O programa Escola Digital, que prevê a distribuição faseada de computadores pelos alunos das escolas públicas, está em marcha, mas faltam técnicos informáticos para resolver os problemas que surgem com os equipamentos, alertou o secretário-geral da FNE em declarações à Lusa.
João Dias da Silve esteve hoje reunido com a secretária de Estado da Educação, Inês Ramires, com quem discutiu o assunto e pediu a contratação urgente destes profissionais.
“Não teremos uma escola digital se lá só colocarmos computadores. Não basta investir em equipamentos, também é preciso investir em pessoas e são precisos técnicos especializados em informática”, defendeu João Dias da Silva.
Atualmente, a maioria dos estabelecimentos de ensino conta com a ajuda dos seus professores de informática ou então recorre a “habilidosos dentro da escola”, segundo relatos que chegam à FNE.
Mas, para João Dias da Silva, “não há escola digital com recurso a habilidosos. Têm de ser técnicos que saibam do que se trata e que garantam sistematicamente a manutenção e funcionamento dos equipamentos”.
Desde o final do período passado, que começaram a chegar às escolas os ‘kits’ que têm sido distribuídos pelos alunos (primeiro aos estudantes do ensino secundário e com mais carências económicas). O plano é atribuir cerca de 300 mil computadores durante o atual ano letivo.
No entanto, quando os computadores chegam às escolas “precisam de ser trabalhados”, alertou Dias da Silva.
Fazer a manutenção dos equipamentos, as atualizações de ‘software’, garantir que há segurança das redes e que as plataformas estão a funcionar sem problemas é um trabalho que exige “técnicos especializados em permanência”.
A FNE defende que este não pode ser um trabalho realizado por professores de informática, que “têm outras responsabilidades e competências: não se podem transformar em técnicos de manutenção e reparação de computadores”.
Além dos técnicos informáticos, a FNE voltou a chamar a atenção para a “falta generalizada de trabalhadores não docentes, à semelhança do que tem acontecido nos outros anos”.
João Dias da Silva recordou que esta carência obrigou a manter encerrados vários serviços no 1.º período de aulas: “Houve bibliotecas fechadas, papelarias fechadas e outros serviços que não funcionaram por não haver trabalhadores suficientes”, lamentou.
Sobre o anúncio do Ministério da Educação de um reforço de trabalhadores e a revisão da portaria de rácios que voltou a aumentar o número de funcionários, João Dias da Silva alertou que “os processos de contratação são muito lentos” e que muitos dos “novos funcionários” são pessoas que já trabalhavam de forma precária e passam a integrar os quadros.
“Há um grande nível de precariedade. A escola precisa de mais trabalhadores que são absolutamente imprescindíveis para conseguir cumprir a sua missão”, disse, defendendo que este reforço não deve ser feito com o recurso a contratos temporários.
O encontro de hoje serviu para discutir a afetação de pessoal não docente mas também avaliar como correu o 1º período, que a FNE não consegue ver de forma tão positiva quanto a tutela.
“O Ministério salientou o facto de este ano letivo ter sido retomada a atividade letiva presencial, mas não temos uma imagem de que tudo tenha corrido bem. A pandemia [de covid-19] revelou insuficiências e trouxe instabilidades, em especial para os alunos com menos enquadramento social, já que houve um reforço das desigualdades”, lamentou Dias da Silva.
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