Entre muitas doenças associadas à obesidade está a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). A doença de refluxo gastroesofágico caracteriza-se pelo refluxo de ácido do estômago para o esófago podendo causar sintomas muito incomodativos, tais como azia, sensação de ardência retroesternal (no “peito”) e regurgitação de alimentos.
Esta condição médica pode atingir 25-30% da população e ser causadora de outras complicações como o esófago de Barrett e até o cancro do esófago. Um dos fatores de risco mais importantes para a doença de refluxo gastroesofágico é a obesidade (e em particular a obesidade visceral).
Vários estudos têm concluído que a obesidade aumenta o risco de DRGE através de vários mecanismos, tais como aumento da pressão abdominal, entre outros mais ou menos bem estudados. Em 2010, apresentamos um estudo no American College of Gastroenterology em que mostrámos que a obesidade visceral (chamada também de “gordura abdominal”) era um fator de risco para doença de refluxo gastroesofágico.
Como a obesidade visceral (ou "abdominal") agrava a DRGE?
Não há uma resposta clara para esta pergunta. Porém, estudos preliminares sugerem que a obesidade abdominal pode resultar no aumento da pressão mecânica no estômago, promovendo refluxo. Um estudo recente utilizando manometria de alta resolução descobriu que indivíduos obesos são mais propensos a ter disrupção da junção esofagogástrica levando a hérnia hiatal e um gradiente de pressão gastroesofágico aumentado, fornecendo um cenário perfeito para o refluxo ocorrer.
Qual o tratamento ideal para a DRGE?
Os medicamentos chamados inibidores da bomba de protões (como o omeprazol) são muito eficazes a reduzir a exposição de ácido do esófago, contudo cada vez mais têm sido emitidos alertas sobre os efeitos a longo prazo do uso destes medicamentos. Não vamos ser uma sociedade que prefere comer qualquer coisa, desde que possamos tomar um medicamento para reduzir os sintomas de refluxo.
O ideal é alterar hábitos alimentares e estilos de vida para comer menos, fazer exercíciose perder peso. Portanto, quando se trata de obesidade e DRGE, exige-se um compromisso de todos nós com uma grande mudança no estilo de vida. Em alguns casos poderá ser necessário uma intervenção endoscópica de modo a tratar concomitantemente o problema da obesidade e DRGE.
Qual a ligação entre cirurgia bariátrica e DRGE?
A gastrectomia vertical por via laparoscópica (“sleeve gástrico”) tem sido uma cirurgia bastante em voga nos últimos anos. Contudo vários estudos têm mostrado que esta cirurgia é refluxo génica, tendo sido causa de doença de refluxo gastroesofágico em cerca de 30% dos pacientes e com necessidade de uma nova cirurgia (de conversão em bypass gástrico) em 6%.
Que tratamentos endoscópicos existem para a DRGE?
Existem tratamentos como a gastroplastia endoscópica que são preferidos em pacientescom obesidade e DRGE uma vez que podem ter o potencial de melhorar concomitantemente a obesidade e DRGE. Além do mais, através de endoscopia é possível tratar alguns casos de DRGE em pacientes que já foram submetidos a cirurgia bariátrica evitando uma cirurgia de conversão com riscos muito maiores.
Um artigo do médico Miguel Afonso, gastroenterologista e diretor clínico da Gastroclinic.
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