Foi na cordilheira dos Andes, no atual Peru, que os conquistadores espanhóis do século XVI descobriram o tomate, um fruto que é habitualmente referido como sendo um vegetal. Há vários séculos que os Incas conheciam essa planta a que davam o nome de tomalt e que na sua versão original sul-americana produzia frutos de tamanho minúsculo, bem mais pequenos que o tomate comum atual que em algumas variedades pode pesar mais de um quilograma.
Encantados com o aspeto do tomate, que encontraram depois também no México, os espanhóis trouxeram nas suas naus para a Europa a planta, que começou por ser semeada na soalheira Andaluzia. Nessa época era muito comum os mosteiros de cidades como Sevilha, Granada ou Córdova terem hortas repletas com as novas plantas descobertas noutros continentes, espécie de jardins botânicos improvisados.
Foi na Andaluzia, em vésperas de serem definitivamente expulsos da Península Ibérica, que os últimos mouros espanhóis se deixaram também encantar com o tomate, levando-o depois na sua fuga para o Norte de África, zona a partir do qual a planta vermelha em forma de coração se espalhou por todo o mundo árabe.
De planta ornamental a alimento essencial da dieta mediterrânica, o tomate teve, porém, de percorrer um longo percurso. Graças ao boticário italiano Pierandrea Matthioli, ganhou ainda no século XVI fama de afrodisíaco, de tal forma que o seu nome em italiano (pomodoro) reflete o valor dada à dita “maçã de ouro” ou “maçã do amor”.
Atento à crescente popularidade da planta em Espanha e na Itália, um prestigiado botânico inglês, John Gerard, decidiu estudar a fundo o tomate e classificou-o como tóxico, desaconselhando o seu consumo. Poucos deram atenção às suas ideias no mundo mediterrânico, habituados que estavam já a consumir a planta de origem andina, mas graças a Gerard até meados do século XVIII os ingleses viram o tomate apenas como planta ornamental, havendo mesmo quem a associasse ao demónio e lhe desse o nome de “pêssego do lobo”.
Nas colónias inglesas da América do Norte a aversão ao tomate como alimento também se fez sentir durante várias décadas, mas os habitantes da Carolina do Sul, logo no início do século XIX, encarregaram-se de convencer os restantes habitantes dos recém-nascidos Estados Unidos da América da benignidade da planta e do seu grande valor vitamínico. O próprio Thomas Jefferson, que chegou a ser Presidente americano, tudo fez para promover o consumo de tomate, plantando-o na sua quinta de Monticello, na Virgínia, e convidando quem o visitasse a degustar o saboroso fruto, em geral cortado às rodelas para enfeitar pratos de grande requinte culinário.
Um cientista americano publicou, entretanto, um artigo nos jornais a elogiar as qualidades do tomate e, quase de um momento para o outro, os americanos esqueceram-se dos medos do passado e transformaram-se em entusiastas da planta, cujo cultivo se propaga.
Não admira, pois, que ainda no século XIX a paixão americana pelo tomate dê origem a um novo produto, o ketchup, que o industrial Henry Heinz transformou em produto de grande consumo nos lares americanos e hoje se espalhou por todo o mundo.
A palavra ketchup é de origem desconhecida, mas era já usada na América para designar produtos em conserva antes de ser associada a pasta de tomate adocicada. Uma das teses aponta a palavra como sendo de origem chinesa e trazida para o Ocidente pelos marinheiros.
Consumido fresco, em saladas ou sopas, em pasta, em doce, em ketchup ou em sumo, o tomate impôs-se na dieta quotidiana da maior parte da população mundial, seja na Europa seja na China, que hoje vê na planta um alimento extremamente saudável.
Portugal é um médio país produtor de tomate, sendo que o principal produtor mundial são atualmente os Estados Unidos. Celebrado universalmente, o tomate dá origem a inúmeras festas por altura da sua colheita, a mais famosa a ser provavelmente a Tomatina que se realiza sempre na última quarta-feira de agosto na cidade espanhola de Buñol, perto de Valência. Uma batalha campal que deixa os participantes literalmente encharcados em polpa de tomate.
A planta mereceu até ser tema de um filme realizado por John de Bello em 1980 e intitulado O Ataque dos Tomates Assassinos, hoje considerada uma película de culto.
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