No contexto atual o ecossistema económico da saúde continua a destacar-se como uma iniciativa central para estimular o desenvolvimento multidisciplinar na área da saúde. Ao promover uma colaboração entre diversos setores, visa-se criar uma sociedade mais saudável e, em consequência, mais produtiva, fomentando um futuro sustentável para todos. Estas dinâmicas colaborativas não só aceleram a inovação tecnológica, como também melhoram a eficiência e a qualidade dos cuidados de saúde, respondendo de maneira mais eficaz aos desafios globais (8).
O ecossistema económico da saúde em Portugal é um ambiente sofisticado, complexo e multidisciplinar onde sinergias entre as diferentes entidades e os stakeholders desempenham um papel vital na inovação e na melhoria dos cuidados de saúde. As parcerias entre universidades, serviços de saúde, laboratórios de investigação e tecido empresarial são fundamentais para o desenvolvimento de novas soluções e para a promoção de um sistema de saúde mais eficiente e acessível (4).
As sinergias interdisciplinares são impulsionadas por políticas estratégicas que incentivam à investigação e à transferência de conhecimento. Abordar as práticas e as políticas vigentes, os desafios e as oportunidades que moldam o futuro desta colaboração viva é essencial para a definição de políticas, destacando a sua relevância para o desenvolvimento e implementação de diretrizes na área da saúde num contexto economicamente sustentável.
A integração de esforços entre ensino, saúde, economia e investigação promove a inovação e avanços significativos no conhecimento do sistema de saúde, aliado à gestão eficaz dos recursos. A cooperação e conceção de parcerias revestem-se de importância vital para alcançar o fim proposto. Acompanhar estudos de viabilidade, estruturar programas de avaliação sobre as próprias parcerias é pertinente para realizar uma análise avaliativa, de forma produtiva e sistematizada.
Nesta conjuntura observa-se, ainda, a importância vital de uma regulamentação legal e ética sobre a partilha, o uso e o processamento de dados. A cultura de rigor e o cumprimento das diretrizes relacionadas e em vigor, deve ser assegurada por parte de todos os envolvidos e é fundamental para o sucesso a longo prazo. Utilizando uma metodologia de análise das políticas governamentais, programas de financiamento e iniciativas colaborativas em saúde, identifica-se resultados relevantes que destacam os progressos alcançados. Exemplos, incluem parcerias bem-sucedidas entre universidades e hospitais para pesquisa translacional, assim como iniciativas de telemedicina para melhorar o acesso aos cuidados de saúde em áreas remotas ou distantes.
O sucesso das práticas de gestão, torna-se difícil de definir ou quantificar atendendo a que a saúde é uma necessidade humana básica de complexa definição, e as estruturas das organizações de saúde são igualmente complexas. A este contexto, acresce a multidisciplinaridade e diversidade das atividades (1), com desafios significativos, tais como barreiras financeiras, culturais e estruturais que ainda representam obstáculos, de diferentes graus, para a implementação eficaz de projetos colaborativos.
O ecossistema de saúde representa um complexo e dinâmico conjunto de relações e interações que englobam múltiplos atores, sistemas e processos, cada um contribuindo de forma interdependente para a promoção da saúde e a prevenção / tratamento de doenças ou patologias. Este conceito, que ultrapassa a mera soma de instituições e serviços de saúde, exige uma análise profunda das suas dimensões e das forças que moldam o cenário atual da saúde. Promover uma cultura de colaboração e garantir um apoio contínuo às parcerias estratégias são essenciais para o futuro do sistema de saúde em Portugal (2).
As questões relativas a ‘mais e melhor saúde e bem-estar’ constituem um dos mais importantes desafios para o século XXI, a nível nacional, a nível da União Europeia, quer mesmo globalmente, visto que o terceiro Objetivo da Agenda 2030 da ONU é, precisamente, ‘Garantir a vida saudável e promover o bem-estar para todas as idades’.
O perfil de saúde de Portugal de 2023, apresentado pela OCDE e pelo Observatório Europeu dos Sistemas e Políticas de Saúde, contribui para os ODS da Agenda 2030 da ONU. Há uma série de oportunidades emergentes para fortalecer as sinergias entre os diferentes setores e impulsionar a inovação nos cuidados de saúde em Portugal.
Promover colaborações de investigação entre unidades académicas e estabelecer parcerias com a indústria e a sociedade, focadas em missões de investigação, permite responder a problemas concretos. Avaliar resultados em saúde, melhorar a literacia em saúde e utilizar soluções de monitorização e transmissão de dados à distância permitem o controlo remoto da situação clínica dos doentes, por exemplo, no seu domicílio.
Exemplo desta dinâmica e da nova tendência de articulação de pontes e de esforços é a criação de uma nova Unidade de Investigação e Desenvolvimento na área da saúde, designada RISE-Health, que apresenta um marco significativo no panorama científico português. Com sede na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), esta unidade resulta da fusão de várias entidades de renome, incluindo o CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, a UnIC – Unidade de Investigação e Desenvolvimento Cardiovascular, o MedInUP – Centro de Investigação Farmacológica e Inovação Medicamentosa, sediado no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), e o CICS-UBI – Centro de Investigação em Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (UBI) (3). A fusão destas unidades de investigação visa incrementar a massa crítica e fomentar sinergias multidisciplinares e interdisciplinares, promovendo uma maior coesão científica e territorial em Portugal.
Este esforço visa otimizar os recursos existentes e potenciar a capacidade de resposta aos desafios científicos e sociais, especialmente nas áreas de saúde, que representam as principais causas de mortalidade e morbilidade no país (4). Esta diversidade de competências permitirá o desenvolvimento de soluções inovadoras e do conhecimento científico (6), maximizando a eficiência e complementaridade das atividades de investigação, refletindo uma abordagem moderna e eficaz para a coordenação de grandes projetos científicos (5).
O futuro do ecossistema de saúde comporta desafios e oportunidades. As alterações demográficas, o avanço tecnológico e a crescente procura de cuidados de saúde de qualidade moldam o panorama da saúde nas próximas décadas. A capacidade do sistema de saúde de se adaptar a essas mudanças será determinante no sucesso futuro. A construção de um ecossistema de saúde que seja resiliente, inovador e equitativo será fundamental para enfrentar os desafios emergentes e para aproveitar as oportunidades de melhoria contínua (1).
- Beck, M., Silva, R., & Martins, F. (2022). “Innovative Health Systems: The Role of Public-Private ” Journal of Health Economics and Management, 15(3), 189-205.
- Campos, António Correia de Reformas da saúde: o fio condutor. – Porto: Almedina, 2008
- Comunicado sobre a criação do RISE-Health. Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
- Costa Pereira, A., Leite Moreira, A., Soares da Silva, P., & Taborda Barata, L. (2024).
- Rodrigues, P. (2024). Discurso sobre a fusão das unidades de investigação. Universidade do Porto.
- Schmitt, F. (2024). Planeamento estratégico do RISE-Health. Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
- Silva, M. (2022). Telemedicina e Equidade no Acesso aos Cuidados de Saúde em Portugal. Saúde Digital, 14(1), 45-59.
- Simões, J., Augusto, G. F., Fronteira, I., & Hernández-Quevedo, C. Portugal: Health system review. Health Systems in Transition, (2017). 19(2), 1–184.
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