Chama-se Chiara Ferragni, tem 38 anos, é uma empresária e influenciadora italiana que, há 15 anos, abriu caminho para um novo tipo de carreira no mundo digital e foi uma peça-chave na construção da figura do influencer.

“Toda a minha vida quis encontrar a minha identidade e como não tinha um grupo onde pertencia, comecei a ver online a plataforma social Punto Zero onde publicava as minhas fotografias”, começa por contar sobre esta ferramenta onde partilhava momentos da sua vida. Daí até à criação do seu blog pessoal The Blonde Salad foi num ápice e o resto é história. “Adorei a sensação de fotografar e partilhar uma parte da minha vida com as pessoas que eu gostava e que eram importantes para mim.”

Quando o blog se tornou no seu trabalho a tempo inteiro e começou a fechar parcerias de grande visibilidade, Chiara Ferragni refere que um dos principais desafios foi o de educar as marcas sobre como trabalhar com influenciadores e como é que, desta forma, podiam aumentar a sua visibilidade e alcance online. “Às vezes só me queriam dar coisas grátis e não sabiam como usar o poder das redes sociais”, refere. Aliás, não tem dúvidas de que “construir uma carreira profissional é muito mais fácil agora.”

Chiara Ferragni, a influenciadora original que construiu um império:
Chiara Ferragni, a influenciadora original que construiu um império: créditos: Divulgação

Apesar das parcerias e propostas aliciantes que recebeu ao longo dos anos, a influenciadora refere que sempre seguiu os seus instintos e nunca deixou que o dinheiro se sobrepusesse aos seus valores e à sua autenticidade. “O que me distinguiu dos outros [influenciadores] foi não ter feito isto por fama ou dinheiro. Isso acabou por acontecer, mas tudo o que fiz foi porque queria partilhar a minha vida com os outros e tirar as minhas fotografias.”

Em 2013 voltou-se para o mundo empresarial ao fundar a sua marca “Chiara Ferragni Collection” especializada em calçado e acessórios femininos. Um traço que a define é o facto de não ter medo de abraçar novos desafios, querer sempre mais e não se dar por satisfeita com as suas conquistas. “Vejo muito o feedback do meu público, mas se gostar de algo vou arriscar. Eles sabem que é um negócio e não têm de comprar todos os produtos que eu promovo.”

Mas como se sente Chiara Ferragni em relação à evolução desta profissão? Será que, ao fim de 15 anos, ainda gosta daquilo que faz? Ou tem algum arrependimento por ter trocado o curso de Direito pelo mundo digital? “Sinto-me bem ao postar”, afirma, explicando que a parte mais gratificante do seu trabalho é a reação do público aos seus conteúdos e a conexão que cria com a sua comunidade.

Chiara Ferragni, a influenciadora original que construiu um império:
Chiara Ferragni, a influenciadora original que construiu um império: créditos: Divulgação

Apesar de tudo parecer perfeito nas redes sociais, a verdade é que o mundo digital, à semelhança de qualquer outra área, também é feito de altos e baixos. Com uma exposição massiva — são 28,4 milhões de seguidores no Instagram — Chiara Ferragni vê multiplicarem-se as oportunidades, mas também os desafios. Questionada sobre como tem lidado com o ódio online ao longo dos últimos 15 anos, responde com franqueza: “Nunca conheci um hater na vida real. Só nas redes sociais. Dizer algo mau sobre alguém online diz mais sobre ti.” Apesar de a atenção mediática ser parte integrante desta indústria, confessa que há momentos em que preferia não ser conhecida — especialmente nas fases mais frágeis da vida, como foi o divórcio do rapper Fedez, em 2024, com quem tem dois filhos.

Ainda assim, quando fala da importância de errar ao longo do percurso, evita mencionar uma das maiores controvérsias da sua carreira: o escândalo Pandoro Gate. Recorde-se que, em 2022, Ferragni associou-se à marca Balocco para promover um pandoro de Natal solidário, cujos lucros deveriam reverter a favor do Hospital Pediátrico Regina Margherita, dedicado ao tratamento de crianças com cancro. A falta de transparência da campanha levou à abertura de uma investigação por fraude que abalou a sua imagem pública e o seu império empresarial. Perdeu seguidores, parcerias, foi multada em um milhão de euros por práticas comerciais desleais pela Autoridade Italiana da Concorrência e do Mercado e, em setembro, irá a julgamento por fraude agravada.

Questionada se algum dia já lhe passou pela cabeça deixar de ter uma presença online, Chiara Ferragni responde negativamente. “Não queria desaparecer das redes mas gostava de ter tempo para mim. No futuro, gostava de poder tirar um mês e poder viajar com os meus filhos, amigos e família.”

Sobre os projetos que ainda estão por realizar, a influencenciadora afirma que um dos seus grandes desejos é “fazer um programa de viagens” e dar continuidade ao legado da sua marca, da qual se tornou sócia majoritária em maio de 2025.

Chiara Ferragni – que foi apelidada de ‘influencenciadora original’ – não deixou o palco sem partilhar um conselho com quem quer seguir as suas pisadas e aventurar-se no mundo digital. “Não tenham medo ou achem que é cringe. Mostrem as vossas emoções, quem vocês são e não tenham vergonha.”