Em declarações à agência Lusa, José Boavida, presidente da Sociedade Portuguesa de Défice de Atenção, afirmou que em Portugal “não existem estudos epidemiológicos” sobre a perturbação de hiperatividade e défice de atenção.
“Apesar de em Portugal não existirem estudos epidemiológicos, não seria de esperar que a realidade fosse muito diferente das outras culturas”, disse.
Segundo as estimativas internacionais, a perturbação de hiperatividade e défice de atenção (Phda) afeta 5% a 8% das crianças em idade escolar.
À Lusa, José Boavida admitiu que a sociedade portuguesa continua a “desvalorizar o problema” e os professores lidam de “forma errada” com a Phda. “A escola não está muito bem preparada porque considera que os problemas de défice de atenção não são problemas especiais. É verdade que não requerem um ensino especial, mas requerem outro tipo de apoio e atenção”, frisou.
Todos os anos são detetados novos casos de alunos que não se conseguem concentrar numa tarefa, estão desatentos durante a aula ou irrequietos por estarem sentados.
À semelhança de outras escolas portuguesas, o número de alunos com Phda “aumentou” no agrupamento de Escolas de Póvoa de Santa Iria, em Vila Franca de Xira. Mas aqui, as professoras de educação especial trabalham “diretamente” com estes alunos.
“Temos de chegar a todos e cada um aprende de forma diferente, mas são nossos alunos e temos de trabalhar com cada um ao seu próprio ritmo”, disse Adélia Costa, professora há quase 30 anos.
Adélia Costa decidiu, em 2005, especializar-se em educação especial e, desde então, trabalha com “todo o tipo de casos”.
“Temos alunos com problemáticas mais leves, como a dislexia, e temos muitos alunos com défice de atenção. Acho que há cada vez mais. Depois temos alunos com défices cognitivos e síndrome de Down”, contou.
A atenção que dá a cada “caso” é diferente e, se com os alunos mais problemáticos trabalha no seu gabinete, com alunos com Phda intervém no contexto de sala de aula.
“As situações extremas ocorrem na sala de aula. Aí, há pequenas coisas que os professores podem fazer: sentar o aluno à frente, fazer um gesto para prestar atenção, dar-lhe uma tarefa e em último caso, deixá-lo sair um bocadinho”, explicou.
Adélia Costa acredita que os professores, à semelhança dos pais, estão mais “atentos” e “preocupados” com estas crianças, contudo, admitiu que nem todos sabem “como lidar com os alunos”.
“Às vezes, o que é transmitido do aluno é que é preguiçoso e isso reflete o desconhecimento da situação, mas penso que apesar de tudo, os professores estão mais atentos”, disse.
Foi por essa razão que, há cerca de dois anos, juntamente com uma colega, Adélia Costa pediu “ajuda” à Associação Clube Phda, que, desde 2013, já apoiou quatro mil pais e professores a lidarem com o desafio da irrequietude e desatenção.
Em declarações à Lusa, Rita Antunes, presidente da associação, que tem um núcleo no Porto e em Lisboa, assegurou que os professores estão sobretudo preocupados com as “dificuldades de aprendizagem” e com a “desmotivação para a escola”.
À Associação Clube Phda batem também à porta as preocupações dos pais, que, segundo a responsável, recaem sobre o comportamento.
“As queixas começam ainda no pré-escolar e intensificam-se no início da escolaridade, dado o aumento das exigências. As queixas sucessivas e repetidas causam frequentemente angústia aos pais, que muitas vezes se sentem impotentes”, frisou.
Para Rita Antunes, uma vez que é “sabido que o diagnóstico da Phda tem vindo a aumentar”, é necessário que os pais e os professores fiquem alerta para a problemática.
“O esclarecimento com o próprio médico ou através de ações de formação é importante para se perceberem algumas atitudes e comportamentos”, concluiu.
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