A iniciativa que, em 2019, marca presença em mais de 60 cidades, 17 países e cinco continentes, promete um dia repleto de atividades nos jardins da Fundação EDP. A partir das 8h30 e até às 18h30, o Wanderlust 108 junta práticas tão diversas como aula de ioga ao ar livre, ioga aérea, meditação guiada, com professores nacionais e internacionais (a Portugal virá a professora Melanie Maness Iznaola), um mercado de produtos orgânicos. Em suma, mais de dez espaços temáticos, incluindo atividades como dança ao som de um DJ e uma corrida ou caminhada de cinco quilómetros. Isto no ano em que o evento sopra dez velas à escala global. Por isso mesmo, a edição lisboeta reserva um destaque especial ao empreendedorismo mindful.

Personalidade empenhada neste Wanderlust 108 é Nuno Queiroz Ribeiro. O Chef, especialista em alimentação saudável, participará como orador num dos painéis da iniciativa.  Neste contexto, o SAPO Lifestyle falou com Nuno Queiroz Ribeiro para saber o que motiva este homem com uma distinção de mérito do Ministério da Saúde, defensor acérrimo da Dieta Mediterrânica, autor e professor na Escola de Hotelaria de Lisboa.

Em Lisboa, Wanderlust 108, um dia e dezenas de atividades para “abrir a mente e exercitar o corpo”
Em Lisboa, Wanderlust 108, um dia e dezenas de atividades para “abrir a mente e exercitar o corpo”

A 29 de setembro, Nuno vai levar aos presentes “Mais do que falar apenas de alimentação saudável, há que saber ligá-la a um estilo de vida saudável. Porquê? Porque o individuo que a pratica alimenta-se bem, dorme bem, respira bem, acredita bem e faz exercício físico. Logo, aqui, temos nestes pilares essenciais aquilo que o Wonderlust vai trazer a Lisboa. Vai tocar em todos estes aspetos, como, por exemplo, o ioga e a alimentação e, mais, vai-nos pôr a pensar sobre todas estas questões”.

Para o Chef que estudou em Londres na Le Cordon Bleu, “a alimentação saudável, tem de ser nutritiva, equilibrada, mas sem perder sabor. Como chefe de cozinha conheço os princípios essenciais para obtermos o sabor. Agora, a minha preocupação principal é que as pessoas tenham mais sabor na sua alimentação, mas também que tenham o conhecimento. De que me interessa se um alimento me dá prazer, se me mata ao longo do tempo?”, enfatiza com a questão Nuno Ribeiro, acrescentando que, “muitas pessoas dizem, ´pois faz mal`, mas não interiorizam verdadeiramente o que estão a dizer. Como, por exemplo, perceberem que os alimentos processados as estão a castigar”.

Para Nuno Queiroz Ribeiro, um rosto que nos habituámos a acompanhar em programas de televisão como `Peso Pesado`, transmitido na SIC, “há muita falta de legislação, de fiscalização e de educação alimentar. Ainda há pouco tempo estive reunido no Ministério da Educação a esse propósito. Temos de mudar o cenário atual no que respeita à alimentação, via educação, com formação, para uma reeducação alimentar em Portugal. Repare, só 22% da população portuguesa tem noção do que é a Dieta Mediterrânica. São números assustadores. Noventa porcento das crianças consome fast food e bebe cinco a sete refrigerantes por semana. Isto acaba por ter consequências graves na saúde, quer hoje, quer ao longo da vida. Se a criança é exposta em idade precoce ao cenário que descrevi e em anos posteriores, vai crescer, um dia torna-se mãe ou pai e vai perpetuar estes maus hábitos”.

Dado ser docente, como encara o Nuno Queiroz Ribeiro, o papel das escolas de hotelaria neste contexto, perguntamos: “Julgo que as Escolas de Hotelaria têm de fazer parte da solução. Se temos técnicas de cozinha portuguesas que não foram desenvolvidas e inovadas, então estas instituições são essenciais para que futuros chefes de cozinha portugueses cheguem ao mercado de trabalho com outra consciência e técnicas. Agora, provavelmente 30% dos alunos que chegam à Escola de Hotelaria trazem uma orientação para a saúde. Outros têm o sonho, normal, de atingirem aquele glamour que acompanha o chefe de cozinha. O glamour está no prato não é em todo o ambiente que se vive nestes espaços. Aliás, comida com amor tem de se fazer num ambiente onde também encontramos este, não é em contextos stressantes”, substância o nosso interlocutor. “Porque gostamos dos almoços de família? Porque fazem parte da nossa cultura e esta tem de regressar, não regredir. Temos de saber voltar aos lugares dos nossos antepassados. É normal que as preocupações hoje sejam outras, somos sete mil milhões de habitantes no planeta, mas há que ter o bom senso de voltar às origens e ao que referi no início desta nossa conversa”.

Nuno confessa-nos que “ainda há pouco tempo propus, numa reunião no Ministério da Alimentação, a promoção dos bons hábitos alimentares como uma bandeira nacional. A alimentação equilibrada e o exercício físico deveriam estar entre os princípios essenciais da Lei de Bases da Saúde. Há que pôr a tónica na prevenção e isso faz-se com uma educação alimentar. Pouparemos milhões ao Serviço Nacional de Saúde. Temos de caminhar para uma disciplina, um currículo que envolva as crianças logo aos dois anos, para que conheçam os alimentos, quando os devem comer, trazendo junto dos estudantes os nutricionistas, pediatras, produtores, em suma, todos os atores com responsabilidade nisto. Podíamos ser um exemplo para a Europa. Tenho participado em reuniões da Organização Mundial de Saúde onde toco nesta questão. Felizmente, já não me sinto tão sozinho como aconteceu durante anos”.