A escola nada sabe do que é realmente importante descobrir: a nossa afetividade, a nossa dependência, uns dos outros, a importância da nossa liberdade, o que nos dá prazer e o que nos provoca aversão.
O que é amor, amizade e gentileza? Como os descobrimos? Existe o dever de cuidar e de ajudar?
A escola e a família nada sabem sobre o que transmitimos com o nosso comportamento, nada dizem sobre a família, sobre o amor, sobre a justiça, a amizade, a gentileza, a solidariedade, a humildade e a vergonha.
O que aprendem as crianças nas instituições? Depois de terem sido ignoradas nos primeiros anos de vida, tratadas como pintos num aviário, o que pretendem os adultos que, de facto, não têm a mínima ideia das consequências do que fazem?
Sozinhas, as crianças aprendem o que vêem e retêm o que sentem. Os adultos há sua volta mal as vêem: não as acariciam nem enchem de beijos, não as compreendem nem estão realmente interessados nelas. Os adultos não brincam nem se dedicam ao bebé ou à criança muito jovem, não têm o hábito de o fazer, não têm tempo, nem disposição. Os adultos estão permanentemente stressados, preocupados com a sua própria sobrevivência afetiva, emocional, económica e social. Outros estão tão satisfeitos consigo mesmos, com os negócios, a carreira e com o dinheiro que fazem, que mal se apercebem que, também eles, perderam os filhos.
Nunca soubemos tanto sobre bebés e crianças humanas, sobre adultos, nunca lhes demos tanta atenção e nunca soubemos tanto sobre a crueldade com que as tratamos ao longo da história. Mas, no entanto, continuamos a ignorar a humanidade da criança. Também falta humanidade à matemática, ao vocabulário, à construção de frases, à história dos reis e de outros ditadores, aos conhecimentos técnicos relacionados com profissões.
Não sabemos, não temos a certeza de quais vão ser as consequências para as crianças de hoje de como nos comportamos com elas, mas pelo que já é amplamente visível, as manifestações de extremo sofrimento emocional, gerimos uma catástrofe anunciada.
É necessário dar atenção às crianças, às pessoas e á sua história. É necessário proteger as crianças do mal que lhes fazemos e ninguém melhor que os pais para o fazer.
A escola e o ensino precisam de ser reinventados. A escola tem de responder às crianças e aos pais, tem de se abrir á sociedade e integrar o que hoje sabemos sobre o ser humano. Em vez disto, a escola fecha-se ainda mais sobre si mesma, não reflete, nem questiona.
Um artigo de opinião de Manuel Fernando Menezes e Cunha, especialista em Psicologia.
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