"Lembro-me de ter uma infância muito boa, muito bonita", foi desta forma que Fábio Paim, de 37 anos, deu início à sua curva da vida. Num testemunho emotivo e impactante, o antigo futebolista lembrou o seu percurso em imagens divulgadas durante a gala de domingo, 3 de agosto, do 'Big Brother Verão', da TVI.

"O Sporting deixou-me com uma pistola à cabeça"

"O meu pai deixou-me quando eu era muito novo. A minha mãe e o meu tio foram as pessoas que me criaram e me deram todo o carinho e amor", disse, sem conseguir conter as lágrimas.

Foi no Bairro de Alcoitão que começou a dar os primeiros pontapés numa bola e não tardou até que o seu talento fosse notado. Com sete anos chegou ao Sporting e aos 10 anos quiseram dar-lhe o primeiro contrato para assinar - "recebia 10/ 11 mil euros".

"Aos 15 anos, assino o segundo contrato. Aí já era um contrato profissional, que mudou mesmo a vida da minha família. Já ganhava mais do que alguns jogadores que estavam na equipa principal e aí acho que foi o começo dos meus problemas", assumiu.

Por essa altura, com o sucesso e o dinheiro a aparecerem, começaram também a surgir "pessoas, familiares e mesmo o próprio pai". "Começam a aparecer coisas, pedidos para pagar rendas, para pagar tudo e mais alguma coisa e é aí que começa a aparecer o nosso ego, de quem vem do nada, de quem não sabe o que é o dinheiro, de quem não respeita o dinheiro."

Em 2004 foi chamado à seleção nacional e nessa altura revela ter-se sentido com o ego ainda mais inflado: "Nessa altura achava que era um craque, que não era".

"Tinha controlo sobre tudo, sobre as contas, sobre tudo, mas eu tinha apenas 16 anos, não tinha noção e não tinha ninguém que me pudesse parar.

Não quero, de todo, meter a culpa no Sporting, mas acho que o Sporting deixou-me com uma pistola à cabeça. Acho que foi aí o ponto de viragem para a minha queda", admitiu.

"Aos 18 anos era dos jogadores mais valiosos na altura. Fui emprestado ao Olivais e Moscavide, comecei a conviver com outros colegas mais velhos e começo a conhecer o mundo da noite."

"Deixei de jogar, de receber, o dinheiro que tinha fui gastando em droga"

O 'fim' da carreira de Fábio Paim deu-se naquela que foi a sua última aventura futebolística. O antigo futebolista teve oportunidade de rumar ao Chelsea, mas em Inglaterra "decidiu que os seus amigos eram mais importantes, a festa, a noite, os copos, tudo era mais importante que o trabalho", e não se apresentou mais no clube de futebol.

De regresso a Portugal, o Sponting informou-o que teria de passar a jogar num clube da terceira divisão. O "ego alto" levou a que recusasse a proposta e assim abandonou a carreira.

"Deixei de jogar, deixei de receber, o dinheiro que tinha fui gastando em droga, em mulheres, em noite, em ajudar toda a gente. O dinheiro acabou e foi quando toda a gente foi embora", lamentou, explicando que, nessa altura, apenas a família lhe valeu.

"Foi um erro que estou a pagar até hoje. Só me posso culpar a mim. Tinha tudo, deram-me as oportunidade todas e não quis, não quis ver", apontou ainda.

O dia em que foi preso diante dos filhos

"Para sustentar a vida que tinha, de vícios, comecei a vender droga. Sou apanhado numa operação da polícia e sou detido", admitiu, referindo-se ao momento em que acabou preso, durante um ano, aos 32 anos, por tráfico de droga.

"O que mais me custou foi a minha ex-sogra, que sempre me tratou como filho, sempre me respeitou e eu ver entrarem pela casa dela a dentro por minha causa. Os meus filhos a verem aquilo sem entender, verem o pai algemado... É algo que não tenho mais como pedir desculpa", referiu em lágrimas.

"Fui preso com 32 anos, estive lá um ano. Pensei, no princípio, que seria o meu fim, mas foi o ponto de viragem", enalteceu, dando conta que se tronou uma pessoa mais focada depois desta experiência.

Desde então, Fábio Paim dá palestras a jovens, "palestras do insucesso", nas quais fala sobre o percurso de vida como forma de inspirar e ajudar quem o escuta a escolher os caminhos certos.

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