A Casa de Juste é um autêntico museu vivo que encerra histórias com seis séculos. Todos os anos, uma equipa de jardineiros britânicos assegura, com mãos de mestre, a estética dos buxos e das figuras de topiária. Liderados pelo experiente jardineiro Chris Crowder, sete voluntários de origem britânica aplicam a sua arte nas composições de buxo talhado que caracterizam a Casa de Juste.
Com mãos de mestre, dia após dia, as espécies voltam a ganhar forma após um ano de crescimento desordenado. Há muito para fazer nos jardins da propriedade e apenas a experiência da equipa de Chris Crowder, o famoso jardineiro inglês que há mais de 20 anos está à frente dos destinos dos jardins de Levens Hall, em South Lakeland, consegue levar a bom porto os trabalhos de poda, para devolver a estética aos buxos desta propriedade do séc. XIV, em Lousada.
Há anos em que não se ouve qualquer ruído resultante da utilização das podadoras e a propriedade pode assim continuar a viver os momentos de tranquilidade. Com a seleção de voluntários, Chris Crowder levou também consigo o patrocínio de uma marca de ferramentas para jardins que aposta em produtos ecológicos, neste caso amigos do ambiente em termos de ruído. Com pequenas baterias colocadas em mochilas nas costas dos operadores, as podadoras fazem o trabalho sem ferir os ouvidos dos visitantes e sem poluir o ar com emissões de CO2.
Chris Crowder começou a liderar os trabalhos de poda na Casa de Juste há cerca de 10 anos, por intermédio de um amigo americano, o primeiro a assumir o voluntariado em Juste quando ficou fascinado com os buxos da quinta. E, ano após ano, durante uma semana, juntam o útil ao agradável. Fazem o que gostam em regime de voluntariado e ao mesmo tempo desfrutam de férias no norte do País. No final, as sebes e as figuras de buxo voltam a fazer as delícias dos hóspedes e dos visitantes.
Museu vivo
A Casa de Juste está situada uma propriedade que pertenceu a uma enorme quinta do séc. XIV. Nas mãos da mesma família há 600 anos, é atualmente explorada por Fernando Guedes e sua mulher, Ana Osório, que recuperaram o solar, construiriam o jardim e a horta (além de todas as restantes infraestruturas) e colocaram Juste na rota das casas de turismo rural de qualidade.
De inegável valor patrimonial, o solar com características arquitectónicas desde o medieval ao barroco, tem capacidade para 30 pessoas e está rodeado por cerca de cinco hectares de vinha para produção de verde branco com as principais castas da região (Loureiro, Pederna, Trajoura e Azal Branco) e cerca de seis hectares de mata, jardins e horta.
Paredes meias com a fachada principal, uma capela de estilo barroco do séc XVIII com altar em talha dourada, também totalmente recuperada, constitui um dos numerosos motivos de interesse histórico que toda a propriedade guarda religiosamente há seis séculos e que agora estão ao alcance de todos, hóspedes e visitantes.
A janela manuelina, único exemplar existente em toda a região do vale do Sousa é outro dos pontos de interesse da Casa de Juste. As cruzes de Malta e de Cristo, gravadas na pedra por cima de duas portas paralelas na varanda do solar atestam as ligações dos antepassados da família às ordens religiosas e provavelmente à casa real.
Junto da horta, onde se cultivam produtos biológicos para abastecer a cozinha, a Casa da Eira é o local ideal para quem prefere ainda mais intimidade. Com piscina privativa, quartos duplos e cozinha, esta infraestrutura complementa a oferta turística do solar em ambiente mais recatado.
A partir daí, é possível percorrer os caminhos ajardinados à volta das vinhas e partir à descoberta dos diversos pontos de interesse que podem ser a zona dos lagos com pavões e cisnes, o anfi-teatro que está a ser construído e que servirá de palco às manifestações artísticas que de resto já são promovidas (concertos, fado, música barroca e ópera) ou o jardim de aromáticas praticamente nos limites da quinta.
Produtos artesanais
Embora vocacionada para turismo de habitação, a Casa de Juste tem os portões abertos a qualquer visitante. Por uma quantia simbólica, individualmente ou em grupo, é possível visitar o solar e os jardins. E, para quem quer saber mais sobre os segredos da cozinha de Juste, Fernando Guedes promove workshops sobre licores ou doces tradicionais, plantas aromáticas e outros temas com ligação à casa e à região.
Uma fábrica onde se produzem queijos de cabra, vaca, mistura e frescos, abastece a loja de artesanato e produtos gourmet onde se podem encontrar também compotas, bolachas, vinho, azeite e artesanato, estrategicamente localizada na estrada que dá acesso à propriedade e aberta ao público em geral. Os produtos artesanais da Casa de Juste há muito ultrapassaram as fronteiras de Lousada e podem ser encontrados em lojas de qualidade um pouco por todo o país.
A propriedade possui também uma sala de grandes proporções com capacidade para 200 pessoas, preparada para eventos de diversa natureza como festas, congressos ou reuniões de trabalho, totalmente construída de raiz. Na forja está o projeto de construção de um parque de estacionamento com capacidade para 200 viaturas e a sinalética da quinta para facilitar os percursos, além do projeto de rega em parceria com a Associação Jardins Históricos.
Com apenas dois jardineiros para cuidar de toda a propriedade (um nas manhãs dos dias de semana e outro aos sábados), o jardim está permanentemente em obras, além da preciosa ajuda anual dos especialistas ingleses e americanos. «Só assim consegui levar este projecto para a frente», remata Fernando Guedes.
Com cerca de três mil visitantes por ano, na sua maioria estrangeiros, aos quais se juntam visitas escolares, a Casa de Juste oferece ainda atividades de entretenimento como passeios pedestres, a cavalo, circuitos culturais (Rota do Românico do Vale do Sousa e Amarante) e desportos radicais.
Textos: Luís Melo
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