
A noite de descoberta gastronómica a 28 de junho constitui, de acordo com os promotores da iniciativa, “uma viagem sob a forma de um jantar temático imersivo, concebido no âmbito do percurso formativo, que este ano presta homenagem aos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, figura maior da literatura portuguesa e símbolo intemporal da nossa identidade cultural”.
Sob o título “Enquanto no mundo houver memória”, a experiência sensorial entregue aos alunos do mestrado em Inovação em Artes e Ciências Culinárias, propõe um encontro com o universo camoniano. “Através da leitura da sua obra lírica e da recriação gastronómica das suas vivências, cada momento da refeição evocará, de forma artística e inovadora, o legado do poeta. Ao longo do jantar, os cinco sentidos — paladar, olfato, visão, audição e tato — serão convocados, numa encenação onde a gastronomia se cruza com a poesia, a história e a emoção”, adianta a organização do jantar.
“Este jantar integra uma linha de projetos desenvolvidos anualmente pelos estudantes, desafiados a interpretar temas da literatura e cultura nacionais e internacionais através da criação gastronómica. Mais do que um jantar, trata-se de uma experiência interdisciplinar que alia a investigação artística, sensorial e científica à prática culinária contemporânea. Em cada edição, os alunos são convidados a explorar a obra de um autor ou universo cultural, aplicando-lhe não só técnicas culinárias modernas, mas também metodologias de investigação que permitem relacionar a criação gastronómica com o estudo literário e o seu contexto histórico e social. O envolvimento ativo dos estudantes em todas as fases — da conceção à concretização — reforça a dimensão formativa e colaborativa do processo, aproximando a gastronomia da literatura, da ciência e da performance”, sublinha Maria José Pires, coordenadora do mestrado em Inovação em Artes e Ciências Culinárias.
Desta forma, toda a refeição é pensada como um percurso poético e sensorial, onde cada momento evoca um tema de Camões, entre memória, desejo e mudança. Os pratos apresentados chegarão à mesa com títulos sugestivos.
A refeição inicia-se com um welcome drink (“Por mares nunca de antes navegados”), uma celebração do espírito aventureiro dos navegadores, evocando o início de uma travessia — entre mares e versos, convida-se o comensal à descoberta.
Seguem-se os canapés (“Como matéria simples busca a forma”), onde o amor camoniano surge como jogo de sedução e dor, preparando o paladar para o que está por vir. A entrada fria, carpaccio de polvo (“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”), representa a instabilidade do ser e das vontades, enquanto a entrada quente mergulha nas emoções intensas e no caos sensorial que precede o sentido.

O prato de peixe (“Outra mudança faz de mor espanto”), uma sardinha da época, remete para a mudança constante, como as marés que definem o tempo. Entre pratos, um limpa-palato com sabor breve e súbito marca uma rutura e renascimento sensorial.
A carne (“Como a matéria simples busca a forma”), símbolo da fusão entre corpo e essência, dá lugar ao prazer tangível e ao amor que procura transcendência. Um segundo limpa-palato, o “Ganges”, representa a busca interior e a purificação espiritual.
Na reta final, a pré-sobremesa lembra as rotas de África e Brasil, cruzando memórias, sabores e saudades. A sobremesa (“Será mais afamada que ditosa”) carrega o exotismo e a glória efémera, enquanto os petit fours encerram a experiência com um verso melancólico sobre o tempo e a memória — o sabor final de uma viagem onde o paladar reescreve a poesia.
Este evento sob a égide da ESHTE culmina “um projeto pedagógico e criativo, que desafia os alunos a traduzirem a poesia em linguagem culinária, construindo um discurso sensorial onde cada prato conta uma história”.
O jantar será reservado a um número limitado de convidados.
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