Neste grupo de profissionais é muito frequente o aparecimento de nódulos das cordas vocais. Estes consistem num espessamento da sua superfície, uma espécie de “calo”, curiosamente tal como acontece num calo dos pés, em que a pele fica mais espessada. O seu aparecimento está relacionado com um traumatismo mecânico por má técnica vocal, ou por mau uso/abuso vocal, como falar durante muito tempo ou com demasiada intensidade, por exemplo, gritar.
Para além dos profissionais de voz, esta patologia é também muito frequente na infância, estando associado ao choro frequente nas crianças mais pequenas, ou aos “gritos” nas crianças um pouco mais velhas e que usam o “falar alto” ou “gritar” como uma forma de afirmação, quer no recreio ou na prática desportiva - e aqui o exemplo prático é gritar para passar a bola nos treinos de futebol!.
A presença destes nódulos vai provocar uma alteração na capacidade vibratória das cordas vocais com consequente alteração na qualidade do som. Os doentes podem notar rouquidão - que geralmente agrava ao final do dia e no final da semana - necessidade excessiva de “limpar a garganta”, como sejam o pigarreio ou o “throat clearing”, mas também quebras de voz, incapacidade de cantar algumas notas musicais e voz que vai desaparecendo no final das frases, o chamado “fade out”.
Como se faz o diagnóstico? Não poderia ser mais fácil! Uma simples consulta de otorrinolaringologia ou uma consulta da voz permite a avaliação dos sintomas, da qualidade vocal e a visualização das cordas vocais, através de laringoscopia, permitindo no próprio dia, o diagnóstico de nódulos das cordas vocais ou de outra patologia da laringe.
Boas notícias
Há tratamento para os nódulos vocais e a voz pode voltar ao normal! Estas lesões são benignas e são tratáveis. O tratamento primário dos nódulos vocais é a reabilitação vocal - vulgo terapia da fala. Sendo uma doença comportamental, a terapia é essencial para identificar alguns erros de técnica vocal e melhorá-la. Nos casos em que os nódulos estão numa fase mais inicial, esta medida pode levar à regressão parcial ou mesmo completa.
Nas lesões mais crónicas com nódulos mais organizados pode ser necessário um tratamento cirúrgico, a que chamamos fonocirurgia. A continuação de terapia vocal após a cirurgia é geralmente recomendada para prevenir a recorrência dos nódulos. Este método de começar e acabar o tratamento com terapia vocal é designado por método “sandwich” (terapia vocal + fonocirurgia + terapia vocal).
Para manter a voz saudável não se esqueça da hidratação, falar com calma, não gritar, utilizar amplificação se necessário, não fumar - e se fuma, pense em deixar de fumar - e sobretudo, não deixe de procurar ajuda médica caso a sua rouquidão persistir por mais de 2 semanas.
Bom regresso às aulas, caros professores!
Um artigo da médica Ana Jardim, otorrinolaringologista e Responsável da Consulta da Voz no Hospital CUF Descobertas.
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