"O biquíni: uma bomba anatómica" foi o slogan criado para os dois pedaços de tecido, uma faixa para a parte de cima e dois triângulos invertidos para a parte de baixo, vendidos num pacote do tamanho de uma grande caixa de fósforos. A peça foi tão explosiva que foi batizada com o nome da pequena ilha onde eram realizados testes atómicos americanos.
A chegada do biquíni foi histórica, porque mostrou pela primeira vez o que as mulheres não se atreviam a mostrar: o umbigo.
"É comum lermos que nenhuma modelo quis usar a peça. E isso não é verdade", explicam à AFP Ghislaine Rayer e Patrice Gaulupeau, que já realizaram uma exposição com a sua coleção privada de 5.000 peças de lingerie e roupa de banho. "Réard convidava sempre celebridades ou modelos para os seus desfiles".
O criador francês também não hesitava em alterar a verdade, com etiquetas "made in USA" ou "Reard of California" colocadas na parte interior das peças. "Ele percebeu como funcionava o marketing e a publicidade!", exclama Thierry Virvaire.
Na Europa, sob pressão da Igreja Católica, os governantes italianos, espanhóis e belgas proibiram a venda do biquíni. Em França, curiosamente, foi permitido nas praias do Mediterrâneo, mas proibido no Atlântico.
Foi preciso esperar pelos anos 1950 para as estrelas de cinema adotarem o biquíni, principalmente as peças com cuecas de cintura subida, pela altura da barriga.
Foi desta forma que a atriz francesa Brigitte Bardot causou histeria durante o Festival de Cinema de Cannes em 1953, ao posar de biquíni branco com flores na praia de Carlton.
'Itsy bitsy'
Durante os anos 1940, o francês Louis Reard provocou um verdadeiro escândalo ao lançar um maillot considerado muito pouco púdico: em 2017 uma exposição contou a história do biquíni através de peças míticas, partindo do primeiro exemplar até ao momento em que foi eternizado por Ursula Andress em "James Bond".
"Foram BB e Marilyn que fizeram do biquíni uma peça emblemática", revela Ghislaine Rayer, que também exibiu raras "roupas de banho" de 1880 ou sumptuosos maiollts New Look.
Em Lyon também esteve exposta uma das peças de banho mais memoráveis de sempre: a utilizada por Ursula Andress, quando emerge das águas, com conchas na mão e um punhal à cintura, numa famosa cena de "James Bond contra o Dr. No", de 1962.
"O verdadeiro biquíni do filme foi leiloado pela Christie's por 55.000 euros. Tinha sido confecionado à pressa por um pequeno alfaiate indiano", relata a colecionadora.
Foram ainda dedicadas várias canções ao biquíni, como "Itsy Bitsy, petit bikini", uma música americana de sucesso em todo o mundo que também foi adaptada para português com o título "Biquíni às bolinhas amarelas", que conta a história de uma jovem que usava pela primeira vez um biquíni na praia.
"Mas foi preciso esperar até os anos 1970, quando as mulheres se emanciparam e queimaram os sutiãs em público, para que o biquíni, tal como foi concebido pelo seu criador, voltasse a aparecer, desta vez de forma definitiva", conclui Ghislaine Rayer. Adotado pelas jovens, "simboliza a rutura com a geração precedente", ressalta.
Hoje, o biquíni já não causa escândalo e quase quinze milhões de peças são vendidas todos os anos em França, o maior mercado na Europa.
*Artigo publicabo originalmente em julho de 2020
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