Os comportamentos de sucção não nutritiva - chuchar no dedo ou usar chupeta - surgem de um reflexo que nasce com o bebé, sendo essencial para que possa alimentar-se. É frequente até que este hábito surja ainda antes do nascimento, no período de vida intra-uterina. No entanto, este reflexo, que é inato e fundamental para a sobrevivência do bebé, torna-se muitas vezes um hábito aprendido, que transmite uma sensação de bem-estar e segurança, com um efeito calmante para a criança.
Com o crescimento, a maioria das crianças, desenvolve outras estratégias de auto-consolo e abandona espontaneamente o hábito de chuchar, seja no dedo, seja na chupeta. Quando continuado, principalmente se persistente até à idade de erupção da dentição definitiva, este hábito poderá ter efeitos negativos no desenvolvimento harmonioso da boca e dos dentes.
Os efeitos do uso prolongado
Vários estudos demonstram que o uso prolongado de chupeta ou o hábito de chuchar no dedo aumenta o risco de efeitos negativos no crescimento adequado das estruturas oro-faciais, podendo afectar o desenvolvimento da boca e do palato (céu da boca) e condicionar também alterações no posicionamento dos dentes.
De acordo com estudos efetuados, parece haver algumas diferenças entre o chuchar no dedo ou na chupeta em relação ao tipo de alterações oro-faciais que condicionam.
O uso de chupeta estará mais frequentemente associado a alterações como mordida aberta anterior, em que os dentes de cima não estão em contacto com os de baixo, e mordida cruzada posterior, em que os dentes de cima parecem estar globalmente mais a frente que os de trás.
Nas crianças com o hábito de chuchar no dedo a alteração dentária que surge caracteristicamente é a chamada overjet, em que há um avanço dos dentes incisivos superiores em relação aos dentes inferiores, ou um desvio no sentido da língua dos incisivos inferiores.
O tipo de chupeta
Em relação ao tipo de chupeta que se utiliza, há estudos que comprovam a existência de vantagens no uso de chupetas geralmente designadas por fisiológicas ou anatómicas, que têm um formato mais estreito, "achatado", exercendo assim uma menor pressão nos dentes e palato e diminuindo o risco de deformação da boca e posicionamento dos dentes.
Apesar de ambos os tipos de sucção não nutritiva aumentarem o risco de alterações nos dentes e maxilar, o uso de chupeta é geralmente mais fácil de abandonar, sendo preferível oferecer ao bebé uma chupeta para consolo do que estimular o hábito de chuchar no dedo.
De modo consensual verifica-se que os efeitos negativos no desenvolvimento das estruturas oro-faciais é tanto maior quanto mais intenso for o uso da chupeta ou do chuchar no dedo, e quanto mais tempo persistir o hábito. Ou seja, bebés que usam chupeta durante todo o dia têm maior probabilidade de apresentar alterações da boca e dentes, que os bebés que usam chupeta apenas no período noturno.
Do mesmo modo, se o abandono do hábito de chuchar ocorrer até aos 2-3 anos de idade, a probabilidade de haver uma regressão espontânea de alterações da boca e palato que possam já existir é grande. Se os hábitos de sucção persistirem após os 4-5 anos e principalmente durante o período de erupção da dentição definitiva possivelmente surgirão problemas no desenvolvimento dentário que irão necessitar de correção ortodôntica (os populares "aparelhos" dentários).
É normal até aos 3 anos
O hábito de chuchar no dedo ou chupeta é normal nos bebés, sendo algo que lhes transmite segurança e conforto. A persistência deste hábito para além dos 3 anos associa-se a um maior risco de alterações do desenvolvimento das estruturas oro-faciais, nomeadamente com alterações do posicionamento dos dentes, sendo recomendado o abandono do mesmo a partir desta idade.
De modo a prevenir complicações recomenda-se para além da regular vigilância de saúde com o pediatra ou médico de família, que a partir dos 3 anos, todas as crianças façam uma consulta de rastreio com um especialista em Medicina Dentária.
Um artigo da médica Nádia Vieira Pereira, pediatra na Clínica CUF Alvalade e no Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Descobertas.
Comentários