Esta é uma das medidas sugeridas pelos administradores hospitalares ouvidos no âmbito do estudo “O impacto da pandemia covid-19 na prestação dos cuidados de saúde em Portugal”, promovido pelo Movimento Saúde em Dia, realizado pela consultora MOAI com dados do Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde, recolhidos entre 25 de junho e 05 de julho de 2021.
O estudo constatou um atraso na resposta aos doentes não covid-19 e salientou a “necessidade de reconstruir urgentemente uma ponte entre este passado recente e o futuro imediato, procurando recuperar ´o tempo perdido´”.
“As doenças crónicas merecem um destaque do ponto de vista de modelo futuro de acompanhamento diferenciado e gestão de proximidade já que, neste caso, nem sempre a resposta terá sido adequada”, indicou o documento.
O estudo, de acordo com os quatro administradores hospitalares inquiridos, preconizou que se deve “aprofundar a articulação de cuidados pré-hospitalares, hospitalares e continuados”.
Entre as patologias mais preocupantes, “destacam-se as do foro oncológico, cuja ´recuperação` pode estar comprometida”, acentuou o mesmo documento, que preconiza dever-se “persistir em modelos de maior e melhor coordenação regional para maximização da oferta com eficiência máxima”.
A flexibilização do modelo de gestão interdepartamental é também defendida como uma ação necessária.
“A pandemia ensinou que modelos rígidos não são compatíveis com realidades dinâmicas que desafiam a oferta instalada dos serviços de cuidados de saúde”, é referido no estudo.
É também proposta a revisão de modelos de capacidade de resposta em cenários de contingência, dando como exemplo a fixação de 90% nos limites na capacidade de internamento, “já que, em casos excecionais, ultrapassar este limite pode colocar em risco a capacidade de resposta”.
O documento sugere que outra medida a implementar deve ser “rever o modelo de financiamento dos hospitais baseado somente em volume e não em valor”.
“O agravamento da ´conta de exploração` em tempos de covid coloca os hospitais numa forte pressão, sendo que, em alguns casos, no limite em termos de sustentabilidade”, alertou o estudo.
Além de quatro administradores hospitalares, foram entrevistados 315 clínicos das especialidades de Medicina Geral e Familiar e Medicina Interna.
Dessas respostas concluiu-se que “não tendo existido uma diminuição significativa da oferta de serviços, foi do lado da procura que se notou uma muito forte quebra, nomeadamente nos serviços de Urgência”.
Essa diminuição traduziu-se “numa diminuição do consumo de todos os atos médicos associados, nomeadamente exames complementares e afins”.
Segundo a mesma análise, cerca de 450 mil rastreios aos cancros da mama, do útero e do colo e reto ficaram por realizar no primeiro ano de pandemia, bem como 29 milhões de exames complementares de diagnóstico e terapêutica.
O estudo, que comparou os dados disponíveis do primeiro ano de pandemia (março 2020 a fevereiro de 2021) com o período imediatamente anterior (março 2019 a fevereiro 2020), mostra uma quebra nos rastreios realizados no âmbito do programa de rastreios oncológicos nos cuidados de saúde primários.
Segundo o documento, hoje apresentado na Ordem dos Médicos (OM), em Lisboa, houve menos 21% de mulheres com registo de mamografia nos últimos dois anos (169.485), menos 12% de mulheres com colpocitologia atualizada (140.872) e menos 7% com rastreio do cólon e reto (125.322).
Em declarações à agência Lusa, o bastonário da OM, Miguel Guimarães, considerou estes dados “muito preocupantes”.
Para recuperar os doentes, tem de se fazer mais do que se fazia antes a pandemia, disse, salientando em “em tempo normal”, a atividade assistencial aumenta entre 3% a 5% de um ano para o outro”.
“Não é só resolver o problema das listas de espera, mas tentar identificar todos os doentes que ficaram para trás”, frisou, defendendo que para isso é preciso criar “um programa excecional de recuperação” dos doentes, o que implica um investimento e “uma grande mobilização” das pessoas, do Serviço Nacional de Saúde e dos setores social e privado.
Por outro lado, “é urgente” libertar os médicos de família para as suas tarefas habituais e contratar médicos que estão fora do sistema e outros profissionais para o plano de vacinação e para as tarefas relacionadas com a covid-19, para pôr “a máquina toda a funcionar”.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 3.996.519 mortos em todo o mundo, resultantes de mais de 184,4 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus, segundo o balanço mais recente feito pela agência France-Presse.
Em Portugal, desde o início da pandemia, em março de 2020, morreram 17.118 pessoas e foram registados 892.741 casos de infeção, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, a Índia ou a África do Sul.
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