood, o Coliseum Theatre, que é a única sala de cinema que resta dos tempos coloniais e que mantém o estilo art deco, tal como o seu café, onde o tempo parece ter parado. E, por falar em tempos idos, há outra experiência obrigatória, fazer uma refição no Old China Café, em Chinatown. Este faz lembrar a China dos anos 20 do século passado e, além de a comida ser excelente, parece mesmo que se está a entrar em casa de alguém.
Na parte nova da cidade, conhecida como Triângulo Dourado, os arranha-céus, que definem a paisagem, parecem não ter fim. Os mais emblemáticos são as torres Petrona. Do alto dos seus 452 metros imponentes e do deck de observação é possível ver toda a cidade. Mas a parte mais emocionante é atravessar a Skybridge, que liga as duas torres e é o primeiro ponto de paragem nesta viagem a este reino de ferros e vidros.
Se for à noite, aproveite para ver o espetáculo de luz e som nos jardins das torres. Nas imediações, 79 metros mais baixa e não muito longe das torres gémeas malaias, a torre Menara KL, outro dos ex-líbris da cidade, com a vantagem de o deck de observação ser ao ar livre, também merece um desvio. Depois desta visão quase galáctica, o próximo passo só pode ser a rua mais movimentada de Kuala Lumpur, Bukit Bintang.
Porta sim, porta sim há uma loja, onde se encontram muitas das grandes marcas internacionais, mas também bares e restaurantes. Contudo, é um pouco mais à frente que encontramos a rua mais saborosa de Kuala Lumpur, a Jalan Alor, onde se pode provar a melhor comida de rua da cidade, com grande destaque para o peixe. Perante a variedade da oferta, o difícil é mesmo escolher o que provar e saborear.
Montanha e praia para os que precisam (muito) de mudar de ares
Já fora da cidade, a 30 minutos de comboio de Kuala Lumpur, as grutas Batu são um local sagrado para os hindus, um dos mais importantes fora da Índia. Lá chegados, há duas coisas que saltam de imediato à vista. Os 272 degraus que vamos ter forçosamente de subir e a gigantesca estátua do deus Muruga, que tem 43 metros de altura e é dourada. Lá em cima, existem vários templos hindus e macaquinhos atrevidos.
Já nas descidas, coloque o capacete e faça uma viagem até à Dark Cave, como os turistas lhe chamam. Quando o guia lhe pedir para desligar as lanternas, vai perceber o porquê do nome. Mais a norte, as Terras Altas de Cameron, uma área verde entre 1.300 e 1.800 metros acima do nível do mar, onde as temperaturas são bem mais baixas do que no resto do país, também devem ser integradas no seu roteiro.
Este é o local ideal para fazer caminhadas entre as plantações de chá, pomares, viveiros de borboletas e, claro, conhecer as povoações pitorescas e reveladoras que a compõem, muitas delas com nomes quase impronunciáveis, como é o caso de Ringlet, Tanah Rata, Brinchang, Tringkap, Kuala Terla e Rampung Raja. Obrigatório também é beber um chá e comer um scone, um hábito que ficou do colonialismo inglês.
A Malásia alberga também aquela que se diz ser a floresta mais antiga ainda existente. Tamam Negara tem cerca de 130 milhões de anos e uma das suas principais atrações é um caminho feito entre árvores, em pontes suspensas, e a sua paisagem de cortar a respiração. As ilhas malaias também são conhecidas por albergarem praias fantástica de águas quentes e de areia branca, até às quais se chega passando uma densa vegetação.
Na impossibilidade de visitar todas, escolhemos as Perhenthian, a apenas 40 minutos de barco de Kuala Besut, na costa este do país. Besar é a ilha maior mas Kecil, que lhe recomendamos, é mais selvagem, com pequenos alojamentos e noites passadas à volta da fogueira na praia. Uma das atividades a experimentar é o snorkeling, para nadar ao lado de tartarugas e de peixes de todas as cores. Uma experiência inesquecível!
A face europeia e colonialista que torna Malaca (ainda mais) interessante
Rumando para sul e a apenas duas horas de viagem de autocarro de Kuala Lumpur, chegamos a Malaca, que é uma espécie súmula do colonialismo europeu. Por ali andaram portugueses, holandeses e britânicos e, ainda hoje, há vestígios dessa passagem. Podemos mesmo dizer que a quase 12.000 quilómetros de Portugal, Malaca tem um lado bem português. O ex-líbris é a Porta de Santiago e o que resta da fortaleza antiga.
As ruínas da igreja de São Paulo, que no alto de uma colina permitem ver toda a cidade, também merecem um desvio. Além disso, foram o local escolhido pelo pintor Sazali Said para mostrar o seu trabalho quando não está no estúdio. Trocar dois dedos de conversa com ele é ficar a saber mais sobre a cidade, o seu passado e o seu presente. Os vestígios portugueses não se ficam pelo centro histórico, considerado património da UNESCO. Junto ao mar, há um bairro português, de casas térreas e com um crucifixo por cima da porta, que ainda tem ruas de nomes portugueses.
É lá que vivem os descendentes dos nossos antepassados, como facilmente constatamos pelo que observamos. Há até um Cristo Rei e um palco onde se celebram os santos populares! Voltando ao centro, Malaca é uma cidade pitoresca à beira-mar plantada, dividida por um canal que pode ser percorrido de barco. Nesta viagem, é possível ver como a cidade tem aproveitado a arte urbana para embelezar as suas margens.
Os edifícios pintados, casas, galerias, bares e hotéis, dão-lhe um colorido ímpar e contam muito da sua rica história. Na rua mais famosa, Jonker walk, há vários antiquários e cafés muito trendy. The Daily Fix e Blaklane Coffee, que visitámos quando lá estivemos e que aconselhamos, são um exemplo. À sexta-feira e ao sábado, esta rua transforma-se num mercado com comida local e todo o tipo de bugigangas.
Informações úteis para uma viagem sem surpresas
Com a Emirates, é possível viajar até Kuala Lumpur, fazendo escala no Dubai. A Turkish Airlines também voa para lá, com escala em Istambul. Do aeroporto até ao centro da cidade, há um comboio rápido. Idealmente, deve visitar este destino de março a novembro, fora da época das monções. A temperatura média ronda os 30ºC e os níveis de humidade são elevados. Um euro equivale a cerca de 4,72 ringgits malaios.
Antes de ir, faça uma consulta do viajante, um mês antes da partida, pelo menos. Não há vacinas obrigatórias a tomar, mas, segundo os especialistas, são recomendáveis a da hepatite A e a da febre tifoide, para evitar contaminações pela comida e água, que ainda continuam a ser muito comuns. Se for para zonas rurais, deve também fazer a profilaxia da malária. Não se esqueça também de levar repelente de insetos na bagagem.
Em termos de alojamentos, em Kuala Lumpur sugerimos-lhe o Lantern Hotel. Fica no centro de Chinatown, perto de uma estação de metro e de grande parte das atrações da cidade. Este é um hotel moderno com uma relação qualidade/preço excelente. Tem também um terraço muito agradável, de onde pode ver o rebuliço da zona, a par de outra vantagem. Preços a partir de 20€ em quarto duplo com pequeno-almoço.
Texto: Rita Caetano
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