É sobre o filho mais velho que recaem todas as primeiras experiências da maternidade e paternidade. Todos os cuidados são poucos, os pais ficam muito atentos, criam um conjunto de comportamentos rigorosos: hora da refeição, horas de dormir, hora do banho, etc. Por vezes este primeiro filho é também o primeiro neto ou sobrinho. Os afetos são colocados todos, e por todos, na criança.
Quando nasce um segundo filho passa a existir a dicotomia filho mais velho e filho mais novo, sendo que o último agora detém grande parte da atenção por ser o mais pequenino elemento da família, “o benjamim”. É agora que começa a distribuição dos afetos e atenções por parte dos pais e da família.
Com a chegada de um terceiro filho, o mais velho mantém o seu estatuto intocável do primeiro dos irmãos, em que continuam a recair algumas atenções e exigências. Mais independente, é o exemplo para os irmãos mais novos. Por seu lado, aquele que era o mais novo perde o estatuto “de benjamim” e passa a ser oficialmente o “filho do meio”, deixou de ser o bebé fofinho da família. É compreensível que a mudança leve estes “filhos do meio” a desenvolver alguns sentimentos de insignificância, insegurança, baixa auto estima e, por vezes, até mesmo a sentirem-se menos amados que os seus irmãos.
Não é tarefa fácil, para os pais, educar e cuidar de vários filhos ao mesmo tempo sem que estes sintam o peso das diferenças inerentes ao facto de serem realmente pessoas diferentes. Não existem pais perfeitos nem filhos perfeitos e o papel educacional é muito desafiante, adequando-se permanentemente às necessidades emergentes: se um filho tem mais problemas, é natural que recaiam sobre ele mais atenções, na tentativa de o ajudar.
As chamadas de atenção dos filhos podem ser sinal de que algo poderá não estar bem. Podem ter origem em qualquer um dos filhos e, naturalmente, também no “filho do meio” por ser aquele onde se espera que possam ocorrer os tais sentimentos de transparência/pouca importância. É importante notar que estas chamadas de atenção podem traduzir-se em comportamentos de rebeldia, mas também, num polo oposto, em comportamentos de excelência. Em ambos os casos, fazem-no como meio para se destacarem dos irmãos.
Não é possível dar aos pais receitas de como educar, no entanto é importante alertar para os seguintes pontos:
- Estar atento aos comportamentos dos filhos, às suas atitudes, linguagem oral e corporal, chamadas de atenção e inseguranças, caso existam;
- Não comparar os filhos, pois são pessoas diferentes e como tal é importante aceitar e compreender essas diferenças;
- Valorizar comportamentos, pois todos terão atitudes ou comportamentos em em que se destacam e que devem ser valorizados;
- Não estar preocupado em dar exatamente o mesmo a todos os filhos. São pessoas diferentes e, como tal, será natural existirem diferenças nos comportamentos, nas atitudes, nas relações afetivas. Relacionar-se de forma diferente com cada um dos filhos não significa gostar mais ou gostar menos de cada um deles;
- Na educação, as regras, os afetos, a comunicação e a compreensão, são mais importantes do que os bens materiais como forma de compensação.
Sempre existirão jovens que desenvolvem comportamentos ou vivencias próprias por serem filhos únicos, filhos mais novos ou até mesmo “filhos do meio”. Mas também existirão famílias onde questões como estas não se colocarão.
Acompanhar os filhos, sempre, em todas as idades. “Lê-los” e valorizá-los, quer sejam únicos, primeiros, do meio ou mais novos. A ordem não importa, cada filho é que sim.
Um artigo do psicólogo clínico Bento Sério.
Comentários