O trabalho, desenvolvido por investigadores de diversas instituições, entre elas a Faculdade de Motricidade Humana (Universidade de Lisboa), a Escola Superior de Desporto e Lazer de Melgaço, e as escolas superiores de educação de Lisboa, Coimbra e Bragança, analisou crianças de entre 3 e 6 anos de idade.
A investigação mostrou que, nestas idades, as crianças que vivem com irmãos em casa, independente da idade e do sexo, têm melhores valores de competência motora total, o que pode indicar “uma tendência para desenvolver melhor competência motora no futuro”.
“Independentemente da necessidade de mais esclarecimentos sobre esta matéria, é importante que as famílias e os diversos agentes que atuam com crianças tenham em consideração os possíveis efeitos que ser filho único pode ter sobre o desenvolvimento motor”, escrevem os autores.
A influência dos irmãos nos níveis de competência motora das crianças foi demonstrada com uma bateria de testes que analisa e avalia três grandes grupos de movimentos: estabilizadores ou posturais (saltos laterais, por exemplo), movimentos mais locomotores (salto em comprimento e corrida em vaivém) e movimentos mais manipuladores e de interação com objetos (arremessar ou pontapear uma bola).
Os investigadores lembram que “o número de famílias com filhos únicos tem aumentado constantemente nos últimos anos, resultando numa infância sem relacionamentos entre irmãos” e que diversos estudos já tinham relacionado a existência de irmãos mais velhos com mudanças positivas na atividade física dos irmãos mais novos ao longo do tempo.
O trabalho abrangeu 161 crianças (parte delas filhos únicos e mais de metade com irmãos) de nove turmas do pré-escolar de uma escola particular de Lisboa.
Os resultados mostraram uma “associação significativa e positiva” entre a condição de irmão e a distribuição entre os três grupos da escala de avaliação usada nos diversos exercícios, escrevem os investigadores, sublinhando: “as crianças que vivem na mesma casa com irmãos, independente da idade e sexo, apresentam uma tendência clara para desenvolver melhor a competência motora”.
Quando analisando todas as crianças, aquelas que têm irmãos apresentaram uma média de percentil superior para todos os exercícios incluídos na escala utilizada.
Os investigadores referem ainda que o facto de tal diferença (mesmo pequena) na competência motora total poder ser detetada nesta idade precoce, junto com a tendência de filhos com irmãos apresentarem valores médios mais elevados para todas as vertentes da avaliação, “pode ser indicativo de que compartilhar a família com irmãos pode ser vantajoso para o desenvolvimento da competência motora”.
Contudo, sublinham: “A mera presença de um irmão na casa não garante que a criança será mais competente a nível motor. São a estimulação [a que é sujeito], o ambiente enriquecido e o aumento de movimento que um irmão pode proporcionar que podem desempenhar esse papel”.
No enquadramento, os investigadores lembram que, em 2019, na UE-27, quase metade das famílias com filhos incluía apenas uma criança (47,4%), e que Portugal foi o país com a maior taxa de famílias com filhos únicos (58,3%).
Contudo, reconhecem que para este resultado contribuem diversas razões, entre elas o facto de as mulheres terem filhos mais tarde, a necessidade de a mãe continuar a trabalhar devido a questões financeiras e um aumento nas taxas de divórcio.
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