Num mundo onde os estímulos são cada vez mais e o conteúdo disponível, apesar de infinito, pode não ser o mais pedagógico, aliar momentos de diversão a momentos de aprendizagem é uma tarefa complicada. É assim que surge o Bicho de 7 Cabeças, uma iniciativa cujo principal objetivo é, não só transmitir valores e comportamentos positivos, como também estimular o pensamento dos mais novos, através de músicas educativas, contos infantis e atividades pedagógicas.
Falámos com João Pico, um dos fundadores do Bicho de 7 Cabeças acerca da criação do projeto e da transformação educacional que este pretende ter no panorama educacional português.
Como surgiu a ideia de criar o projeto? E porquê?
O Bicho de 7 Cabeças surgiu de um sonho antigo que eu e a Filipa Frade tínhamos em comum: contribuir de forma positiva para o desenvolvimento cognitivo e para a educação das crianças, disponibilizando conteúdos pedagógicos com abordagens mais enriquecedoras e disruptivas.
Consideramos que ainda existe pouco conteúdo infantil pedagógico em português e que, por vezes, conteúdo de outros países acaba por se sobrepor ao feito em Portugal. O Bicho de 7 Cabeças procura, também, preencher essa lacuna. Não há problema em expor as crianças a outras línguas, mas é importante que também haja bom conteúdo disponível em português de Portugal.
Assim, com a nossa diferente experiência profissional, unimos o conhecimento que já tínhamos em audiovisual, comunicação e educação, e procurámos que este projeto fosse a concretização da trilogia: música, história e pedagogia. Em primeiro lugar, preocupamo-nos que todas as nossas músicas contem uma história e passem uma mensagem que acrescente valor e conhecimento às crianças. Os nossos conteúdos estão disponíveis online e ao alcance de todos os encarregados de educação e educadores.
Além disso, o Bicho apresenta várias atividades que podem ser feitas em escolas com a ajuda de professores ou em casa com o apoio dos pais. A Filipa interpreta ainda a personagem Pipa, que dá a cara ao projeto, juntamente com o Eduardo Frazão e a Joana Almeida, ambos atores.
Há quanto tempo existe o Bicho de 7 Cabeças?
Apesar da primeira música existir há mais de 10 anos, o projeto Bicho de 7 Cabeças nasceu há 5 anos, quando nos juntámos para publicar as primeiras três músicas. Oficialmente a data da primeira apresentação foi no Dia da Criança, 1 de junho de 2022, data que adotámos para o nosso aniversário.
Para quem são as vossas músicas?
As nossas músicas destinam-se a crianças, a partir dos 2 anos. As letras, as personagens, os vídeos e até a própria melodia são feitas a pensar nos mais novos, em passar-lhes ensinamentos e conhecimentos enquanto estão entretidos a assistir a conteúdo divertido.
No entanto, e muito devido à componente pedagógica de todos os nossos conteúdos, as nossas músicas são também para pais, professores e educadores. Preocupamo-nos em criar histórias com abordagens mais maduras, que acrescentem valor e vocabulário mais rico aos mais novos, mas que consigam despertar, também, o interesse dos mais velhos. No fundo, as nossas músicas são para as crianças e para todos aqueles que as rodeiam. Queremos fazer músicas que não sejam nem chatas, nem cansativas ou fracas a nível gramatical, para os pais acompanharem pedagogicamente os seus filhos.
Que contributo querem ter na educação das crianças?
Nós temos uma paixão pela educação e pelos mais novos. Há muito para mudar no sistema tradicional e o que sentimos é que podemos fazer a diferença com este projeto. O Bicho de 7 Cabeças, mais do que um projeto infantil com vista a divertir e entreter as crianças, pretende educar os mais novos face a diversas questões. Deste modo, o projeto pode funcionar como um complemento à educação tradicional das crianças, sendo em casa ou nas próprias escolas, os conteúdos podem fazer parte do dia-a-dia de todos. Sem dúvida alguma, utilizando a música como uma ferramenta pedagógica, para nós, das mais valiosas.
Além disso, o Bicho pretende colmatar uma falha no mercado de conteúdo infantil em português, de Portugal. Consideramos importante que as crianças aperfeiçoem, desde cedo, a sua língua materna e esta escassez faz com que, por vezes, tenham de recorrer a conteúdos feitos apenas noutras línguas. Queremos diversificar a oferta disponível.
Como escolhem as temáticas a abordar?
Apesar de alguns temas serem ideias da própria equipa, a verdade é que gostamos de estar atentos a tudo o que nos rodeia. As crianças com quem estamos diariamente, quer os nossos filhos, quer as crianças com quem a Filipa contacta enquanto terapeuta da fala, são, sem dúvida, a nossa principal fonte de inspiração.
Além disso, aceitamos, também, sugestões de professores e educadores, que por vezes chegam até nós com temáticas que estão a lecionar e que consideram que a música pode ser um complemento ao seu ensino. Pretendemos ter um projeto para a comunidade, mas também da comunidade, recebendo e trabalhando a opinião e as sugestões que nos chegam diariamente.
No fundo, o importante é que sejam temas educativos e que trazem às crianças novos conhecimentos e estímulos cognitivos. Esse é o nosso foco, sempre.
Quais os benefícios de usar a música como ferramenta pedagógica?
Quando andávamos na escola, todos nós a certa altura nos questionamos “porque é que sei a letra de inúmeras músicas, mesmo aquelas que já não ouço há anos, e estas páginas de matéria não consigo decorar?”. Ora, a criação de músicas que, além de serem divertidas, procuram, ainda, ensinar algo aos mais novos, permite que a informação seja recebida muito mais facilmente.
Aprender o abecedário, comer brócolos à refeição, arrumar os brinquedos, largar a chucha ou não chuchar no dedo e o ciclo da água (entre outros) são temas que já desenvolvemos. As possibilidades educativas são quase infinitas.
Aprender não tem de ser algo chato e aliar o entretenimento e a diversão à educação é um dos métodos mais eficazes para transmitir conhecimento às crianças, pois nem se apercebem que estão a aprender, mas a informação vai sendo retida.
Além disso, consideramos que se as crianças começarem, desde cedo, a ouvir música mais complexa, não só irão adquirir os conhecimentos que se pretende passar, como também se tornarão adultos com uma maior sensibilidade e espírito crítico, fruto dos estímulos cognitivos aos quais foram expostos desde cedo.
Têm conteúdos apenas em português?
Não, pois o nosso objetivo sempre foi internacionalizar o projeto e ter os conteúdos disponíveis noutros idiomas, até porque esta necessidade é transversal a outros países e, não apenas, em Portugal. Atualmente, o projeto existe em português e em russo e estamos a trabalhar nas versões em italiano, espanhol, inglês e norueguês, sempre com o mesmo objetivo: a música como ferramenta pedagógica.
Em que consistem as vossas visitas a escolas? Quais as abordagens?
As nossas visitas às escolas dividem-se em vários momentos, mas têm um objetivo principal: proporcionar às crianças um momento inesquecível. A Pipa e o Caco dão vida a diversas histórias, acompanhadas de momentos musicais, que, ainda que de forma descontraída e com muito humor, pretendem transmitir mensagens importantes. Além disso, incluímos, por vezes, atividades e exercícios mais lúdicos, que explorem a sua criatividade e imaginação.
A ideia não é dar uma aula ou tornar o momento numa apresentação unilateral. Procuramos conversar com as crianças, perceber o que pensam e como pensam. A verdade é que queremos, sim, ensinar algo às crianças, mas também elas têm coisas para nos ensinar -esta troca, este contacto é muito positivo para todos.
Consideram que o projeto está a ter uma boa recetividade?
Sim, muito boa recetividade. Temos recebido feedback muito positivo tanto de famílias, quanto de professores e educadores, que veem em nós uma fonte de conteúdo de qualidade e de fácil acesso. E é isto que queremos, produzir conteúdo lúdico e pedagógico. Pretendemos continuar a crescer e criar um impacto positivo na educação.
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