O Relatório Europeu sobre Drogas 2019: "Tendências e Evoluções", apresentado hoje, em Bruxelas, adianta que “estão a ser utilizadas novas substâncias para fabricar os produtos químicos necessários para a produção de drogas sintéticas”.
Tal, diz agência de controlo das drogas na União Europeia (EU), sediada em Lisboa, “destina-se a evitar a deteção, mas implica igualmente um processamento mais complexo (que pode criar resíduos perigosos adicionais), refletindo-se isto num aumento das apreensões de precursores alternativos, tanto para o fabrico de MDMA (ecstasy) como de anfetaminas e metanfetaminas, havendo igualmente a registar um aumento das apreensões de precursores químicos para o fabrico.
Em 2017, foram desmantelados 21 laboratórios de MDMA na UE, um aumento relativamente aos 11 desmantelados em 2016, todos nos Países Baixos.
Segundo o OEDT, foi comunicada a descarga nos esgotos de resíduos químicos na Bélgica, sugerindo a ocorrência de produção de MDMA. Os dados mais recentes demonstram que o teor de MDMA em comprimidos de ecstasy atingiu um máximo de 10 anos em 2017.
DE açodo com informações do Observatório, estima-se que 6,6 milhões de comprimidos de MDMA tenham sido apreendidos na UE em 2017, o número mais elevado desde 2007.
“A monitorização da informação de fonte aberta e da atividade da Internet obscura (‘darknet’) ilustra o importante papel que a Europa desempenha no fornecimento global de MDMA a nível mundial. Isto é também sugerido por apreensões em países vizinhos da UE. A Turquia apreendeu mais comprimidos de MDMA (8,6 milhões) e mais anfetaminas (6,6 toneladas) do que a totalidade dos estados-membros da UE no mesmo ano. Além disso, apreendeu um volume excecionalmente elevado (658 kg) de metanfetamina, próximo do total apreendido na UE (662 kg)”, explica o relatório.
Os dados apontam que a pureza da metanfetamina e da anfetamina é superior à que se registava há uma década, tendo sido apreendidas 0,7 toneladas de metanfetamina e 6,4 toneladas de anfetamina na UE em 2017.
A produção de metanfetamina concentra-se na República Checa e nas zonas fronteiriças dos países vizinhos, tendo-se também registado uma certa produção nos Países Baixos.
Os dados relativos às águas residuais, entre outros, sugerem que o consumo de metanfetamina, normalmente baixo e historicamente concentrado na República Checa e na Eslováquia, parece agora estar também presente em Chipre, no leste da Alemanha, em Espanha, na Finlândia e na Noruega.
No que diz respeito à anfetamina, em cidades com dados sobre as águas residuais relativos a 2017 e 2018, 21 das 38 cidades referiram um aumento nas deteções nos esgotos.
O Observatório Europeu aponta as “aplicações de saúde móvel, geolocalização e realidade virtual”, como “novas ferramentas para dar resposta ao problema da droga”.
“A utilização generalizada de dispositivos móveis significa hoje que os ‘aplicativos’ de saúde em linha (aplicações de saúde móvel) têm um grande potencial para expandir o alcance dos serviços de saúde relacionados com a droga”, sublinha.
De acordo com o relatório, novas soluções digitais deste tipo estão a ser cada vez mais utilizadas na prevenção, no tratamento e na redução de danos.
O documento apresenta uma série de aplicações de saúde móvel com diferentes objetivos principais, desde a divulgação de informação (por exemplo, acesso a serviços) a intervenções de apoio (por exemplo, diários de consumo de drogas) e recuperação (por exemplo, aplicações de autoajuda).
Um exemplo inovador é o recurso à geolocalização para ajudar pessoas que consomem drogas injetáveis a encontrar pontos de troca de agulhas e seringas. Também está a ser estudado o uso de tecnologias de realidade virtual (óculos de realidade virtual) para recriar ambientes relacionados com o consumo de drogas, com vista a induzir o desejo de consumir e ensinar os doentes a combater esse desejo.
Um grande número de aplicações de saúde móvel desenvolvidas na Europa centra-se na divulgação de informações sobre a redução de danos dirigidas aos jovens utilizadores, em particular aos que frequentam festas. Embora atualmente estejam disponíveis muitas aplicações de saúde móvel, um estudo recente do OEDT concluiu que muitas têm padrões de qualidade deficientes e suscitam preocupações relativamente à proteção de dados e à avaliação.
A presidente do Conselho de Administração do OEDT, Laura d’Arrigo, disse que o relatório deste ano “chega num momento crítico para a reflexão sobre a evolução da política em matéria de droga”.
Laura d’Arrigo, presidente do Conselho de Administração do EMCDDA, conclui: “O Relatório Europeu sobre Drogas de 2019 chega num momento crítico para a reflexão sobre a evolução da política mesta matéria, uma vez que no próximo ano se procederá à avaliação final da estratégia da UE em matéria de droga (2013–20).
A dirigente sublinha que, “durante este período, a Europa enfrentou algumas mudanças dramáticas no fenómeno da droga, incluindo o surgimento de uma série de substâncias não controladas”.
“A compreensão dos atuais problemas relacionados com a droga permite-nos preparar-nos para desafios futuros nesta área complexa e em rápida mutação. É por esta razão que o papel desempenhado pelo OEDT através da apresentação de análises baseadas em evidência da situação atual da droga na Europa é tão crucial”, concluiu.
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