Uma pessoa que tenha uma perturbação da fluência, quando fala, o seu discurso pode apresentar prolongamentos, bloqueios, palavras partidas e/ou repetições que tanto podem ser de sons ou de sílabas de uma palavra.
Para além destes sinais, o discurso pode ter associado movimentos involuntários da face e do corpo, como por exemplo, piscar de olhos, levantamento dos ombros, balançar do corpo e/ou tremor à volta dos lábios. Contudo, ressalva-se que estes movimentos não devem ser confundidos com tiques.
Esta perturbação não se manifesta da mesma maneira em todas as pessoas e caracteriza-se pela sua variabilidade, ou seja, a mesma pode variar durante o dia, a semana ou o mês.
Atualmente, sabe-se que a etiologia pode ser hereditária, isto é, genética, neurológica e psicossocial, esta última relacionada com a pressão exercida pela família após o surgimento da “gaguez”, por exemplo, para que a pessoa fale corretamente, desencadeando emoções negativas como ansiedade, medo e stress no momento de falar.
É importante ressalvar que a insegurança, timidez, baixa auto-estima, frustração, ansiedade, estado depressivo e pressão exercida pela família para que a pessoa fale corretamente não são as causas, mas as consequências de gaguejar sendo que desencadeiam emoções negativas e, nestas situações, as pessoas também devem ser acompanhadas por um Psicólogo.
A perturbação da fluência pode surgir em qualquer idade, dependendo da sua etiologia. Contudo, estudos recentes indicam-nos que 5% da população infantil, entre os 2 e os 5 anos, é comum existir uma gaguez transitória. Ou seja, a criança apresenta alguns sinais já referidos e estes não devem durar mais de 6 meses, nesse período “máximo” a gaguez deverá desaparecer em dois terços na percentagem acima indicada.
No caso em que os sinais não desaparecem, estamos perante uma gaguez crónica e esta deve ser avaliada e intervencionada por um Terapeuta da Fala. A intervenção precoce é essencial nestes casos.
Quer estejamos perante uma gaguez transitória ou crónica é muito importante que todas as pessoas que convivem com as crianças e/ou adultos que gaguejam entendam que uma atitude positiva origina mudanças durante o processo comunicacional.
Há, ainda, comportamentos a evitar quando lidamos com uma pessoa que gagueja, desta forma, não diga à pessoa para “falar mais devagar” ou para “ter calma”. Dizer à pessoa que gagueja para “respirar fundo” ou para “pensar antes de falar” não a ajuda. Trata-se de um mito.
Estes “conselhos” fazem com que a pessoa se sinta mais consciente das disfluências e quando tenta colocar em prática os “conselhos” que ouve, fica frustrada porque não resultam.
Não termine as palavras nem fale pela pessoa; espere a sua vez para falar e ouça o outro, uma vez que para a pessoa que gagueja é mais fácil falar quando tem poucas interrupções e a atenção dos outros. Devemos sempre manter o contacto visual e esperar que a pessoa acabe de falar. Não devemos interromper a pessoa que gagueja porque muitas vezes tal pode levá-la a voltar atrás no assunto, demorando mais tempo e causando frustração. Fale com a pessoa com calma, fazendo pausas frequentes. Mostre que está atento ao conteúdo da mensagem e não à forma como é dita. Por fim, não faça da gaguez algo de que se deva ter vergonha.
Um artigo de Lina Marques de Almeida, Terapeuta da Fala nos Hospital dos Lusíadas de Lisboa.
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