Existem diferentes tipos de miomas?

Existem diferentes tipos de miomas e classificam-se consoante a sua localização. Em termos de localização, os miomas podem ser intramurais (crescem na parede do útero e são os mais frequentes), subserosos (crescem na parede exterior do útero) ou submucosos (localizam-se na cavidade uterina/endométrio e tendem a provocar mais perdas de sangue) e a sua gravidade caracteriza-se pelo seu número, tamanho e localização.

O tratamento é variável?

Em relação ao tipo de tratamento é individualizado, dirigido à mulher, ao desejo de fertilidade, à gravidade da sintomatologia, ao tipo, tamanho e localização dos miomas.

O tratamento vai desde a não intervenção e vigilância por não haver sintomas, ao tratamento farmacológico ao dispor para controlo da sintomatologia até à intervenção cirúrgica mais conservadora ou definitiva.

O papel do tratamento farmacológico tem ganho desenvolvimento nos últimos anos através de recurso a terapêutica hormonal ou não. Os objetivos da terapêutica médica, passaram a incluir, não apenas, o controlo dos sintomas, mas até mesmo a redução dos miomas.

Pode recorrer-se a antifibrinolíticos, anti-inflamatórios não esteroides, venotrópicos, progestativos e estroprogestativos, inibidores da aromatase, análogos da GnRH, moduladores seletivos dos recetores da progesterona e inibidores hipofisários.

O tratamento cirúrgico foi durante muito tempo o tratamento de eleição para os miomas uterinos, que continua a ser uma das principais indicações para retirar o útero (histerectomia).

A histerectomia é neste contexto o tratamento com maior eficácia, sobretudo a longo prazo, mas a miomectomia é, em casos específicos, uma abordagem terapêutica não só possível, mas até a mais indicada, seja por laparoscopia, laparotomia (via abdominal clássica) ou via vaginal.

A embolização das artérias uterinas, a sua laqueação e outros tratamentos como a miólise constituem alternativas terapêuticas a considerar, embora com indicações muito precisas e estritas, e ainda controversas.

O que são miomas uterinos?

Os miomas uterinos são os tumores pélvicos mais frequentes, afetando entre 60 a 70% da população feminina no geral e entre 25 a 40% das mulheres em idade reprodutiva.

O tamanho e localização destes tumores benignos podem interferir na capacidade reprodutiva da mulher, provocando hemorragias na gravidez, abortos de repetição e problemas durante o parto.

Os miomas uterinos são tumores benignos que se desenvolvem a partir da camada muscular do útero (miométrio) e, conforme a sua localização, classificam-se em submucosos, intramurais e subserosos. Os sintomas mais frequentes incluem hemorragia, dor e problemas reprodutivos.

Os miomas uterinos podem trazer complicações na capacidade de engravidar e durante a gestação.

Como surgem os miomas uterinos? 

Os miomas uterinos aparecem sem motivo aparente. As causas são multifatoriais, vão desde fatores genéticos, fatores hormonais e de crescimento. O ambiente hormonal é muito importante no seu desenvolvimento, já que após a menopausa param de crescer e começam a reduzir as suas dimensões.

Não existindo medidas comprovadamente eficazes para prevenir o desenvolvimento de miomas uterinos, que parece uma predisposição já inerente, existem alguns fatores de risco descritos como a idade, idade precoce da primeira menstruação, ter mãe ou irmã com o mesmo problema, raça negra, obesidade, hipertensão arterial, alimentação (carnes vermelhas, álcool, cafeína) e nunca ter tido filhos. 

Quais são os sinais a que as mulheres devem estar atentas?

Os miomas uterinos são maioritariamente assintomáticos. No entanto, podem ter sinais e sintomas que vão depender do seu tamanho e da sua localização e que podem de algum modo afetar a qualidade de vida das mulheres.

Os sintomas mais frequentes são a hemorragia uterina anormal e excessiva, com menstruações muito abundantes e prolongadas, podendo originar anemia. Também podem originar sintomas de compressão pélvica pelo tamanho dos miomas e dor pélvica.

A hemorragia uterina anómala e excessiva é o sintoma mais frequente, principalmente sob a forma de hemorragia menstrual abundante. É a sua localização e as suas dimensões que vão determinar o grau da hemorragia, que ocorre pelo aumento da superfície endometrial que sangra, maior vascularização do útero e por não permitir a normal contractilidade vascular e uterina.

Irina Ramilo é médica
Irina Ramilo, médica ginecologista créditos: Rute Raposo

De que forma é que os miomas uterinos condicionam a qualidade de vida das mulheres?

Qualquer mulher perante uma patologia ginecológica pode ter repercussões físicas e psicológicas. Em particular, no caso dos miomas uterinos como a sua expressão clínica pode ser muito variada pode também ter influência ou consequências muito díspares.

Maioritariamente sem consequências porque a maioria são assintomáticos, mas, em termos físicos, podem diminuir drasticamente a qualidade de vida da mulher por hemorragia profusa ou dor intensa e implicar decisões médicas rápidas, em termos de controlo da sintomatologia.

Em termos psicológicos, traz muitas incertezas e humor depressivo face à dificuldade de resolução de sintomas, o risco de retirar o útero e pode pôr em questão e em dúvida a repercussão futura na fertilidade da mulher e do casal.

 De que modo é que a campanha “WTF: Mulheres que falam de miomas” pretende ajudar as mulheres que sofrem com este problema?

A campanha “WTF: Mulheres que falam de miomas” tem como principal objetivo aumentar a consciencialização das Mulheres sobre os Miomas Uterinos, ou seja, garantir que as mulheres têm informação credível, correta e necessária para ajudar na identificação da doença, que tem elevada prevalência.

“Silêncio” é o mote da campanha, que visa alertar para o fator mais comum entre as mulheres que sofrem de miomas uterinos – o sofrimento em silêncio.

Para muitas mulheres é difícil falar sobre aspetos da saúde da mulher como os Miomas Uterinos, então outro objetivo importante é empoderar as mulheres para falar com seu médico.

Irina Ramilo é médica e assistente hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Vila Franca de Xira e do Centro Especializado de Endometriose do Hospital Lusíadas em Lisboa. É autora da página @aginecologistadamelhoramiga.

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