Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP, no Brasil, mostra que os homens associam o cancro da próstata à perda da virilidade e da identidade masculina, o que gera grande sofrimento emocional e familiar.
O trabalho aponta que as campanhas sobre saúde masculina, além de informarem o público e incentivarem o diagnóstico precoce, devem evidenciar as possibilidades de tratamento e cura.
O estudo foi realizado pela psicóloga Ana Cristina Almeida Vieira, com orientação do professor Marcos Francisco Dall'Oglio.
Prostatectomia Participaram da pesquisa 52 pacientes com diagnóstico de adenocarcinoma de próstata (cancro da próstata) e encaminhados para tratamento cirúrgico (prostatectomia radical).
"Os pacientes foram avaliados antes do evento cirúrgico e após no mínimo seis meses da realização de cirurgia. Foram submetidos a entrevista psicológica dirigida e escala SF-36(Short-Form Health Survey)", afirma a psicóloga. "As entrevistas procuraram verificar as representações e fantasias relacionadas à saúde e à doença, vida afectivo-relacional e vida sexual."
A média de idade dos homens pesquisados era de 66 anos. O mais novo tinha 43 anos e o mais velho 77. "Entre os pacientes, 94% declararam ter uma vida sexual activa", ressalta Ana Vieira. "O cancro é associado à disfunção eréctil e a cirurgia é vista como um obstáculo para a vida sexual".
Informações sobre o cancro da próstata Antes da cirurgia, o estudo verificou que há muita desinformação sobre o cancro da próstata, o que é agravado pelo facto de a doença ser assintomática na fase inicial.
O diagnóstico leva a um sofrimento emocional importante, com dificuldades para manter um relacionamento afectivo e sexual, vida profissional e outras actividades quotidianas.
"Há um grande temor entre os homens da perda de sua identidade masculina e da própria vida", ressalta a investigadora. "Poucos pacientes têm informações sobre os recursos para tratar o cancro da próstata e as sequelas decorrentes do próprio tratamento, como eventuais problemas na função eréctil."
Qualidade de vida A avaliação da qualidade de vida realizada por intermédio da escala SF-36 não detectou diferença significativa em relação à época do diagnóstico. "Porém, a entrevista psicológica sinalizou que a qualidade de vida altera-se desde o momento do diagnóstico e que as mudanças relacionam-se com questões do género masculino", conta a psicóloga.
Durante a pesquisa, verificou-se que 60% dos pacientes já apresentavam disfunção eréctil antes do diagnóstico de cancro da próstata. "Mesmo assim, eles não apresentavam queixas significativas dos efeitos na sua vida sexual", afirma Ana Vieira.
Exame de toque De acordo com a psicóloga, os resultados da pesquisa comprovam o que já era observado no atendimento dos pacientes com cancro da próstata. "As conclusões do estudo reforçam a necessidade de um atendimento multidisciplinar que permita o diagnóstico e o tratamento precoce, o que aumenta as oportunidades de cura", aponta.
"Além dos aspectos informativos, qualquer abordagem sobre saúde masculina e cancro da próstata deve considerar questões de género, ou seja, as representações do masculino constitutivas da identidade masculina", acrescenta Ana Vieira.
A psicóloga lembra que o cancro da próstata é a quarta causa de morte de homens com mais de 50 anos no Brasil. "Isso deve-se ao facto de muitas pessoas não procurarem efectuar um diagnóstico, por receio de se submeter ao exame de toque."
Fonte: Diário da Saúde
2010-06-15
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