Durante anos, o universo da moda oscilou entre uma rigidez formal e constantes movimentos de transgressão. Foi num desses movimentos que graças a um par de chinelos de borracha ajudou a encontrar uma nova forma de expressão. O fenómeno teve origem durante a Semana da Moda de Copenhaga, em 2018, quando alguns convidados começaram a surgir com Havaianas nos pés, não por provocação, mas por conforto. A cidade, conhecida pela sua abordagem prática e despretensiosa à moda, foi o terreno fértil para que esse gesto ganhasse visibilidade.

As sandálias de borracha, até então associadas exclusivamente ao universo balnear, começaram a surgir entre as escolhas de influenciadoras nórdicas, como Pernille Teisbaek, que as integraram nos seus coordenados com surpreendente naturalidade. O contraste entre o calçado informal e o restante look cuidadosamente pensado atraiu a atenção de fotógrafos de street style, e rapidamente as imagens começaram a circular internacionalmente, estabelecendo uma nova narrativa: o chinelo não era apenas tolerado, era desejado. Em 2025, este é um dos fenómenos mais consistentes e debatidos das semanas de moda internacionais, com o uso das Havaianas em contextos de alta-costura, onde antes seria impensável.

Esta semana, este percurso ganhou mais um capítulo simbólico. A Havaianas escolheu precisamente Copenhaga — a cidade que primeiro celebrou espontaneamente os seus chinelos — para apresentar o novo modelo SLIM SPLIT, numa festa que reuniu figuras de relevo da moda internacional no espaço SØ / BABYLON. A ocasião, longe de ser um mero evento promocional, funcionou como uma espécie de consagração da marca junto da comunidade de moda: Emili Sindlev, Malu Borges e Mateus Verdelho marcaram presença, num ambiente que resgatava o espírito descontraído das ruas, mas com uma curadoria digna de editorial.

Desde essa fatídica semana da moda em 2018, a presença das Havaianas em outros eventos semelhantes tornou-se quase um manifesto. Recentemente, em Paris, contabilizou-se mais de 40 aparições num único dia de desfiles, incluindo marcas como Auralee e Prada. Em Milão, a Dolce & Gabbana encerrou a coleção masculina primavera-verão 2026 com modelos de pijama e Havaianas, numa ironia sobre o luxo e o conforto. Em Nova Iorque, a marca já tinha sido incorporada no discurso minimalista de Dion Lee em 2018, com modelos a calçar pares brancos e pretos como contraponto às silhuetas geométricas.

O lançamento do SLIM SPLIT insere-se nesta trajetória de forma inteligente. Inspirado nas sandálias japonesas Zori — matriz histórica do design original das Havaianas —, o modelo atualiza essa referência com uma silhueta marcada por uma tira curva central e alças mais flexíveis. Trata-se de uma interseção entre tradição e tendência e entre o artesanal e o urbano. Ao contrário de muitas colaborações de moda, não há aqui uma tentativa de sofisticar artificialmente o produto: o Slim Split continua a ser um chinelo, mas um chinelo com história, contexto e apropriação contemporânea.

O evento em Copenhaga, animado pela DJ local Lili e acompanhado de caipirinhas e um menu que misturava Brasil e Dinamarca, reforçou a identidade da marca: uma celebração universal da informalidade, sem perder a inteligência cultural. A presença de figuras-chave do street style internacional confirmou o carater aspiracional que as Havaianas adquiriram junto de um certo público que, embora habituado ao luxo, não se recusa a abraçar o conforto.

Havaianas e a consagração no mundo da moda: da irreverência aos desfiles e agora ao
Havaianas e a consagração no mundo da moda: da irreverência aos desfiles e agora ao créditos: Divulgação

Podemos considerar que, mais do que uma moda passageira, o uso das Havaianas nas passerelles e nas ruas das capitais da moda reflete um reposicionamento de valores estéticos: o luxo é agora também liberdade, funcionalidade e conexão cultural. O modelo SLIM SPLIT, com preço de lançamento de 36€, chega ao mercado em outubro, consolidando não só uma tendência, mas a filosofia de que o estilo, hoje, pode começar pelos pés.