Se outrora o príncipe William e o príncipe Harry uniram-se na dor do luto, após a morte da mãe, a princesa Diana, agora estão mais afastados do que nunca. O relacionamento de Harry com Meghan Markle deu origem às desavenças e reacendeu traumas e dores antigas entre os irmãos.
Robert Johnson, especialista em realeza, dedica um dos capítulos do seu novo livro - 'Catherine, A Futura Rainha' - à questão.
Kate Middleton, conhecida pela sua personalidade conciliadora, tendo até sido responsável pela aproximação de William ao pai, o rei Carlos III, teve um papel (nem sempre desejado por si) na tormenta real protagonizada pelo marido e pelo cunhado.
"Eu e o William estamos muito contentes. É uma notícia muito emocionante. É um momento feliz para qualquer casal. Desejamos-lhe as maiores felicidades e esperamos que desfrutem deste momento feliz”, estas foram as palavras de Kate à imprensa depois da relação de Harry e Meghan Markle ter vindo a público - algo que aconteceu a 31 de outubro de 2016, após a jornalista Camilla Tominey ter divulgado o romance no Sunday Express.
A princesa de Gales mal sabia o que o futuro lhe reservava.
O início dos desentendimentos
Apesar de se ter demonstrado entusiasmado com a relação de Harry no início, uma vez que era fã da série 'Suits', protagonizada pela (agora) ex-atriz, tempos depois William revelou-se mais reticente quanto ao romance.
"William confidenciou ao irmão que achava que seria melhor dar a Meghan mais tempo para se adaptar ao estilo de vida da realeza e sugeriu que ele deixasse esfriar a relação. Harry sentiu-se confrontado e considerou um insulto. Como resultado, a relação com o irmão deteriorou-se rapidamente", escreve Jobson.
Com Meghan na família real, Kate acabou por se ver envolvida numa competição com a cunhada criada pelos meios de comunicação social. Se por um lado, os jornais britânicos viam - e noticiavam - com bons olhos os comportamentos da então duquesa de Cambridge (agora princesa de Gales), o mesmo não acontecia com Meghan.
"Com a entrada de Meghan em cena, William e Catherine podem ter, inconscientemente, subido a fasquia, devido ao novo casal da realeza. Havia sussurros de mesquinhez e até de ciúmes", sublinha o autor do livro.
Jobson nota que William era "competitivo por natureza", mesmo na "cobertura mediática", pelo que a atenção que o irmão e a cunhada recebiam à época era motivo de desconforto para si e para a corte real.
A 27 de novembro de 2017, Harry e Meghan Markle anunciam que estão noivos© Reuters
A "patada" de Meghan Markle à hierarquia real
William, Kate, Harry e Meghan Markle reuniram-se a 28 de fevereiro numa conferência cujo mote era 'Making a Difference Together' ('Fazer a diferença juntos', em tradução livre).
O escritor lembra as perguntas que Daheley, jornalista da BBC, fez aos casais sobre alegados desentendimentos que poderiam ter.
"Temos quatro personalidades diferentes e a mesma paixão por fazer a diferença, mas opiniões diferentes. Penso que essas opiniões funcionam bem. Trabalhar em família tem os seus desafios, e o facto de todos se rirem mostra que sabem exatamente como é. Estamos presos uns aos outros para o resto da vida”, realçou Harry.
Às palavras do príncipe juntaram-se as de Meghan, que acrescentou que “as mulheres não precisam de ‘encontrar’ uma voz; as mulheres já têm uma voz”.
"As fissuras começaram a aparecer a partir desse momento. Meghan, talvez sem se aperceber, tinha ignorado a hierarquia real. Ela não tinha apenas pisado os calos da realeza, tinha-lhes dado uma patada", atira Jobson.
"Falaste das minhas hormonas"
Um dos desentendimentos de Kate e Meghan foi causado por um comentário que a ex-atriz fez à cunhada ao referir que esta tinha "cérebro de bebé", devido ao seu estado hormonal durante a gravidez do filho mais novo, o príncipe Louis.
"Falaste das minhas hormonas. Não somos suficientemente próximas para falares das minhas hormonas", terá dito Kate a Meghan, durante um encontro em Buckingham após os duques de Sussex terem regressado da lua de mel, conforme revelou Harry no seu livro biográfico 'Na Sombra'.
Na altura, William terá acusado a cunhada de ser "mal educada", esta não se deixou ficar e disse "tira o dedo da minha cara" ao futuro rei.
A pressão mediática
Em 2019 os artigos negativos sobre Meghan Markle na imprensa multiplicavam-se. O Daily Telegraph chegou a noticiar que Meghan teria feito chorar Kate durante uma prova do vestido de Charlotte, filha mais nova de Kate e William, para o casamento.
Na polémica entrevista que deu a Oprah Winfrey, juntamente com o marido, Meghan notou que aconteceu o contrário. Para a ex-atriz, foi um "ponto de viragem na relação das duas", até porque ficou muito "magoada".
O teste à paciência de Kate
A 14 de março de 2019, o Palácio de Kensington "anunciou a separação permanente das casas reais de William e Harry". Para Robert Jobson, a decisão demonstrou que os irmãos estavam cada vez mais distantes - na vida e no trabalho.
"O instinto de Catherine sempre foi resolver os problemas através do diálogo, mas a disputa de Harry/Meghan testou a sua paciência até ao limite", notou o também comentador real. "Catherine é uma pessoa que encontra soluções e não alguém que enterra a cabeça na areia ou que se esforça por entrar em conflito", notou ainda.
Jobson destaca o lado "estabilizador" da princesa de Gales, o qual nem sempre foi suficiente para acalmar os ânimos.
Em 2020, Harry e Meghan emitiram um comunicado a anunciar que estavam de saída do núcleo sénior da realeza, sendo que o seu objetivo era estabelecerem um novo papel "progressivo", estando dispostos a dividir o seu tempo entre a América do Norte e o Reino Unido.
Os planos não correram como o casal esperava. A rainha Isabel II não deixou que tivessem um papel 'híbrido' - ou estavam totalmente comprometidos com a 'Firma' ou viravam-lhe as costas de vez. Foi isto que fizeram no caminho independente que seguiram após mudarem-se para a Califórnia, Estados Unidos.
Adeus, Harry e Meghan
9 de março de 2020: esta foi a última vez que os quatro foram vistos juntos. Tal, recorda Robert, aconteceu numa cerimónia que teve lugar na Abadia de Westminster. "Quando chegou a altura de se sentarem, mal reconheceram a presença uns dos outros. Não houve qualquer diminuição da tensão - antes pelo contrário", realça.
O último evento em que se reuniram os quatro a nível oficial, antes da partida de Harry e Meghan© Getty Images
Os quatros reuniram-se uma vez mais a 10 de setembro de 2022, dois dias após a morte da rainha Isabel II, para verem as homenagens deixadas pelos cidadãos no Castelo de Windsor.© Chris Jackson/Getty Images
A 31 de março de 2020, Harry e Meghan completaram os seus compromissos enquanto membros da realeza e partiram para o Canadá, onde viveram durante um período até se mudarem definitivamente para os EUA.
No meio de todo o turbilhão, Kate manteve-se dedicada ao seu papel na realeza, às suas causas e, neste ano, à sua recuperação, após ser diagnosticada com cancro.
Num vídeo divulgado em setembro, no qual revelou que tinha terminado os tratamentos de quimioterapia, disse: "Este tempo, sobretudo, levou o William e eu a refletirmos e a estarmos gratos pelas simples, contudo importantes, coisas da vida, que tantos de nós tantas vezes tomamos por garantidas. De simplesmente amarmos e sermos amados".
Será este o início de uma nova era na qual Kate está disposta a colocar os problemas do passado para trás das costas? O tempo o dirá.
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