“Hoje, a escassez de antibióticos essenciais está chegar aos nossos países”, disse o pediatra Rémi Salomon, presidente da comissão médica dos Hospitais de Paris (AP-HP) na noite de quinta-feira, na rede social Twitter.
O principal antibiótico em falta é a amoxicilina, que é, de longe, o principal antibiótico prescrito para crianças em França para combater uma série de infeções bacterianas, como certas infeções do ouvido e pneumonias.
O medicamento está a passar por “fortes tensões de fornecimento” na sua forma mais usada em crianças, observou hoje a agência pública de medicamentos francesa (ANSM), sublinhando que esta é uma situação que pode durar até março.
Portanto, pode ser difícil encontrar esse tratamento nas farmácias, um fenómeno que está longe de ser exclusivo de França, pois afeta a maioria dos países europeus, os Estados Unidos e o Canadá.
O que está em causa, segundo as autoridades de saúde, é um aumento da procura, após vários anos marcados pela crise da covid-19 e múltiplas restrições sanitárias que reduziram a propagação de várias doenças.
“As reservas não estavam ao nível habitual” e “as linhas de produção devem ser reiniciadas”, defendeu a ANSM durante uma conferência de imprensa.
As autoridades francesas tomaram uma série de medidas de emergência, incluindo o racionamento, que limita a quantidade que cada farmácia pode encomendar. Também pediram aos médicos e pacientes que usem esses antibióticos apenas se necessário.
Este risco de escassez insere-se num contexto mais amplo em que as autoridades já foram obrigadas nos últimos meses a restringir o uso de determinados medicamentos.
O caso mais emblemático é o do paracetamol, um analgésico omnipresente. As autoridades recomendaram que os farmacêuticos não vendessem mais de duas caixas por paciente, apesar das garantias dos fabricantes de que não faltaria.
As preocupações com a escassez remontam à década anterior, ainda que a situação possa ter piorado no contexto da inflação e da eclosão das tensões geopolíticas com a guerra na Ucrânia.
“Desde 2008, as situações de escassez das reservas e tensões de abastecimento avançam de forma preocupante em França, mas também nos Estados Unidos e noutros países do mundo”, notava já em 2019 a empresa Leem, um ‘lobby’ francês do setor.
Neste contexto, as medidas anunciadas pelas autoridades francesas não convencem todos os observadores, com alguns a considerarem desadequado insistir tanto na responsabilidade de doentes e médicos.
O governo, por sua vez, destaca que já existem vários incentivos financeiros para os fabricantes de medicamentos encaminharem a sua produção para França. Também insiste no facto de que a lei apertou recentemente as obrigações dos fabricantes diante da escassez, determinando que têm que constituir reservas mínimas para determinados tratamentos.
Ainda assim, no caso da amoxicilina, algumas de cujas matérias-primas são produzidas fora da Europa, estas obrigações só poderiam “amortizar o choque”, nas palavras da ANSM.
“Não é suficiente, neste caso, para poder evitar o risco de rutura”, admitiu hoje a agência.
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