A organizar o Clinical Escape Game está a nobox. A Sofia Pereira quer, sucintamente, apresentar-nos esta empresa?
Sim. A nobox é uma empresa que tem como principal objetivo apoiar as equipas de saúde a imaginarem e construírem cuidados mais humanos e eficazes. A nossa equipa é composta por profissionais de saúde e especialistas em inovação e gestão de mudança, que combinam estas áreas de conhecimento de forma a traduzir os conteúdos e modelos de inovação e gestão de pessoas, especificamente para a realidade da saúde, com um conhecimento profundo das diferentes realidades, dificuldades e oportunidades de cada contexto (internamento, urgência, consulta ou outros).
A mudança não se impõe externamente, sem envolvimento de quem está nas equipas e organizações, pelo que acreditamos que a construção do futuro da saúde deve ser liderada pelos profissionais e equipas de saúde, em colaboração com os doentes e comunidade. Por isso, procuramos ser o parceiro das equipas e organizações de saúde na facilitação, criação e implementação de projetos de inovação e melhoria dos cuidados de saúde.
Prestam um conjunto de serviços na área da saúde. A criação destes jogos decorre de uma carência formativa que identificaram no mercado?
Sem dúvida. Um profissional de saúde tem uma necessidade de formação contínua, para consolidação ou aquisição de novos conhecimentos e treino de competências clínicas. Para além disso, as próprias equipas necessitam de treinar as suas competências comportamentais, tais como trabalho em equipa, gestão de conflitos, comunicação eficiente, entre outros.
No entanto, a maior parte dos eventos formativos ainda recorre a métodos pedagógicos tradicionais, muito expositivos e com pouco envolvimento dos participantes, penalizando a aquisição e retenção de conhecimento. O recurso a metodologias de gamificação permite colmatar estas lacunas, criando-se um ambiente descontraído, mas desafiante, onde aprender se torna divertido.
O Clinical Escape Game oferece uma formação imersiva aos profissionais de saúde, em que os seus conhecimentos clínicos são postos à prova num ambiente que recria as suas dificuldades do dia a dia, com objetivos de aprendizagem bem definidos, que são posteriormente discutidos e reforçados num momento de discussão em pequenos grupos, após a realização do jogo. Este produto distancia-se do típico momento de “sala de aula”, permitindo o envolvimento de todos os participantes de forma ativa e divertida.
Em síntese, como estão a aplicar o ambiente que conhecemos de escape rooms à área médica? Que desafios são colocados no Clinical Escape Games e quais os objetivos que perseguem?
O conceito base do Clinical Escape Game é o mesmo do escape game “tradicional”: uma equipa, um espaço fechado e tempo limitado para poder sair. A grande diferença é que no Clinical Escape Game o grande propósito é encontrar a solução certa para o doente, com enigmas e desafios construídos de forma a dependerem de decisões clínicas e de um efetivo trabalho colaborativo entre os profissionais.
Cada versão do Clinical Escape Game é construída de forma personalizada, focando-se na jornada de um doente e na intervenção dos profissionais de saúde na gestão dessa doença específica. Assim, o primeiro passo quando construirmos um novo Clinical Escape Game é definir os objetivos de aprendizagem, tanto clínicos como comportamentais. Esta definição permite-nos construir um caso clínico adequado e adaptar o jogo e história aos objetivos pretendidos.
No fundo, as equipas clínicas só conseguirão sair deste escape game se conseguirem ajudar ou tratar o doente a tempo.
Qual é o perfil dos profissionais de saúde que vos procuram?
O Clinical Escape Game é sempre adaptado especificamente para o público-alvo, pelo que já tivemos um pouco de tudo, desde diretores de serviço a internos ou até versões multiprofissionais, com enigmas que exigem a colaboração entre diferentes profissões e especialidades. No fundo, somos procurados pelos profissionais e organizações que procuram novos métodos pedagógicos com maior impacto na retenção do conhecimento.
Na apresentação que é feita do vosso projeto é-nos transmitido que o mesmo “está a ser utilizado para melhorar a performance de equipas médicas”. Que resposta receberam até ao momento dos vossos clientes?
O feedback que temos recebido por parte dos colegas que participam tem sido muito positivo. A avaliação feita permite-nos perceber que as equipas valorizam a oportunidade de analisar as suas lacunas clínicas de forma intimista e segura, em pequenos grupos e com o apoio de especialistas na área de conhecimento. Para além disso, gostam da experiência de jogo em equipa e do paralelismo com a sua realidade, mas num espaço divertido.
Para além disso, a produção científica com foco na gamificação como ferramenta da Educação Médica tem aumentado tanto em quantidade como em qualidade. Nesse sentido, apoiámos uma tese de mestrado para avaliar a perceção dos participantes no Clinical Escape Game, versando principalmente sobre ganho de conhecimento clínico e de competências comportamentais pelos profissionais de saúde, com resultados muito positivos, e que aguarda agora publicação para breve.
Ainda este ano iremos implementar um novo estudo com foco no impacto que a participação no Clinical Escape Game tem na aprendizagem clínica dos participantes, a curto e médio-longo prazo.
Têm acordos com instituições ligadas à saúde ou ao ensino da mesma no nosso país?
Este modelo formativo pode ser instalado em qualquer lugar, pelo que já trabalhamos com várias organizações de saúde, em particular com Sociedades Médicas, estando presentes em inúmeros congressos nacionais.
Os jogos que criaram são adaptáveis a diferentes contextos, ou seja, suscetíveis de serem utilizados numa multiplicidade de eventos? Como?
A adaptabilidade do Clinical Escape Game é uma das suas grandes vantagens, podendo ser adaptado para qualquer tema ou área terapêutica e podendo ser instalado e dinamizado em qualquer lugar, podendo adaptar-se sempre ao formato dos eventos formativos em saúde. No limite, tudo o que precisamos é uma sala, sendo que todos os objetos que lá existem podem ser organizados por nós.
Sendo o nosso foco a jornada do doente, tentamos trazer as equipas de saúde para o espaço do doente, a sua casa, o seu quarto. Pelo que qualquer quarto de hotel ou de uma casa pode ser facilmente decorado para encaixar na história do doente. Temos o conceito de colocar todos os materiais de uma sala numa só mala de viagem… por vezes conseguimos, outras vezes vamos de malas e bagagens.
Há quem tenha um olhar crítico em relação à gamificação da aprendizagem. O que têm a dizer de abonatório em relação a esta gamificação?
Nós percebemos de onde vem esse “olhar crítico” ou resistência. Infelizmente, é fácil que na construção de uma experiência gamificada se priorize a parte lúdica e de diversão e se deixe para segundo plano a componente formativa e os objetivos de aprendizagem.
Por isso mesmo, o nosso processo de construção dos escape games começa sempre, sempre, pela definição dos objetivos concretos de aprendizagem, definindo os aspetos clínicos que queremos que os participantes adquiram no final da experiência.
Para além disso, também não realizamos nenhum clinical escape game sem um momento de debrief e discussão posterior, onde analisamos em conjunto com os participantes o que fizeram, o que deveriam ter feito e o que levam da experiência, reforçando os objetivos de aprendizagem definidos.
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik
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