A greve, que também se realiza em vários concelhos de Portugal e à qual se juntam organizações não-governamentais e sociedade civil, partiu da ideia de uma jovem sueca de 16 anos, Greta Thunberg, que desde o ano passado iniciou uma greve às aulas, uma forma de chamar a atenção para a necessidade de mais ação para fazer face às alterações climáticas.
As alterações climáticas são, segundo o secretário geral da ONU, António Guterres, o maior problema da humanidade, e vão afetar dramaticamente o futuro se nada de substancial for feito.
As emissões de gases com efeito de estufa, que os países tentaram controlar no Acordo de Paris de 2015, mas que continuam a aumentar, estão já a afetar o clima e a natureza das mais diversas formas, segundo os cientistas.
Alguns dos pontos essenciais relacionados com as alterações climáticas:
Acordo de Paris
Numa conferência da ONU em Paris, em dezembro de 2015, surgiu o chamado Acordo de Paris, segundo o qual a quase totalidade dos países do mundo se comprometeram a limitar o aumento da temperatura média global abaixo dos dois graus celsius (2ºC) em relação à época pré-industrial. Está provado que a temperatura no planeta tem vindo a aumentar e que tal se deve à ação humana. O Acordo de Paris pretende limitar esse aquecimento a menos de 2ºC e que de preferência não ultrapasse os 1,5ºC.
IPCC
O Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), formado por cientistas e sob os auspícios da ONU, lançou em outubro do ano passado um relatório científico segundo o qual é urgente que se tomem medidas para impedir que o aumento da temperatura exceda os 1,5ºC, salientando que as consequências de esse aumento ser de 2ºC são muito piores. Não ultrapassar até ao fim do século os 1,5ºC de aumento de temperatura significa reduzir em 45% até 2030 as emissões de dióxido de carbono.
A atividade humana provocou já o aumento da temperatura em 1ºC. Com um aumento de 0,2ºC por década os 1,5ºC serão atingidos em 2040, se nada for feito.
Aquecimento global
O aquecimento global é o nome que se dá ao aumento da temperatura sentido no planeta, seja na atmosfera seja nos oceanos, devido à atividade humana, especialmente pela queima de combustíveis fósseis. Substituir os combustíveis fósseis por energia limpa, como a eólica ou solar, diminui substancialmente a emissão de gases com efeito de estufa.
Muitos países, entre eles Portugal, já anunciaram medidas de transição e eficiência energética para as próximas décadas, ainda que de concreto nada de substancial tenha sido feito.
O aquecimento global tem efeitos na diminuição das calotes polares, na subida do nível das águas do mar, na acidificação dos oceanos, na destruição de ecossistemas e na diminuição e extinção de espécies, e provoca fenómenos meteorológicos extremos cada vez mais intensos e frequentes.
Acidificação
A grande quantidade de dióxido de carbono lançado para a atmosfera, que provoca o chamado “efeito de estufa”, faz também com que aumente a quantidade de dióxido de carbono que se dissolve na água do mar.
Na ligação do dióxido de carbono com a água do mar forma-se o ácido carbónico, que acidifica e que se transforma, contribuindo para a acidificação. Estudos que têm sido divulgados indicam que o ph (nível de alcalinidade, neutralidade ou acidez da água) está a mudar e que a acidez dos oceanos aumentou 30%.
A acidificação pode afetar animais com conchas, algas e corais, mudar habitats e reduzir espécies (o bacalhau, por exemplo, segundo um estudo recente). Há estudos que alertam que se nada for feito o aumento da acidificação pode acabar com toda a vida nos oceanos.
Impactos nos ecossistemas
À destruição da biodiversidade causada diretamente pelo Homem junta-se a destruição causada pelas alterações climáticas. Segundo um relatório científico divulgado em abril passado, um quarto de 100 mil espécies avaliadas pode extinguir-se, seja por pressões causadas pelo homem seja pelas alterações climáticas. Os cientistas dizem que a extinção de espécies está a ocorrer a uma rapidez nunca antes registada.
Já este mês um relatório das Nações Unidas alertava que está ameaçado um milhão das oito milhões de espécies animais e vegetais que se estima existirem na Terra, sendo as alterações climáticas uma das causas diretas.
Especialistas e investigadores têm ciclicamente divulgado estudos alertando para o declínio de espécies pela deterioração ou destruição de ecossistemas. E há pelo menos um estudo que diz que a maior extinção em massa do planeta aconteceu devido às alterações climáticas.
Degelo dos polos e dos glaciares e subida do nível das águas do mar
O aumento da temperatura na Terra também se faz sentir nos polos levando a que as massas de gelo derretam mais rapidamente. Há dois meses, na IV Assembleia da ONU para o Meio Ambiente, no Quénia, foi apresentado um relatório segundo o qual a temperatura do Ártico vai aumentar entre 03ºC a 05ºC até 2050. Para a Antártida também têm sido apresentados estudos com dados similares.
O degelo nos polos, onde o aumento da temperatura é superior à média, e o recuo dos glaciares afeta também a biodiversidade e as espécies que ali habitam (incluindo o Homem) e levará ao aumento do nível as águas do mar.
Especialistas estimam que o gelo marinho do Ártico tenha diminuído 40% desde 1979 e que os verões na região deixarão de ser gelados antes de 2030, a continuarem as atuais emissões de dióxido de carbono.
Um trabalho publicado em fevereiro na revista científica Nature indica que o derretimento do gelo na Gronelândia e na Antártida vai causar temperaturas mais extremas e imprevisíveis, com os investigadores a alertarem que com a atual emissão global de CO2 as temperaturas irão subir 03ºC a 04ºC.
Uma equipa de investigadores da Nova Zelândia, Canadá, Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos diz que vai haver uma subida acentuada do nível do mar a partir de 2065. E outra alerta para que os glaciares dos Alpes europeus vão perder metade do gelo até 2050.
A subida do nível do mar vai levar ao desaparecimento de zonas ribeirinhas e pode mesmo submergir países inteiros. As ilhas Fiji ou as ilhas Marshall por exemplo. Um estudo científico desta semana alerta para uma subida do nível do mar que pode atingir os dois metros.
Fenómenos meteorológicos extremos
Fenómenos meteorológicos extremos – ondas de calor, chuvas fortes, tempestades e inundações, períodos extensos de seca - decorrentes das alterações climáticas são cada vez mais frequentes, sendo dos exemplos mais recentes os ciclones que assolaram o centro e norte de Moçambique.
Mas segundo cientistas, num estudo publicado no final do ano passado na revista Nature Climate Change, vão intensificar-se até ao fim do século as catástrofes climáticas múltiplas, das ondas de calor extremo aos incêndios, das inundações às super-tempestades.
Erik Franklin, investigador no Instituto de Biologia Marinha da Universidade do Havai, diz no estudo que as catástrofes estão a ocorrer e que vão piorar.
O aquecimento global está a levar a grandes secas e incêndios devastadores nas zonas secas, a chuvas intensas e inundações nas zonas húmidas e à formação de super-tempestades nos oceanos de água mais quente.
No ano passado os Estados Unidos ou a Austrália enfrentaram secas intensas e grandes incêndios, com temperaturas inéditas. Uma vaga de frio matou duas dezenas de pessoas nos Estados Unidos. Portugal também teve temperaturas muito elevadas.
Há dois anos, no final da 23.ª Conferência da ONU sobre o clima, em Bona, mais de 15 mil cientistas de 184 países concordaram que o planeta está a ser “desestabilizado pelas alterações climáticas". Os exemplos são cada vez mais frequentes, embora desacreditados por líderes de países como os Estados Unidos, a Rússia, a Arábia Saudita ou o Kuwait.
Atualmente o consenso científico é o de que os efeitos das alterações climáticas estão a ser mais rápidos, mais intensos, mais frequentes e mais devastadores, em termos económicos, mas também humanos, com implicações na saúde e disponibilidade de alimentos no futuro.
Apesar do compromisso do Acordo de Paris as emissões de gases com efeito de estufa não estão a diminuir.
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