Mesmo que seja apenas um embrião com cinco semanas de idade. Mesmo que não estivessemos à espera de estar grávidas. Mesmo que... mil coisas.

Claro que todas temos formas diferentes de lidar com estas perdas e com a dor que delas deriva. E eu quero partilhar convosco a minha. Perdi um bebé em Julho deste ano. Às 13 semanas de gravidez descobri que o bebé tinha triploidia (ou seja, tinha um conjunto de cromossomas a mais, resultado de um óvulo que foi fecundado por dois espermatozóides) e que não tinha qualquer hipótese de sobrevivência. Teve que ser feita uma interrupção médica da gravidez.

Apesar de ter lido muito sobre o assunto, de me ter informado devidamente, de saber que o bebé não tinha esperança de vida nenhuma, custou. Custa sempre. Foram dias de angústia, antes da interrupção. Depois, apesar de estar muito mentalizada, de saber os quês e os porquês, tive quebras, momentos de choro, uma tristeza imensa.

Fisicamente, fiquei bem logo a seguir (tinha passado três meses enjoada, a comer pouquíssimo, sem energia nenhuma para nada, e tudo isso acabou no dia da interrupção), mas psicologicamente não foi assim tão imediato.

Eu sou uma pessoa positiva, que olha para a frente e não para trás. Mas, apesar de saber que fiz o que tinha que ser feito, ficou o vazio e a mágoa de ter tido este filho que não chegou a nascer.

Agora considero-me “curada”. Continuo a olhar para a frente. Fiz o luto que tive que fazer, encerrei o assunto, fechei o ciclo. Claro que me lembro e que penso nos “e se...”. Sei que agora estaria com cerca de seis meses de gravidez, sei o que sentiria e o que estaria a viver. Mas a vida nem sempre acontece como nós queremos e cabe-nos a nós enfrentar os desafios, adaptarmo-nos às realidades e lidar com elas.

Dizem que, quando a vida nos dá limões, devemos fazer limonadas. É bem verdade: quando somos capazes de lidar com os momentos maus, acabamos por relativizar e por conseguir seguir em frente. E temos, mesmo que ainda não saibamos, a força suficiente para isso. Só temos que acreditar que vêm por aí dias melhores e que, mesmo nas adversidades, temos capacidade e motivos para sermos felizes.

 

Lénia Rufino

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