Helena, de seis anos, com óculos de proteção, “como os dos cientistas”, olha atentamente para o seu tubo de ensaio, onde pôs vinagre e corante (“como aquele que se usa nos cremes dos bolos”, explica), enquanto dá o passo final: uma colherzinha de bicarbonato de sódio lá para dentro.
Fica maravilhada enquanto vê uma espuma colorida a subir o tubo e a sair, toca na espuma, sorri para a colega do lado, e desata a repetir a experiência noutro tubo, agora mais rápida e sem qualquer receio.
“Isto é muito engraçado”, contou à agência Lusa Helena, que admite que se sente um “pouco cientista”.
Este projeto do Exploratório, que arrancou na segunda-feira com o Jardim de Infância de Trouxemil, assume-se como a primeira Escola Ciência Viva no país a trabalhar o pré-escolar.
A iniciativa prevê acolher por uma semana cada uma das turmas da rede pública de jardins de infância do concelho de Coimbra (mais de mil crianças) ao longo dos próximos três anos, explicou à Lusa Catarina Reis, da direção do Exploratório e a pessoa responsável pela coordenação da iniciativa.
Ali, as crianças têm os seus bibes especiais, os seus cabides, e, para além dos assistentes operacionais e educadoras da sua escola, acompanha-as uma educadora associada ao projeto, para além de todos os dias terem a companhia de um funcionário daquele Centro Ciência Viva, dependendo da temática que abordam, disse Catarina Reis.
Ao longo da semana, Helena já descobriu como é que os pintainhos saem do ovo, foi até à Lua no Hemispherium (espaço do Exploratório com projeção a 360º) e descobriu que as sementes “são muito importantes” e viajam muitos quilómetros, entre outras coisas.
Há espaço para biologia, matemática, astronomia, física ou química, sempre com atividades lúdicas que obrigam as crianças a pôr as mãos na massa.
“A ciência é muito importante, porque a ciência diz-nos as coisas que nós não sabemos e eu gosto disso”, disse Helena.
A educadora do Jardim de Infância de Trouxemil, Helena Pais, não hesita quando fala do projeto: “Está a ser incrível”.
“Até eu própria estou a aprender coisas novas e eles estão a adorar”, confessou a educadora da turma de 20 crianças, das quais a maioria nunca tinha ido ao Exploratório.
“É um projeto fantástico que proporciona esta oportunidade de experienciar e viver o mundo da ciência. Passamos aqui o dia todo e este contacto é muito importante. As crianças nestas idades são muito curiosas e observadoras, gostam de saber o porquê das coisas e, ao mostrarmos todas estas possibilidades, vai despertar-lhes ainda mais curiosidade”, frisou Helena Pais.
O projeto surgiu de um desafio da Rede Nacional Ciência Viva aos diferentes Centros Ciência Viva para criarem novas Escolas Ciência Viva e o Exploratório de Coimbra, já com uma grande experiência a trabalhar com crianças muito novas, decidiu avançar com a ideia de um jardim de infância Ciência Viva.
A ideia foi acolhida pela rede, assim como pela Câmara de Coimbra e pelos agrupamentos, destacou Catarina Reis.
“A ideia é passarem aqui uma semana inteira — crianças e equipa. É uma experiência completamente diferente do que quando fazem uma visita por umas horas”, explicou a responsável, salientando que o programa semanal é desenhado em conjunto com cada jardim de infância.
Para a educadora de infância destacada no Exploratório, Manuela Gonçalves, o desafio de falar de ciência aos mais novos é aliciante e consegue-se desmistificar a ideia de que pode ser difícil captar a atenção dos mais novos para estes temas.
“Eles são cientistas por natureza”, brincou a educadora, recordando que, tal como os cientistas, as crianças têm uma propensão para lançarem perguntas e questionarem-se sobre as coisas ao seu redor.
Aproveitando a “idade dos porquês”, as atividades são criadas a pensar na própria curiosidade natural das crianças, sendo desafiadas no Exploratório a fazer perguntas e também a lançar respostas.
“É fácil mantê-los interessados”, notou Manuela Gonçalves.
No final da atividade em que as crianças olhavam com espanto para a espuma criada pela reação entre o bicarbonato e o vinagre, Maria João, de seis anos, já tinha o seu tubo de ensaio com um líquido preto.
“Experimentei pôr todas as cores [dos corantes] e ficou preto. Se misturar todas as cores, fica preto”, diz Maria João, que se considera uma “exploradora”, mais interessada na mistura preta que tinha à frente do que em falar com a agência Lusa.
O projeto vai decorrer, pelo menos, até março de 2025.
Depois disso, ainda não se sabe o que irá acontecer, mas há “vontade para continuar”, talvez até garantindo continuidade com um projeto semelhante para o 1.º ciclo, assumiu Catarina Reis.
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