Tem por hábito vir de férias para Portugal mas há oito anos que não atuava em palcos portugueses. Aos 53 anos, a cantora inglesa, que ficou famosa por êxitos globais como "Touch me (I want your body)" e pelas fotografias em topless que tirou antes de começar a cantar, continua a gravar discos e a fazer concertos. O último foi no passado sábado, no palco principal da FNA19, a Feira Nacional da Agricultura, em Santarém.
Samantha Fox foi a convidada de David Antunes & The Midnight Band, que também desafiou Toy a atuar com o grupo em palco. Em entrevista exclusiva ao Modern Life/SAPO Lifestyle, a cantora, que ainda está a recuperar de uma intervenção cirúrgica ao ombro esquerdo, fala da vida e da carreira e dos novos projetos. Além do novo álbum que se prepara para lançar, também está a negociar uma série sobre a sua vida.
Há já 32 anos, um ano depois de ter iniciado uma carreira como cantora, gravou "Nothing's gonna stop me now", onde assegurava, então, que nada a fazia parar. Hoje em dia, vê-se que mantém o mesmo espírito. Acaba de ser operada a um ombro, os médicos aconselharam-na a parar durante algum tempo mas, ainda assim, não esperou muito para voltar a subir aos palcos, desta vez com David Antunes & The Midnight Band, em Portugal...
Sim, não há nada que me pare. A operação foi há três semanas...
Os médicos aconselharam-na a parar durante, pelo menos, quatro...
Eu sei... [faz a expressão facial de uma criança que sabe que acaba de cometer uma travessura e faz uma pausa] Eu li o e-mail que o David me enviou com o convite e, na altura, apercebi-me que já não atuava em Portugal há para aí uns oito anos. É muito tempo! Apesar de ter o hábito de vir para cá de férias, não cantava aqui há bastante tempo. E o e-mail do David era muito interessante...
Como podem imaginar, recebo muitos e-mails com propostas interessantes e o meu agente achou que seria uma oportunidade interessante para regressar cá. Fui ver vídeos do David com a The Midnight Band ao YouTube e achei muita piada à banda. Acho interessante o modo como o David interage com a audiência... Ele é um grande performer! Para mim, foi o sinal de que estava na altura de regressar a Portugal...
Disse há pouco que costuma vir para cá de férias...
Sim, adoro! Venho muitas vezes para cá...
E onde é que costuma ir?
Vou, sobretudo, para o Algarve, para Vilamoura. Tenho também uma amiga que mora em Tavira... Há muitos ingleses a viver no Algarve! Tenho uma outra amiga que arrenda uma casa fabulosa em Lisboa. Tenho o hábito de ir sempre dois ou três dias para lá quando venho a Portugal... É um sítio perfeito para relaxar e para apanhar banhos de sol!
Aproveitou esta pausa forçada depois da operação cirúrgica a que foi submetida para ultimar o disco novo que está a preparar...
Sim, já está gravado...
E quando é que o vamos poder ouvir?
Agora, tem de ser masterizado, para ficar com um som excelente, mais cristalino... Hoje em dia, com o formato vinil, CD e mp3, há muitas diferenças em termos de qualidade de som. Eu quero que o meu novo disco tenha um som mais quente, menos industrial.
Vamos tentar que tenha um som próximo do do vinil e vamos também lançá-lo em vinil porque é o melhor som que existe. Estou a contar lançá-lo dentro de três a quatro meses.
Foi uma das mulheres mais desejadas do mundo desde muito nova. Tinha 16 anos quando começou a fotografar em topless. Agora, aos 53 anos, como é que lida com o passar dos anos? Uma das coisas que deu para perceber neste seu regresso aos palcos portugueses é que está com uma voz mais grave, mais madura, mas não foi só a voz que mudou....
Claro que não. Estou com 53 anos! [afirma com orgulho]
E como é que lida com isso?
Eu tinha 20 anos quando o [primeiro] single "Touch me (I want your body)" saiu. A minha voz era mais aguda... [imita a voz que tinha na altura] Acho a minha voz mais sexy agora. Está também mais forte e mais poderosa. Como disse há pouco, o meu novo álbum pop sai dentro de três ou quatro meses mas a seguir quero gravar um álbum de rock, um disco de rock de celebridades, com temas dos Motörhead, dos Def Leppard, dos Iron Maiden. Eventualmente, com a participação do [guitarrista] Slash... Porque eu sempre fui, de certa forma, uma roqueira frustrada...
Mas, além de ter integrado um grupo de rock, os SFX, antes de se lançar a solo, chegou a gravar um tema dos Rolling Stones, no seu segundo álbum...
Sim, o "(I can't get no) Satisfaction". Essa era, ainda assim, uma versão muito pop mas, quando a canto ao vivo, faço uma versão rock, muito na linha da deles! A verdade é que eu adoro musica. Adoro pop, adoro rock, adoro funk...
Também chegou a gravar música de dança e até house...
Sim, o meu gosto é muito variado e estou convencida que, tal como eu e você, muitas pessoas gostam de diferentes tipos de musica. Quando uma canção é boa, é boa! Não importa se é pop, se é rock...
Está com uma silhueta fantástica para quem acaba de fazer 53 anos. Qual é o seu segredo?
[faz uma pausa] Procuro manter-me em forma, fazendo exercício. Tento comer bem, cuido de mim... Faço por ser feliz. E estou apaixonada!
É engraçado que fale nisso porque faz este ano 20 anos que começaram a surgir os primeiros rumores acerca da sua homossexualidade, que mais tarde viria a confirmar. Depois desse anúncio, os homens começaram a olhar para si de outra forma? Sentiu alguma diferença?
[faz uma nova pausa] Eu acho que a minha sexualidade tem sido muito sobrevalorizada. Eu acredito no amor, o amor é a única lei e é tudo o que me limito a dizer em relação a este assunto.
Na sua autobiografia, "Forever", lançada recentemente, revela a dada altura que teve a sorte de ter crescido com todos os dedos das mãos porque era muito irrequieta. Tem mesmo algumas cicatrizes desses tempos...
A minha mãe está aqui ao meu lado e não me deixa mentir. Sempre tive uma personalidade muito forte! Mas também passava muitas horas a treinar a minha assinatura. Rabiscava os meus livros de escola todos. Sempre soube que, um dia, seria famosa!
É curioso falar da sua mãe, com quem tem, desde sempre, uma relação muito próxima. Até pelas fotografias que partilha nas redes sociais, vê-se que passa muito tempo com ela. Têm uma relação muito forte...
Sim, é verdade. Mãe há só uma! [olha para a progenitora com ternura e sorri] Ela é também a minha melhor amiga. Neste meio, é muito importante estares rodeado de pessoas que te amam verdadeiramente, que não estão contigo só porque és quem és e por causa da tua fama. No início da minha carreira, tinha muitas pessoas que não interessavam à minha volta, muitos shitheads. Percebe o sentido da palavra?
Sim, é muitas vezes usada para descrever gente idiota...
É isso! Por vezes, demoramos a perceber quem é que são os nossos amigos verdadeiros mas, agora, na minha idade, já sei muito bem quem é que eles são... A família é muito importante e um conselho que dou a todos os jovens artistas que estão agora a começar é que tenham sempre a família por perto.
São as pessoas que são mais honestas e que vos dizem sempre a verdade. Infelizmente, há crianças que não tiveram a sorte de nascer com bons pais. Eu rezo todos os dias para que todas as crianças do mundo tenham pais que as amem e que as valorizem...
Ainda assim, com essa preocupação que tem, nunca teve filhos. Nunca quis ser mãe?
Eu tenho montes de filhos, os meus fãs... São a chamada foxy army!
Eu sou um dos membros dessa armada de admiradores...
Eu acho que já tens demasiada idade para poderes ser meu filho... [risos]
Foram milhares os curiosos que vieram para a ver. Quando a chamou para subir ao palco da FNA19, a Feira Nacional da Agricultura, em Santarém, o David Antunes apresentou-a como uma lenda viva. Sente-se uma lenda viva? Também se vê como um ícone neste sentido?
Quando eu comecei a tirar as primeiras fotografias, tinha 16 anos e nunca pensei que hoje estaria aqui. Sinto-me mais uma privilegiada e uma agradecida. Sou muito agradecida pelo facto das pessoas permitirem que eu possa continuar a fazer o que gosto de fazer e a estar onde sonhava estar quando era criança e ambicionava ser uma estrela. Gosto muito dos meus fãs. É bom poder ser eu própria numa indústria que ainda hoje me mantém aqui.
Em relação à sua carreira, além do novo álbum, tem outros projetos em cima da mesa? O que é que está a pensar fazer a seguir?
Tenho, sim. A minha autobiografia saiu no Natal no Reino Unido. Está agora a ser lançada noutros países. Tenho andado a promovê-la. Vou também encetar negociações com a Netflix e com a BBC Two para transformar a minha história de vida numa série, para aí com uns 12 episódios. Ainda não decidi com qual delas é que vou avançar.
Neste momento, andamos à procura de três ou quatro atrizes para me representar. Temos de ter uma Samantha Fox em bebé e uma em criança, que era a Samantha Fox que entrava em concursos de talentos e que sonhava ser famosa. Depois, teremos a Samantha Fox que começou a trabalhar como modelo aos 16 anos e, depois, a cantar, aos 20. E, por fim, esta Samantha Fox que as pessoas veem agora.
Já entrou em vários filmes. Não põe a hipótese de fazer de si própria?
Ainda não sei... Muitas pessoas têm-me dito que deveria ser eu mas eu quero que a série seja muito credível. Eu já representei mas não o faço todos os dias. Não é a minha profissão. Eu sou cantora! A mulher que me representar terá de ser a melhor atriz do mundo. Eu não sei se seria suficientemente boa...
Tenho uma última pergunta. Em Portugal, temos acompanhado, nos últimos anos, toda a evolução do Brexit. Qual é que é a sua posição acerca da saída da Grã-Bretanha da União Europeia?
Eu não falo de politica! Mas, mais do que do Brexit, gosto de breakfast [pequeno-almoço]. Prefiro o breakfast... [risos] E gostei muito de ser entrevistada por si!
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