Artur Paiva defendeu que é fundamental manter a capacitação atual do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente na área dos cuidados intensivos, para assegurar a resposta a uma fase que se teme “mais complicada” do que a atual.
“A fase que vai seguir-se é uma fase em que tem de se fazer coabitar uma resposta à retoma de uma série de atividades assistenciais e clínicas que estiveram ou paradas ou suspensas ou fortemente diminuídas durante este período”, disse, especificando que haverá “mais cirurgias complicadas, transplantação” e “uma série de procedimentos complicados que, muitas vezes, implicam a permanência em medicina intensiva”.
Para o clínico, articular a retoma dessas atividades com “um período de endemia de COVID-19” - em que a doença provocada pelo novo coronavírus não vai desaparecer - e o risco de novas ondas de contágio, não será uma tarefa fácil.
“A pior coisa que podemos fazer é desmobilizar, reduzir os recursos da medicina intensiva, tal como eles estão agora”, advertiu.
Artur Paiva sublinhou que a medicina intensiva quase duplicou a capacidade de resposta, o número de camas, para responder à fase hiperaguda da crise.
“Partimos de um momento em que éramos um dos países da Europa com menor rácio de camas de medicina intensiva por habitante - era 6.4 por cem mil habitantes antes da pandemia e para resposta hiperaguda quase duplicamos essa capacidade de resposta. Temos de cerca de 10 a 12 camas por cem mil habitantes, dependendo das zonas do país”, afirmou.
Agora, sustentou, “é muito importante que não haja desmobilização dessa capacitação” para assegurar uma resposta capaz à “coabitação das duas atividades”, defendeu o médico, frisando que a parte tecnológica e logística, de camas, é muito importante, mas que os recursos humanos disponíveis são fundamentais: “As camas e os ventiladores não tratam doentes sozinhos, o fundamental no tratamento são as equipas, os médicos e os enfermeiros, os assistentes operacionais e os restantes profissionais de saúde”.
“Parte dos recursos humanos que estavam a auxiliar os médicos e enfermeiros de medicina intensiva nesta tarefa vão ter de voltar a algumas atividades”, como os anestesistas e os enfermeiros de bloco operatório que estavam a ajudar os intensivistas, exemplificou.
Na opinião de Artur Paiva, cada instituição terá de encontrar soluções “para ir buscar recursos adicionais a outros locais”.
Soluções essas que terão de ser pensadas localmente, mas que em alguns aspetos devem ser facilitadas, vaticinou.
Neste sentido, considerou que há “uma absoluta necessidade de restabelecer os concursos para colocação de jovens especialistas” e de permitir que algumas dessas vagas colocadas a concurso possam ter “um perfil específico para a medicina intensiva”.
“É absolutamente essencial retomarmos atividade em processos assistenciais e clínicos que estão parados porque isso acautela o bem estar dos cidadãos que não têm COVID-19, mas têm outras patologias que precisam de ser tratadas. Esse lado é absolutamente fundamental”, reconheceu.
Do outro lado, a retoma das atividades económicas, o desconfinamento: “Aí, a minha posição é que esse desconfinamento tem de ser muito gradual e progressivo e muito monitorizado”, disse.
“O desconfinamento não é uma opção, é uma necessidade. A economia tem de ser restabelecida. Não se trata de uma opção, trata-se de uma necessidade. O que é uma opção é a forma como o fazemos. Tem de ser gradual, de forma a podermos retornar se alguma coisa correr mal e tem de ser assimétrica. Têm de ser selecionadas as atividades e as pessoas que retomam a atividade antes de outras”, concluiu.
O responsável da Ordem defendeu também que tem de haver um envolvimento de todos os cidadãos, na manutenção das regras de distanciamento social, de etiqueta respiratória, de higiene das mãos e de uso da máscara em espaços fechados com mais de uma pessoa, na retoma das atividades económicas que se perspetiva a partir de segunda-feira.
Portugal contabiliza 948 mortos associados à COVID-19, em 24.322 casos confirmados de infeção, segundo os dados divulgados na quarta-feira pela Direção-Geral da Saúde.
Das pessoas infetadas, 936 estão hospitalizadas, das quais 172 em unidades de cuidados intensivos, e o número de casos recuperados passou de 1.357 para 1.389.
Portugal vai terminar no sábado, 02 de maio, o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o Governo deverá anunciar hoje as medidas para continuar a combater a pandemia.
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