No início do ano, com a pandemia no horizonte, as notícias chamavam a atenção para o relatório do Observatório Nacional de Doenças Respiratórias, no qual se refere que, em 2016/2017, se registaram cerca de 400 mortes/mês e 80 internamentos hospitalares por dia, por pneumonia, atingindo com maior gravidade a população idosa. No final de fevereiro, o boletim do INE apontava para a ocorrência de quase 5800 mortes por pneumonia em 2018, 5,1% do total, sendo esta infeção a terceira causa de morte, em Portugal.
Estes dados dão uma ideia da importância da doença na sociedade, mas importa ter presente que a pneumonia pode assumir gravidades diferentes, sendo em muitos casos tratável sem internamento.
Como é sabido, a pneumonia é, genericamente, uma infeção aguda a nível dos pulmões. Pode ser causada por diversos tipos de agentes, sendo os mais frequentes as bactérias, principalmente pneumococo, e os vírus, como o vírus da gripe e o novo coronavírus. Outros tipos de microrganismos, como micoplasma, Legionella, ou fungos, podem também causar pneumonia.
Na ausência de contextos excecionais, como a atual pandemia, os casos de pneumonia apresentam uma variação sazonal nítida, com aumento no inverno. Os sintomas mais frequentes são febre, por vezes alta, tosse seca ou com expetoração, dor torácica e dificuldade respiratória. Embora possam levantar suspeitas, não existem sintomas que por si só impliquem a presença de um determinado agente. Apenas com base nos sintomas, uma pneumonia por coronavírus pode ser indistinguível de outra por pneumococo, por exemplo. Só a avaliação clínica e a os exames de diagnóstico podem permitir afirmar qual o agente causal da pneumonia.
A gravidade também não se relaciona linearmente com o agente responsável, uma vez que todos os agentes podem provocar pneumonias mais graves ou menos graves. Fatores relacionados com o doente e com o seu estado imunitário, determinado pela idade e por doenças que deprimem a imunidade, são dos que mais aumentam o risco de pneumonia e a sua gravidade.
Sendo uma infeção respiratória, a pneumonia pode transmitir-se entre uma pessoa doente e outra suscetível, através das gotículas de saliva emitidas pela fala, pela tosse ou pelo espirro. Por isso, as principais medidas para prevenir a transmissão, hoje bem conhecidas, são o distanciamento social, a etiqueta respiratória e a higiene das mãos e das superfícies.
Na base da prevenção está também a vacinação. Existem vacinas de eficácia e segurança demonstradas, nomeadamente contra pneumococo e contra a gripe. A primeira está indicada em pessoas com mais de 65 anos e naquelas com doença respiratória ou cardíaca crónicas, diabetes ou deficiências imunitárias. A segunda tem indicações mais alargadas e deve administrar-se anualmente.
A disseminação do uso dos antibióticos, a partir da década de 1940, melhorou muito os resultados da terapêutica da pneumonia e reduziu radicalmente a sua mortalidade. Hoje em dia, existem antibióticos eficazes contra as bactérias que provocam pneumonia. No entanto, o seu uso desregrado levou ao aumento da resistência em vários microrganismos, incluindo pneumococo. Para que este fenómeno não conduza a uma situação na qual os antibióticos deixem de ser eficazes, estes medicamentos têm que ser utilizados de forma sensata, nas situações para as quais estão indicados.
Um artigo do médico Paulo André Fernandes, especialista em Medicina Intensiva e Diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Barreiro Montijo. Foi Diretor do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), na Direção-Geral da Saúde.
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