O prémio, apresentado como o maior do mundo no campo da visão, foi distribuído pela Fundação Champalimaud, que o promove, ao Instituto da Visão – IPEPO, à Fundação Altino Ventura e ao Serviço de Oftalmologia do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas.
Em 2019, por ser ano ímpar, o prémio reconhece o trabalho feito no terreno por instituições na prevenção e no combate à cegueira e a doenças oftalmológicas em países em vias de desenvolvimento. Em anos pares, o galardão distingue a investigação científica na área da visão.
Para o presidente do Instituto Visão – IPEPO, Rubens Belfort Jr., o prémio significa “uma grande responsabilidade” para continuar a “investir adequadamente” na prevenção da cegueira e nos cuidados médicos oftalmológicos das “populações mais pobres”.
Na região da Amazónia, equipas do IPEPO fazem nas escolas o rastreio de alterações na visão das crianças, como a miopia, e distribuem gratuitamente óculos a quem vê mal, crianças e adultos.
“É um exemplo de uma coisa simples e barata, mas extremamente necessária para mudar a vida das pessoas”, afirmou à Lusa Rubens Belfort Jr., assinalando que a “causa principal” da falta de visão e cegueira na Amazónia “é a falta de óculos”.
Os médicos do instituto, que tem a sede em São Paulo, trabalham próximo das populações, mas também fazem diagnósticos através da telemedicina, selecionando doentes para cirurgias de tratamento de cataratas, glaucoma e retinopatia diabética, que podem levar à cegueira.
A Fundação Altino Ventura, criada em 1986 e que agrega quatro gerações de oftalmologistas de duas famílias brasileiras, presta assistência a doentes com fracos recursos através das suas unidades clínicas e cirúrgicas móveis no estado de Pernambuco.
Para o presidente e cofundador da fundação, Marcelo Carvalho Ventura, o Prémio Champalimaud de Visão permitirá ampliar a intervenção da “Menina dos Olhos”, o Centro Especializado em Reabilitação, com equipamentos de hidroterapia.
Segundo Marcelo Carvalho Ventura, muitos doentes com patologias oculares “têm muitos problemas motores e sensoriais” e a “água ajuda na recuperação”.
Os doentes que são acompanhados pela fundação fazem não só a sua reabilitação visual, mas, quando necessário, também motora e física, sublinhou o médico, em declarações à Lusa.
Às pessoas que precisam de óculos para ver, mas que não têm dinheiro para os comprar, o Serviço de Oftalmologia do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, no estado de São Paulo, igualmente distinguido com o Prémio Champalimaud de Visão, cede-lhes os óculos gratuitamente.
No caso de pessoas com cataratas, mas que têm dificuldade em ir ao hospital, são os médicos que vão ter com elas para dar a devida assistência.
O oftalmologista Carlos Arieta, do Serviço de Oftalmologia do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, adiantou à Lusa que “as pessoas que precisam de cirurgia ficam com a cirurgia agendada” e as que necessitam de “tratamento imediato” recebem esse tratamento.
Em paralelo com este trabalho, o chamado “zona livre de cataratas”, a universidade, que dispõe de vários hospitais associados à Faculdade de Ciências Médicas, tem equipas médicas a fazerem o rastreio de doenças oculares ou perturbações na visão em crianças com 6 e 7 anos.
As equipas de especialistas realizam também “cirurgias complexas e delicadas”, por exemplo a doentes com glaucoma ou que necessitam de um transplante de córnea. Tudo a custo zero para os doentes.
A ideia, de acordo com Carlos Arieta, “é eliminar as barreiras no acesso à saúde ocular”. O dinheiro do Prémio Champalimaud de Visão será aplicado na elaboração do projeto de arquitetura de um novo edifício para atender mais pessoas.
O Prémio Champalimaud de Visão foi lançado em 2006 em homenagem ao industrial português António Champalimaud (1918-2004), mentor da Fundação Champalimaud e que ficou cego numa fase avançada da sua vida.
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