Existem vários tipos de cancro do ovário, de acordo com o tipo de células afetadas - a quase totalidade de tumores malignos do ovário (entre 85% e 90%) afeta as células epiteliais. O pico de incidência destes tumores é entre os 65 e os 75 anos. Alguns tipos mais raros de cancro do ovário têm o seu pico de incidência em idades jovens. Estes últimos constituem um grupo muito heterogéneo de tumores, com clínica e prognóstico muito variáveis, dos quais são exemplo os tumores de células germinativas.
O carcinoma epitelial do ovário é o mais letal de todos os cancros ginecológicos, sendo o seu diagnóstico habitualmente tardio. Isto acontece por vários motivos: o facto de não dispormos de um teste de rastreio eficaz, pela ausência de sintomas em fases iniciais e a presença de sintomas inespecíficos em fases avançadas (como a falta de apetite, dor e/ou distensão abdominal, sensação de enfartamento e perda de peso) e ainda pela sua rápida evolução.
Diagnóstico
No caso de suspeita de um tumor do ovário, o teste diagnóstico primário é, habitualmente, a ecografia pélvica, sendo a decisão de mais exames, como Ressonância Magnética pélvica, TAC e análises laboratoriais, em função dos achados da ecografia.
Tratamento
O tratamento deve sempre ser planeado numa reunião multidisciplinar, por uma equipa experiente em ginecologia oncológica. Quase sempre, o tratamento recomendado será uma combinação de cirurgia e quimioterapia, sendo a decisão de começar por um ou por outro em função do volume e extensão da doença e sua localização.
No caso de cancro do ovário em mulheres jovens, que desejam preservar a fertilidade, pode ser considerada uma abordagem conservadora, com preservação do útero e do ovário contralateral, em circunstâncias muito especiais.
Hereditariedade
Em 5 a 10% dos casos, o cancro epitelial do ovário pode ser hereditário, havendo risco acrescido em casos de mutações BRCA1 e BRCA2, defeitos nos genes associados à síndrome de Lynch, entre outros.
Hoje em dia, é oferecida a possibilidade de realização de estudo genético no tumor a todas as mulheres com cancro epitelial do ovário não mucinoso. A identificação de uma mutação genética é relevante para a decisão terapêutica, com novos fármacos que têm demonstrado resultados muito eficazes, e com menos efeitos adversos, sobretudo nas mulheres portadoras de mutações genéticas.
A identificação de mutações genéticas é também importante no aconselhamento de familiares, uma vez que podem ser propostas algumas medidas, entre as quais: uma vigilância ginecológica mais apertada, a quimioprevenção e a cirurgia de redução de risco com remoção dos ovários e trompas (geralmente após os 35-40 anos), que confere uma redução de até cerca de 95% do risco de cancro do ovário e 50% do risco de cancro da mama, nas mulheres com mutações BRCA 1 e BRCA 2.
Nos últimos anos, têm sido desenvolvidos vários estudos, na área do cancro do ovário, na tentativa de encontrar métodos cada vez mais eficazes de diagnóstico precoce e terapêuticas inovadoras, com o intuito de melhorar as hipóteses de cura da doença.
É importante não se esquecer de consultar regularmente um especialista em Ginecologia, em particular quando há histórico de doenças ginecológicas na família, para prevenir ou assegurar um diagnóstico atempado do cancro do ovário e de outras patologias. Não deixe a sua saúde para depois!
Um artigo de Ana Constâncio Martins, especialista em Ginecologia-Obstetrícia do Hospital CUF Tejo e das Clínicas CUF Belém e Miraflores.
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