O relatório anual, realizado pela Organização Mundial de Saúde, conclui que as perturbações provocadas pela pandemia de covid-19 fizeram aumentar em 47.000 o número de mortes por malária no mundo, mas o pior cenário, que apontava para uma duplicação da mortalidade, não se concretizou.
A nível global, o número de casos de malária aumentou em 14 milhões – de 227 milhões em 2019 para 241 milhões em 2020 – e a doença matou 627 mil pessoas em 2020, mais 69 mil (12%) do que no ano anterior, sendo dois terços dessas mortes atribuídas às perturbações provocadas pela pandemia.
Segundo o relatório, a região de África da OMS contribuiu para mais de 95% desse aumento de casos e de mortes entre 2019 e 2020.
Só na África Subsaariana, a OMS registou no ano passado 228 milhões de casos de malária (95% de todos os casos no mundo), o que representou um aumento de 7% face aos 213 milhões de casos contabilizados em 2019.
O número de mortes na África Subsaariana aumentou 12% - de 534 mil para 602 mil – em 2020, e cerca de 80% das mortes por malária na região são entre crianças com menos de 5 anos.
“Portanto, estamos a lidar com um problema em geral africano”, disse o diretor do Programa Global da Malária da OMS, Pedro Alonso, numa conferência de imprensa para apresentar o relatório aos jornalistas.
Provocada por um parasita que é transmitido por um mosquito, a malária pode ser contraída várias vezes ao longo da vida e pode comprometer o desenvolvimento das crianças quando contraída em idade precoce ou até matar.
Entre 2000 e 2019, a incidência da malária na região africana da OMS diminuiu de 368 para 222 casos em cada mil habitantes, mas no último ano, sobretudo devido a perturbações relacionadas com a covid-19, aumentou para 232, conclui o relatório.
A taxa de mortalidade por malária sofreu uma redução 63% entre 2000 e 2019 – de 150 para 56 mortos em casa 100 mil habitantes, após o que aumentou para 62 em 2020.
Segundo o relatório da OMS, apenas seis países da África subsaariana - Nigéria (27%), República Democrática do Congo (12%), Uganda (5%), Moçambique (4%), Angola (3,4%) e Burkina Faso (3,4%) – representam mais de metade de todos os casos de malária registados no mundo e quatro países representam mais de metade das mortes: Nigéria (31,9%), República Democrática do Congo (13,2%), Tanzânia (4,1%) e Moçambique (3,8%)
A região africana falhou os objetivos definidos para 2020 pela Estratégia Técnica Global para a malária, que visava uma redução da incidência da malária em 40% relativamente aos números de 2015.
Apenas Cabo Verde, a Etiópia, a Gâmbia, o Gana e a Mauritânia alcançaram este objetivo, enquanto a Argélia já tinha sido em 2019 certificada como livre de malária.
Dos restantes países africanos, 18, incluindo Moçambique e São Tomé e Príncipe, conseguiram reduzir a incidência de malária em 2020 face a 2015, embora não em 40%, cinco não sofreram alterações significativas, 16 registaram aumentos na incidência de até 40%, incluindo a Guiné Bissau, e cinco aumentaram em mais de 40%, incluindo Angola.
Cabo Verde, Esuatini e São Tomé e Príncipe registaram zero mortes por malária em 2020 , enquanto a Etiópia e a África do Sul registaram reduções de 40% ou mais na mortalidade face a 2015.
Doze países, incluindo a Guiné Equatorial e Moçambique, alcançaram reduções de mortalidade inferiores a 40%, 14 não registaram alterações na taxa de mortalidade e 12 países registaram aumentos da taxa de mortalidade, incluindo Angola e a Guiné Bissau.
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