Cada família é única, cada uma tem a sua forma absolutamente singular de sentir e de reagir. Ainda assim, apesar de cada família ter a sua singularidade, as famílias tendem a tornar-se parecidas quando estão perante níveis de sofrimento crescente. Uma fragilidade numa família, tende a gerar aproximação, no entanto, nem sempre essa aproximação comporta tudo aquilo que é necessário para ultrapassar os desafios com o menor sobressalto e dor possível.

Assim, perante situações mais desafiantes é muito importante que uma família não se limite a unir-se pela dor, mas também a amparar essa dor de forma estruturada, para isso, é essencial que:

1. Existir acolhimento emocional

Seja qual for o desafio, uma família precisa de ser colo, precisa de ter espaço para que cada um possa expressar-se, possa libertar-se da sua dor, ao mesmo tempo que se sente ouvido e com sentido de pertença. Quanto mais acolhimento existir, mais uma família se torna um núcleo protetor de todos e um lugar de paz, mesmo perante as dificuldades;

2. Existir espaço para o contraditório

Perante momentos de tensão, cada um dos elementos pode vivenciar o desafio de forma diferente, é por isso essencial, que haja espaço e tolerância para diferentes formas de pensar, de sentir e de reagir ao mesmo problema. Dentro da unificação de uma família, há vários ramos que têm necessidades e perspectivas diferentes e, por isso, o espaço para o contraditório, sem que isso implique necessariamente conflito é essencial;

3. Existir espaço para a clareza

Em momentos difíceis, precisamos de primeiro ser capazes de nos libertar da dor emocional, para depois, conseguirmos ganhar clareza e, se necessário, agir ou alterar padrões. Assim, é absolutamente fundamental que, em conjunto, possa existir uma comunicação atenta, assertiva, que encontre os pontos comuns de cada um e leve à clareza dos próximos passos a seguir. Esta clareza exige a responsabilização de cada um, sem cair na armadilha da culpabilização que mais não faz do que afastar os elementos da família entre si.

Lembremo-nos que as famílias devem sempre ser o lugar que é casa, que é relação, mas por toda a sua importância são também um lugar permeável aos desafios e aos desencontros. Por isso, é tão importante lembrarmo-nos que tudo aquilo que é importante para nós precisa de ser cuidado, amparado e respeitado. Se uma família for capaz de acolher as emoções, de ouvir e de ganhar clareza, estará seguramente mais perto de ser verdadeiramente uma família e um lugar onde cada um se pode sentir protegido e seguro.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.