A arte está-lhe no corpo. Iniciou-se na poesia durante a adolescência, passou depois para o teatro e, aos 21 anos, começou a dançar. Desde então, tem espalhado a sua arte pelo mundo. Em 2016, o seu palco foi Lisboa, na bienal Artista na Cidade. Falamos de Faustin Linyeluka, dançarino e coreógrafo congolês, que se diz um contador de histórias e um cidadão com direitos, mas também muita responsabilidade para com a comunidade.
A prova disso é o seu projeto na sua cidade natal, Ubundo, os Studios Kabako, que mostram que mesmo no meio do caos, a arte sobrevive e permite que as pessoas continuem a sonhar, como ele faz todos os dias. Em entrevista à Saber Viver, o bailarino, que se inspirou numa estátua da etnia lengola que viu em Nova Iorque para a sua última criação artística, fala das experiências que tem tido e recorda o que prefere em Lisboa.
Podia viver e trabalhar em qualquer parte do mundo, mas escolheu viver no Congo e na sua cidade natal. Porquê?
Como cidadão é importante estar lá e como artista posso contar as histórias que lá acontecem. Criei um espaço onde se pode sonhar e isso é muito importante nas partes mais frágeis do mundo, onde a arte pode fazer a diferença. Os Studios Kabako são, para mim, mais do que um trabalho, é uma plataforma, através da qual posso ajudar outras vozes artísticas, construindo uma comunidade de sonhadores.
Mas não deve ser muito fácil ser artista no Congo...
Acho que não é fácil ser artista em nenhuma parte do mundo, mas eu sinto-me um privilegiado. Não me posso queixar, tenho trabalhado muito para ser reconhecido, mas também tenho tido sorte em conhecer pessoas que acreditam em mim e que me ajudam. Tenho tido anjos da guarda e, por isso, posso ser também anjo da guarda de outras pessoas.
O que é para si a dança?
É uma forma de relembrar o meu nome e de espalhar o meu conhecimento pelo mundo. É uma arte imbuída no meu corpo, uma memória genética.
Porque decidiu aceitar o convite para ser o Artista na Cidade em Lisboa em 2016?
Nunca poderia dizer que não a este convite. Foi uma grande honra estar em Lisboa, apresentar o meu trabalho e conhecer outras pessoas. Um artista não pode estar sozinho, tem de alargar a sua rede de trabalho e a melhor forma de o fazer é passar tempo com pessoas.
A cidade inspira-o?
Sim! Lisboa é uma cidade cheia de vida, verdadeira, com uma certa decadência, mas com energia. É um espaço muito estimulante…
Qual é o seu lugar preferido de Lisboa?
O Miradouro da Senhora do Monte. Adoro subir a colina e ficar lá em cima a olhar para a cidade. É um local fantástico para respirar sem estarmos longe da realidade. Também gosto de apanhar o barco para Cacilhas e olhar para Lisboa, para o rio e para a ponte.
Há um livro que o tenha marcado?
Sim, "Poétique de la relation", de Edouard Glissant.
E um músico?
Franco Luambo, um guitarrista e cantor congolense.
Entre os coréografos, se tivesse que eleger apenas um, qual referiria?
Daniel Larrieu
A par de Lisboa, que já elogiou aqui, há assim uma outra cidade que o encante?
Sim, Kinsangani, [capital de Tshopo, província da República Democrática do Congo].
Texto: Rita Caetano
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