​Joana acaba de entrar na escola. Pela primeira vez, abrem-se-lhe as portas de uma sala de aula. Quase a completar os 6 anos, finalmente, já podia dizer que era aluna do primeiro ano. Estava feliz e motivada para aprender.

Alguns dias mais tarde, a mãe repara que a Joana revela dificuldades na aquisição de competências que parecem relativamente fáceis para as outras crianças. Para além disso, não é capaz de terminar as tarefas dentro do tempo estipulado. Aos poucos e ao longo do tempo, Joana foi perdendo a confiança e até a autoestima. Não tinha vontade de ir à escola. O que fazer para a ajudar - perguntam, preocupados, os pais? ​

Em primeiro lugar, falar com a professora e tentar identificar o problema. Mas a docente acreditava que o nível de competências da Joana era normal face ao tempo de aprendizagem. Ainda assim, os pais pediram outras opiniões e o feedback foi quase sempre o mesmo: "talvez a Joana precise de mais tempo”.

Os pais da Joana questionavam, "como é que uma menina inteligente como a Joana, que acompanha em casa com grande facilidade as longas conversas em família sobre temas diversos, mais ou menos complicados, manifesta tantas dificuldades em adquirir competências básicas de aprendizagem?" E quanto mais aprofundavam a reflexão, mais dúvidas iam surgindo. "A internet, será que oferece alguma resposta credível?" - questionam os pais, cada vez mais confusos. Será dislexia? Hiperatividade? Défice de atenção? A família equacionava todos os cenários, contudo não queriam rotular a filha com um diagnóstico e decidem esperar…

E assim a Joana continuava .... O tempo ia passando e as dificuldades eram cada vez maiores. A resistência em ir à escola crescia, falava em dores de barriga e de cabeça para ficar em casa. Chegou a dizer à mãe que, ao contrário dos colegas, era "burra".

Se ao menos os pais conseguissem perceber, de facto, o que se passava com a Joana e obter a ajuda e o apoio de que precisa…

Esta história é fictícia, mas para muitos pais e crianças não o é, e histórias como esta são muito comuns. Alguns pais, tentam uma abordagem de “esperar para ver” na esperança que os seus filhos, de alguma forma, ultrapassem as dificuldades que estão a ter. A verdade é que cada criança tem o seu ritmo, nem todos aprendem da mesma forma e no mesmo tempo. Contudo há sinais de alerta importantes que não devem ser ignorados.

A verdade é que…

Quanto mais cedo melhor. Um estudo publicado no Jornal de Pediatrics, em 2015, refere que os alunos com dificuldades de aprendizagem tendem a manifestar os mesmos problemas durante a fase da adolescência, prejudicando o desempenho académico e o desenvolvimento emocional e comportamental, ano após ano. O mesmo estudo revela ainda que as dificuldades de aprendizagem se refletem mais tarde, não raras vezes, em níveis de desemprego mais elevados e remunerações mais baixas, podendo originar sérios casos de depressão. ​​

Mas não tem que ser assim

Há formas de evitar, que fique claro. Um diagnóstico correto é o primeiro passo para melhorar a qualidade de vida da criança. Uma intervenção atempada, logo durante a escola primária, é fundamental na medida em que permitirá melhorar consideravelmente a capacidade de resposta da criança, sobretudo a médio e a longo prazo. Antes que as dificuldades, como as da Joana, se agravem, procure um especialista (e.g. psicólogo, psicopedagogo, neuropsicólogo). Identifique o diagnóstico. A estratégia a desenvolver, quando corretamente aplicada com antecedência em função das respetivas necessidades de cada criança, permitirá obter melhores resultados, tanto a nível escolar como a nível comportamental, ajudando a criança a tirar máximo partido do seu potencial. ​

Uma intervenção precoce promove a saúde, o desenvolvimento e a educação através de serviços educativos, terapêuticos e sociais cujo objetivo é combater os efeitos no desenvolvimento da criança. Quanto mais cedo for implementada, maior se torna o potencial de desenvolvimento de cada criança. ​

Como pode uma intervenção atempada ajudar crianças como a Joana?

  • Ajuda a abordar as dificuldades de aprendizagem antes que elas se agudizem e levem a outras questões, nomeadamente comportamentais e emocionais;
  • Ensina competências e estratégias específicas, de modo a focar nos pontos fortes e minimizando e melhorando os pontes fracos;
  • Melhora os desempenhos e os resultados académicos;

Por outras palavras, ajuda as crianças a alcançar o seu pleno potencial como alunos.

No entanto, é essencial que cada programa de intervenção seja feito para cada criança, tendo em conta o seu perfil de aprendizagem, isto é, os seus pontos fortes e os seus pontos fracos. Para tal, torna-se essencial recorrer a um especialista, de modo a realizar uma avaliação psicopedagógica. Esta avaliação irá responder a quatro questões chave:

  1. Qual o seu perfil de aprendizagem;
  2. Qual o seu potencial de aprendizagem, isto é, os seus pontos fortes
  3. Quais as melhores estratégias em sala de aula e em casa e qual o melhor programa de intervenção que promova o seu sucesso escolar.

Porque o importante numa avaliação, não é tanto o diagnóstico, mas sim providenciar informação importante sobre a criança, de modo a que os pais possam tomar decisões informadas sobre a aprendizagem dos seus filhos, possam garantir que têm o apoio na escola a que têm direito, possam capacitar os filhos a ter uma melhor visão de como aprendem, para que finalmente os consigam ajudar a atingir o seu pleno potencial de aprendizagem.

Artigo publicado por SEI - CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM