O presidente da Anvisa, António Barra Torres, disse numa conferência de imprensa que o órgão parou os testes da Coronavac porque foi notificado de um evento grave adverso não esperado pelo Instituto Butantan, que lidera o estudo no Brasil da eventual vacina contra a covid-19 em desenvolvimento pelo laboratório chinês Sinovac.

“A decisão tomada ontem [segunda-feira] era a única a ser tomada. Diante de dúvidas para [paralisar o estudo] pede as informações necessárias e segue o procedimento”, afirmou Torres.

“Foram estas informações que levaram a área técnica a tomar a decisão da interrupção temporária dos testes referentes à vacina da Sinovac. Digo isto para pontuar que é uma decisão técnica”, declarou.

As autoridades não confirmam oficialmente, mas os ‘media’ brasileiros informaram que a morte de um voluntário de 33 anos em 29 de outubro que participava na terceira fase do ensaio da Coronavac motivou a suspensão.

A Rede Globo e outros ‘media’ locais exibiram inclusive um boletim de ocorrência da polícia brasileira sobre o caso do alegado voluntário, que não foi identificado, em que consta suicídio como causa da morte.

Torres relatou que a Anvisa foi notificada sobre o evento em 06 de novembro, mas o documento chegou ao órgão apenas na segunda-feira, data em que um grupo técnico da agência analisou os dados enviados e considerou as informações insuficientes e incompletas.

Em razão disto, a Anvisa decidiu suspender a pesquisa, decisão que manterá até receberem informações de um comité internacional de pesquisadores independentes que analisa o desenvolvimento do imunizante.

“O regramento diz, diante de um evento adverso grave não esperado que o Comité Internacional Independente tem de atuar. Então a informação só tem valor se ela vem por aquele canal, os demais canais, por mais que tenha informações relevantes não são o comité independente”, disse Torres, ao ser questionado se a Anvisa autorizará o retorno às pesquisas perante a divulgação mediática sobre a causa da morte do voluntário.

“O acionamento do comité independente é um evento previsto (…) Acreditamos que de posse das informações que acabam sendo cada vez mais veiculadas, que em tese [são divulgadas pelos ‘media’] ao arrepio do sigilo que protege o testador [voluntário], tão logo estas informações tomem o caminho correto elas virão até nós e serão analisadas”, acrescentou.

O Instituto Butantan frisou logo que foi informado da suspensão dos testes pelos ‘media’ locais que a morte de um dos voluntários do estudo “não tem relação com a vacina” e, por isso, considerou que devem continuar.

Na mesma linha, a farmacêutica chinesa Sinovac disse numa nota divulgada em Pequim, nesta terça-feira, que está convencida da segurança de sua vacina.

“O estudo clínico no Brasil está sendo realizado de forma rigorosa e de acordo com os requisitos das boas práticas clínicas, e estamos convencidos da segurança da vacina”, disse a Sinovac num comunicado no seu ‘site’.

Diante da suspensão do estudo, o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, insinuou que a decisão significava uma vitória sua em relação a um rival político, o governador do estado brasileiro de São Paulo, João Doria, já que o Instituto Butantan está veiculado ao governo regional e a vacina é testada de forma independente.

“Mais uma vitória de Jair Bolsonaro (…) Morte, invalidez, anomalia. Essa é a vacina que Doria queria obrigar o povo paulista a tomar”, escreveu Bolsonaro na rede social Facebook.

A manifestação do Presidente brasileiro gerou críticas e levantou dúvidas sobre uma politização dos testes da Coronavac porque a Anvisa está subordinada à estrutura do Governo central.

Sobre este ponto, Barra Torres defendeu que as decisões da Anvisa foram técnicas, mas reconheceu que outras pessoas estariam fazendo uso político do tema.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (mais de 5,6 milhões de casos e 162.628 óbitos), depois dos Estados Unidos.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.263.890 mortos em mais de 50,9 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.