A Inteligência Artificial (IA) generativa está a agitar os alicerces da saúde, prometendo revolucionar a forma como lidamos com medicamentos, vacinas e até mesmo as interações paciente-profissional de saúde, onde chatbots irão desempenhar o papel de “conselheiros”. Contudo, por mais que prometa, esta inovação tem os seus limites. Chegou a hora de as organizações de saúde investirem fortemente em bases de dados integradas e robustas.
A inteligência artificial é a nova tendência da tecnologia moderna, abrangendo uma ampla gama de áreas e aplicações, mas, na verdade, este conceito já tem alguma história (desde os anos 50). Nestes últimos anos, testemunhámos o ressurgimento da IA, com a sua vertente generativa a assumir-se como protagonista. Anteriormente, esta tecnologia era confinada a aplicações mais limitadas, como jogos e otimização de horários baseados em cálculo de caminhos, algoritmos e heurísticas. Atualmente, o seu impacto é inegável, estendendo-se do Machine Learning, à IA Generativa e aos Large Language Models (LLM), manifestando-se de forma evidente na análise de negócios e até na comunicação natural entre humanos e máquinas, já ultrapassando na maioria dos casos as dificuldades da interpretação semântica da linguagem humana. Um exemplo disso é o famoso ChatGPT.
Na área da saúde, o tema fica ainda mais interessante. O Machine Learning e o Deep Learning, tomando por base os grandes volumes de dados existentes, têm sido aliados valiosos na deteção precoce de doenças e na melhoria dos tratamentos. Mais recentemente, a IA generativa tem-se destacado na criação de medicamentos inovadores, na formulação de vacinas mais eficazes e até mesmo no desenvolvimento de chatbots para aconselhamento de saúde.
No entanto, é crucial entender que, embora seja um avanço promissor, a substituição dos profissionais de saúde na interação com os pacientes ainda está longe de ser uma realidade tangível. Na verdade, os nossos smartphones ainda não podem ser o novo médico de família. Embora os chatbots possam ser úteis para lidar com sintomas leves e rotineiros, uma avaliação precisa e o aconselhamento personalizado continuam a requerer a sensibilidade e a empatia dos profissionais de saúde de carne e osso.
O contacto humano permanece como um pilar incontornável na prestação de cuidados de saúde. Apesar de existirem estudos que defendam que a IA pode ser mais precisa e até mesmo mais empática, basta pensar que dois utentes se podem queixar da mesma forma e com os mesmos sintomas, mas que num caso se trata de um hipocondríaco e noutro de uma doença grave.
No que respeita à gestão da saúde, a IA generativa desponta como uma promessa ainda em desenvolvimento. Com a recente reorganização dos serviços de saúde em Unidades Locais de Saúde (ULS), abre-se uma janela para otimizar processos e elevar a qualidade da prestação de cuidados centrados nos utentes. No entanto, para que a IA generativa possa verdadeiramente prosperar neste contexto, é imperativo que as organizações de saúde se preparem a montante.
Estas entidades devem construir uma base de dados sólida, estruturada e integrada. À medida que avançamos em direção a uma maior maturidade da IA generativa na gestão da saúde, surge uma oportunidade para otimizar processos e melhorar o acompanhamento e a entrega de cuidados de saúde. Apenas com dados de alta qualidade e processos bem delineados, as instituições de saúde irão conseguir explorar todo o potencial desta tecnologia.
Ao automatizar tarefas rotineiras, refinar processos de gestão e aprimorar a qualidade dos serviços oferecidos, a IA generativa pode tornar-se uma aliada indispensável na procura da eficiência e excelência na gestão da saúde.
Neste sentido, torna-se essencial reconhecer o papel crucial dos dados, sendo estes a espinha dorsal desta transformação. Investir na construção e na qualidade dos dados é o primeiro passo para desbloquear todo o potencial da IA generativa na saúde, promovendo assim uma melhoria significativa na prestação de cuidados médicos e no bem-estar geral da população. Afinal, por mais que a tecnologia seja bem-intencionada, não podemos começar a construir casas pelos tetos.