"Para os não vacinados, quero muito irritá-los. E vamos continuar a fazer isso, até ao fim. Essa é a estratégia", reconheceu Macron em entrevista ao jornal Le Parisien publicada na terça-feira.
O presidente liberal usou em francês o verbo "emmerder", um termo coloquial incomum para um chefe de Estado e que pode ser traduzido por "incomodar", "irritar" ou "complicar a vida".
Assuas declarações desencadearam uma tempestade na classe política, da esquerda radical à extrema direita, e alimentaram a sua imagem de arrogante.
Contribuíram também para suspender novamente o debate na Assembleia Nacional, onde o governo tem maioria, sobre a aprovação de um passaporte de vacinação em substituição do atual passe de saúde.
O executivo quer que a nova medida seja aplicada nas próximas semanas no país, imerso numa severa quinta onda, com 271.686 novos casos registados em 24 horas na terça-feira.
Se aprovada, os maiores de 12 anos sem vacinação não poderão ir a restaurantes, museus, academias, cinemas ou utilizar certos transportes, mesmo que apresentem teste de diagnóstico negativo de menos de 24 horas.
"Não cabe ao presidente da República escolher entre os bons e os maus franceses", comentou na CNews a candidata do partido de direita "Os Republicanos", Valérie Pécresse.
Pécresse, apontada em algumas pesquisas como a vencedora da eleição presidencial contra o atual presidente, também pediu aos franceses que "acabem com o mandato do menosprezo".
Os representantes da estrema-direita, bem posicionados nas pesquisas, não hesitaram em atacar a "violência", nas palavras de Marine Le Pen, do presidente, que busca "existir na campanha", segundo outro aspirante a presidente, Éric Zemmour.
A candidata socialista, a prefeita de Paris Anne Hidalgo, e o comunista Fabien Roussel questionaram a sua vontade de "unir" os franceses. O esquerdista Jean-Luc Mélenchon denunciou uma "confissão alucinante de Macron".
Desde que assumiu o poder em 2017, este ex-banqueiro e ex-ministro de 44 anos tentou apagar a sua imagem de político insolente próximo às elites, embora o seu mandato seja salpicado de frases polémicas.
Em entrevista concedida em dezembro, o presidente justificou essas polémicas por sua "vontade de sacudir" o sistema, como quando garantiu que nas "estações de comboio se encontra gente que fez sucesso e gente que não é nada".
As suas declarações polémicas sobre os pobres ou desempregados também serviram de catalisador durante as manifestações dos "coletes amarelos" entre 2018 e 2019 após um aumento no preço do combustível, mas que acabou por se tornar um movimento de protesto muito mais amplo.
O cientista político Jérôme Fourquet comentou na rádio France Info sobre as últimas declarações que "uma parte das pessoas não vacinadas pode considerar como uma espécie de provocação ou como uma declaração de guerra".
Ao Le Parisien, Macron explicou que mais de 90% dos franceses já foram vacinados, mas que ainda existe uma minoria contra. "Como reduzimos essa minoria? Reduzimos, desculpe dizê-lo, incomodando ainda mais", acrescentou.
O presidente francês pretende conter o novo pico de infeções antes de confirmar a sua candidatura à reeleição, algo que o seu círculo, como o ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, considera certo, mas que o chefe de Estado reluta em anunciar.
O seu antecessor no cargo, o socialista François Hollande, desistiu em 2017 de disputar um segundo mandato, num contexto de baixíssima popularidade. Hollande chegou ao Eliseu em 2012 depois de derrotar o presidente cessante, o conservador Nicolas Sarkozy.
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