Em declarações hoje aos jornalistas, à margem de uma conferência de imprensa sobre a vacinação dos médicos, em Lisboa, Miguel Guimarães lamentou não ter tido acesso ao relatório da Inspeção-Geral das Atividade em Saúde (IGAS), cujas conclusões foram divulgadas na segunda-feira pelo Ministério da Saúde.
Considerou ainda “incompreensível” que nem o bastonário nem a Ordem tenham sido ouvidos “num relatório elaborador pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde em que se atreve, porque não é uma competência da IGAS, a falar em questões deontológicas e disciplinares”.
A inspeção ordenada pelo Ministério da Saúde ao surto de covid-19 no Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (que provocou 18 mortos) admite “responsabilidade deontológica” dos médicos que recusaram visitar a instituição no seguimento de instruções da OM e de um sindicato.
“Os médicos sempre foram responsáveis, aliás, no dia em que os políticos assumirem as responsabilidades, como os médicos assumem no dia a dia perante os seus doentes e perante a sociedade portuguesa, eu tenho a certeza que passamos a ter uma sociedade melhor”, salientou o bastonário da OM.
Miguel Guimarães sublinhou que “os médicos são as pessoas que mais indemnizações têm que pagar. Os médicos fazem a capa dos jornais mesmo antes de serem julgados. Portanto, os médicos têm uma responsabilidade sem paralelo na sociedade civil”.
Criticou ainda o relatório ter sido tornado público pelo Ministério da Saúde sem ter sido dada a conhecer à Ordem, revelando que já o pediu com “caráter de urgência”.
“Temos que aguardar pelos relatórios verdadeiramente independente, pelos relatórios em que nós de facto acreditamos e não em relatórios que servem apenas para estar a branquear uma situação grave do país, uma situação em que todos nós sabemos que os lares não estão bem, não há nenhum português que não o saiba”, disse.
Lembrou que esta situação teve “uma repercussão grande na vida das pessoas”, uma “mortalidade muito significativa”, e em que “não foram cumpridas as regras definidas pela Direção-Geral de Saúde”.
“Uma situação que, através do relatório de auditoria da Ordem dos Médicos, o país ficou a perceber que tínhamos que fazer mais pelos lares. Foi um grito de alerta que nós demos porque as pessoas precisavam dele”, sustentou, recordando que a situação foi denunciada pelos próprios médicos e enfermeiros porque estava “completamente incomportável”.
Para o bastonário, “o Ministério da Saúde estar a tentar, enfim, incutir à Ordem dos Médicos responsabilidades que naturalmente não tem”, mas, ressalvou que tem que ver o relatório da IGAS.
“Em vez de se preocupar com a saúde dos portugueses, em vez de se preocupar em resolver o problema que existe em muitos lares, e que os lares tenham equipas próprias para dar uma resposta rápida às necessidades das pessoas mais velhas, que construíram este país e que merecem o respeito dos portugueses e que todos os políticos têm que respeitar, em vez disso é mais fácil estar a perseguir um sindicato médico e a Ordem dos Médicos”, acusou Miguel Guimarães.
“Claro que nós estamos cá para responder e claro que nós não aceitamos aquilo que está nas conclusões do Ministério da Saúde”, vincou, reiterando que “os médicos de família cumpriram, foram trabalhar e, portanto, nunca deixaram de ir aos lares”, apesar de alguns protestaram, terem exigido uma requisição, porque tinham que largar o seu local de trabalho, onde também tinham doentes.
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