“Há coisas que não se conseguem evitar porque são tantas pessoas com tão poucos lugares que é impossível, mesmo que a pessoa se queira afastar das outras, não consegue”, disse à Lusa o utente Daniel Benito, de 25 anos, que utiliza diariamente este transporte fluvial.

O jovem encontrava-se no terminal de Cacilhas, em Almada, no distrito de Setúbal, e aguardava a próxima partida para o Cais do Sodré, em Lisboa, às 09:30, mostrando-se insatisfeito com o serviço operado pela Transtejo.

“A quantidade de pessoas que utiliza o transporte ainda é reduzida, mas infelizmente a Transtejo decidiu suprimir algumas carreiras, o que faz com que o número de pessoas volte a aumentar e o distanciamento vai pela janela”, explicou.

Neste sentido, Daniel Benito destacou o funcionamento dos comboios em Lisboa, que estão a funcionar sem reduzir as carreiras, o que permite “manter facilmente os dois metros de distância ou mais entre cada passageiro”.

“Aqui, infelizmente, os barcos são mais pequenos do que os comboios e o número de utilizadores ainda é grande para ir para Lisboa e, com carreiras de meia em meia hora, não dá para manter a distância de segurança lá dentro”, apontou.

Também a utente Ediane, de 42 anos, mostrou-se muito descontente com a falta de distanciamento nos navios, mencionando que até “já quis fazer uma denúncia”.

 “Já reclamei com os senhores do barco porque ninguém respeita, quando saem ficam todos juntos. As janelas estão todas fechadas e nós de máscara, acho que não devia ser assim”, frisou.

Segundo a utente, também não há qualquer fiscalização a bordo, para verificar se as medidas de segurança estão a ser cumpridas: "não há, e mesmo que se reclame na bilheteira, eles não querem saber”.

“Acho que devia ser de outra forma, deviam ter mais barcos porque só há de meia em meia hora. Se olhar, já está cheio de gente e um senta-se ao lado do outro. Acho que deviam ver uma forma melhor agora que os restaurantes voltaram a funcionar, que há mais funcionários e gente na rua”, defendeu.

Além disso, a utente também não se mostrou muito positiva em relação ao futuro, quando a fase de desconfinamento terminar.

“Aí é que vai ser pior, acho que aí nem a máscara funciona. Têm de ter mais barcos de dez em dez minutos, uma quantidade como nos autocarros, que têm um limite de gente para entrar e, se tiver gente a mais, têm que esperar pelo próximo. No barco também devia ser assim”, apontou.

Em 01 de maio, administração da Transtejo e Soflusa anunciou que iria aumentar o “limite de passageiros transportados em cada viagem, de um terço para dois terços de passageiros da lotação de cada navio, em todas as ligações fluviais, a partir de 03 de maio”.

Além disso, indicou que a lotação dos navios seria “controlada através da contagem de passageiros, efetuada sempre que transpõem o torniquete para acesso à sala de embarque”.

Desde 23 de março, as duas empresas estão a funcionar em “horários de serviços mínimos”, sendo que, com o fim do estado de emergência, apenas foram repostas as carreiras nos terminais do Montijo e do Seixal, no distrito de Setúbal, em 06 de maio.

A Transtejo assegura as ligações fluviais entre o Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão a Lisboa, enquanto a Soflusa garante a travessia entre o Barreiro e o Terreiro do Paço (Lisboa).